Alcochete. Jesus agredido a soco e com cinto: “Parecia um filme de terror”

Treinador foi hoje ouvido pelo tribunal através de videoconferência e contou que foi Bruno de Carvalho quem mandou mudar a hora do treino

Jorge Jesus, treinador do Sporting na altura do ataque à Academia de Alcochete, foi hoje ouvido por videoconferência no Tribunal de Monsanto, tendo revelado que quatro invasores  não tinham a cara tapada – entre os quais Aleluia e Fernando Mendes. E afirmou ainda que foi agredido com socos e um cinto verde. Para além disso, o atual técnico do Flamengo descreveu o ataque como um autêntico “filme de terror”.

Depois de Rui Patrício, antigo guarda-redes dos leões, e Márcio Sampaio, recuperador físico, terem sido ouvidos na segunda-feira, hoje foi a vez de Jorge Jesus ser ouvido, tendo contado ao coletivo de juízes  que o grupo de agressores o interpelou primeiro em campo: “Eram mais de 30, isso tenho a certeza que eram. Parecia a marcha de corrida de um pelotão de guerra, a dizer ‘A gente quer é os jogadores’; e aí começaram a correr”, disse, citado pelo Observador. Segundo a versão do treinador, dirigiram-se de seguida para os balneários. E Jorge Jesus não hesitou em identificar Fernando Mendes, um dos arguidos do processo e antigo líder da claque Juventude Leonina. “Quando chego à entrada do vestuário vejo quatro sem nada no rosto, os outros já lá estavam dentro. Era aí que estava o [Fernando] Mendes”, relata o técnico. 

Para além de Fernando Mendes, Jorge Jesus conseguiu identificar, com a ajuda de William Carvalho, que um dos outros quatro elementos era Aleluia, membro da claque. Os outros dois eram jovens, mas Jesus não  conseguiu perceber quem eram ao certo, apesar de terem o rosto destapado.

O na altura treinador do Sporting relatou ao coletivo de juízes que no caminho para o balneário interpelou Fernando Mendes, que ficara para trás, pedindo-lhe que travasse os restantes atacantes, mas este ter-lhe-á dito que não podia fazer nada.  

De seguida, Jorge Jesus entrou na ala profissional do Sporting que estava cheia de fumo e foi agredido com um cinto com um soco nas costas. Mais tarde, quando os invasores começavam a sair, o técnico foi novamente agredido com um soco na cara, ficando a sangrar do nariz. Apesar de os agressores terem a cara tapada, Jorge Jesus disse que o autor do soco “devia ter uns 23 ou 24 anos”.

O ataque foi algo bastante rápido, pelo que nenhum dos agredidos teve tempo de reação e muitos jogadores ficaram sem perceber o que tinha acontecido. “Não houve tempo para nada, aquilo foi instantâneo, cinco minutos. Foi entrar e bater… Aquilo parecia um filme de terror”, frisou o treinador segundo avançou o Correio da Manhã.

Concluído o ataque, Bruno de Carvalho chegou à Academia, pedindo a Jorge Jesus para falar com os jogadores. O treinador disse ao então presidente que não havia condições para tal, que os jogadores não queriam falar com ele.

 

Presidente mudou a hora do treino. Mendes avisou

Após a derrota com o Marítimo no Funchal, a equipa foi interpelada por Fernando Mendes e um colega no aeroporto, sendo feitas várias ofensas aos jogadores. O técnico, juntamente com William Carvalho, tentou acalmar o antigo líder da Juve Leo e, perante isso, este afirmou: “No primeiro dia de treino vamos estar lá”. Esta frase seria dirigida para Acuña, que o teria ofendido na troca de palavras. Recorde-se que o jogador argentino já tinha estado envolvido em trocas de palavras mais duras com a claque após o apito final do jogo no Funchal.

Além disso, o treinador contou que logo a seguir ao jogo fez a programação de treinos com  Vasco Fernandes, secretário técnico, marcando o primeiro treino para terça-feira de manhã. Mas uma reunião com os elementos da direção e da equipa técnica, que tem sido amplamente referida pelas testemunhas neste julgamento, viria a mudar tal hora.

“Pensávamos que íamos ser todos despedidos. Só o presidente é que falou. […] A primeira intervenção foi que tinha chegado ao fim da linha. Foram apresentados os argumentos dele e eu nunca respondi. Nessa conversa disse para estar preparado porque os advogados iam fazer uma nota de culpa mas não sabia quanto tempo iam demorar. Para eu estar à espera. Eu disse que o treino estava de manhã e ele mandou que o passasse para a tarde porque não tinha tempo para fazer a nota de culpa. E disse que se não aparecesse até ao meio dia, para ir dar normalmente o treino”, descreveu o técnico em tribunal.

 

Rúben Ribeiro não foi notificado

Para além do treinador, estava previsto que durante o dia de hoje fosse ouvido Rúben Ribeiro, atleta que pertencia aos quadros do clube de Alvalade na altura do ataque, no entanto o mesmo não compareceu e, segundo o Gil Vicente, clube que agora representa, o mesmo não foi notificado para comparecer em tribunal. Durante o dia de hoje será marcada uma nova data para a sua inquirição.