A certa altura as pessoas querem mudar, experimentar novas receitas, ver outras caras – e aí, por mais que um Governo faça, por melhor que governe, está irremediavelmente condenado.
Assim acontecerá com este Governo de António Costa.
Não se sabe quando – mas é muito provável que dentro de dois anos comece a dar sinais de esgotamento.
É neste quadro que devem ser encaradas as eleições para a liderança do PSD, que têm lugar hoje.
O que será melhor para o partido neste momento: escolher alguém mais vocacionado para fazer oposição ou um líder com mais vocação para governar?
No primeiro caso, os militantes devem votar em Montenegro; no segundo, deverão reiterar a confiança a Rui Rio.
E Pinto Luz ? – perguntar-se-á.
Neste votarão os ‘sobrantes’, ou seja, aqueles que não gostam de Rio mas também não vêem em Montenegro um sucessor à altura.
Escrevi em crónica anterior que Rui Rio é neste momento o melhor líder para o PSD.
Não é o melhor a fazer oposição – mas, aceitando que o poder não será ganho pelo PSD mas sim perdido pelo PS, fazer ‘bem’ oposição não é agora decisivo.
O importante, a meu ver, não será atacar o Governo a propósito e a despropósito mas sim apresentar alternativas.
O líder da oposição tem de ser capaz de explicar: o Governo fez isto assim, mas se tivesse feito assado seria melhor.
Este é o tipo de oposição que desgasta – porque, sem espalhafato, cria a ideia de que há soluções melhores para o país, mas o Governo não as consegue pôr em prática.
O grande líder da oposição não é aquele que grita todos dias que tudo está mal – é o que consegue convencer a maioria de que, se for para o poder, fará melhor.
É o que consegue convencer as pessoas de que podem ser mais felizes – e que ele é a pessoa talhada para concretizar essa esperança.
Montenegro quer apresentar-se como um novo Cavaco.
Disse-o numa entrevista.
Só que ele é o oposto de Cavaco.
Cavaco era o antipolítico – ele é o político por excelência.
Cavaco surgiu na liderança do partido vindo quase do nada – ele anda há muito tempo nisto.
Cavaco preocupava-se sobretudo com o Estado – ele preocupa-se sobretudo com o partido.
Cavaco nunca foi líder da oposição – ele foi líder parlamentar da oposição durante anos.
Montenegro é, pois, o anti-Cavaco.
Quanto a Pinto Luz, é um outsidser, com todas as vantagens e inconvenientes que isso traz.
Ninguém acredita que consiga a vitória; mas, ao mesmo tempo, todos lhe reconhecem ideias diferenciadas, um discurso mais fresco, soluções novas para problemas velhos.
Pinto Luz pode ser, no futuro, o homem capaz de recolocar o PSD nos seus carris: um partido que não se rege por preceitos ideológicos, que tem um caminho próprio, que é o partido ‘mais português de Portugal’ – porque, ao contrário de PS, PCP, CDS e mesmo BE, não corresponde à importação de um modelo.
Sobre Rui Rio, não vale a pena acrescentar nada.
Todos lhe conhecem as qualidades e os defeitos.
Não gosta de fazer oposição pela oposição, pode ser melhor como governante do que como homem de partido, é um social-democrata com várias costelas de esquerda.
Dos três candidatos, será certamente o mais talhado para ser primeiro-ministro.
Um primeiro-ministro rigoroso, capaz de cortar a direito e não fazer cedências.
Note-se que, atacado no seu partido de forma às vezes agreste, nunca cedeu um milímetro aos adversários.
Critiquei-o muitas vezes nesta coluna.
Mas agora digo: deixá-lo estar.
Por razões de perfil, de atitude, de posicionamento político, apresenta-se como o homem ideal para recolher os votos que o PS inevitavelmente vai perder.
Com Montenegro, o PSD colocar-se-ia à direita – tentando a partir daí conquistar o centro; com Rio, o PSD está colocado ao centro.
Ora, com o PS muito encostado à esquerda, só dialogando com a esquerda e fazendo cedências ao BE, ao PCP e ao PAN, a colocação ao centro é a que mais interessa ao PSD.
Rui Rio está no sítio certo para apanhar o poder quando este cair de maduro.
Há quatro anos, talvez Montenegro fosse preferível; agora, não.