Atitudes na política

É mais ‘sonora’ e mais ‘fácil’ uma oposição ‘bota-abaixo’ do que uma atitude de estudo e ponderação de uma oposição construtiva

Muito se falou sobre o sentido do voto do PSD em relação ao Orçamento do Estado para 2020, nomeadamente sobre o anúncio do voto contra o orçamento ainda antes de o mesmo ser conhecido. Este episódio deve merecer análise sobre a forma de estar e fazer política, bem como sobre a atitude  que devem ter os protagonistas políticos perante as propostas dos seus adversários antes e, até mesmo, depois de serem apresentadas.

Se um determinado partido se coloca em oposição a toda e qualquer proposta dos seus adversários, então o papel dos seus representantes é reduzido a votar contra todas as iniciativas que não sejam as suas independentemente de serem ou não razoáveis. No limite (e infelizmente por vezes sucede), podem até votar contra aquilo que defendem apenas por ser proposto por um adversário.

As pessoas estão cansadas de observar os adversários políticos a consumirem-se em discussões estéreis sem que os seus problemas sejam resolvidos, tal como estão saturadas de verificar a mudança de todas as políticas sempre que os governos mudam. O país, muito por culpa dos protagonistas políticos, não tem uma estratégia nem um rumo que resista às mudanças políticas.

A tendência para a radicalização a que se assiste no mundo parece contagiar os políticos. Em Portugal, a recente evolução no espectro partidário deveria ser motivo para reflexão sobre a incapacidade de os partidos ditos tradicionais responderem aos anseios dos eleitores. Dito de outro modo, o sucesso eleitoral dos novos partidos corresponde ao insucesso dos partidos tradicionais resolverem os problemas que persistem em Portugal.

A afirmação de alguns novos partidos assentou na radicalização de posições. A resposta aos extremismos tem de se afirmar na capacidade de dar respostas numa base de ponderação, com responsabilidade e sem maniqueísmo.

A afirmação na política, nomeadamente através da comunicação social e das redes sociais, parece ser mais eficaz através de uma atitude agressiva e da crítica sistemática. É mais fácil e apelativo afirmar ser contra do que explicar porquê e ainda mais do que expor uma análise sobre um determinado assunto. É mais ‘sonora’ e mais ‘fácil’ uma oposição ‘bota-abaixo’ do que uma atitude de estudo e ponderação e uma oposição construtiva.

Os políticos e os partidos devem afirmar e defender as suas posições, mas também devem ter a capacidade e a humildade de construir soluções numa base alargada que contribuam para o desenvolvimento sustentável do país.

As pessoas esperam dos políticos uma atitude responsável com a capacidade de analisar as propostas dos adversários pelo mérito do seu conteúdo e não pela autoria. Cabe aos políticos resistirem à tentação da superficialidade e do imediatismo, exigindo, para isso, mais tempo e mais trabalho.

Uma política credível e construtiva exige políticos com qualidade, capazes de liderar pelo exemplo e responsabilidade e que resistam a respostas fáceis e a afirmações populistas. As pessoas esperam dos políticos não o caminho mais fácil, mas o melhor caminho.