É tempo de surgir algo novo

O mundo mostra cada vez mais a sua fragilidade. Um simples sopro é suficiente para meter todo o mundo em alerta máximo. As posições no mundo estão cada vez mais antagónica umas das outras. Há confrontos! Há inimigos! Há mortos!

No fundo, parece que todo o ideal racionalista se vai desvanecendo de dia para dia. Pensou-se que o surgimento da técnica e do progresso tiraria o homem das sombras da escura Idade Média, fazendo surgir algo novo. E de facto surgiu!
O homem deixa a escravidão dos campos e começa a dominar o mundo. A técnica concentra-se e concentra o homem nas indústrias e nas fábricas de produção em série. O homem deixa de depender do ritmo das estações do ano para poder sobreviver. O racionalismo liberta o homem da conceção mágica do mundo. A visão do amor ao próximo levado a cabo pela religião é agora substituída pelos direitos humanos.

Parecia surgir um tempo novo e, de repente, surgem duas tremendas guerras mundiais. Parece que o homem se liberta de Deus e das conceções religiosas que o faziam depender de um ser superior, para se deixar escravizar pela sua conceção do mundo. O homem faz projetos de uma nova humanidade, mas o que surge é o ciúme, a inveja, a guerra, a maledicência. Deseja-se uma nova humanidade, mas é a velha humanidade que se nos apresenta. 

É muito importante que percebamos isto, porque o chamado século dos direitos humanos, o séc. XX, para além das duas guerras mundiais, viu-se manchado por genocídios e fratricídios sem precedentes na história da humanidade. A técnica veio tirar o homem da sua vida nos campos, mas também veio tirar ao homem a sua própria vida. Nunca, como hoje, se conseguiu matar em massa tantas pessoas, auxiliadas pela técnica.

Todo o projeto do homem novo, pensado pelos racionalistas, cai por terra. É como se víssemos o projeto de Babel a ter corpo nos nossos dias. «Façamos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque os céus» (Gn 11, 4). É isto que dizem os habitantes de Babel. É uma repetição da história de Adão e Eva. A serpente diz-lhes: não morrerás, mas serás como Deus. Assim, também, com Babel! O homem quer chegar aos céus, ser como Deus. 

Não há nada de novo nos nossos dias. Sempre foi assim. O homem afasta-se de Deus, prescinde das suas leis, começa, imediatamente a guerra, a violência e o desamor. No caso de Babel, podemos ver que o homem se dividiu pela face da terra e nem sequer se conseguia compreender.

Estas histórias, que parecem histórias da carochinha, têm a sua atualidade. Elas cumprem-se no homem contemporâneo! As múltiplas guerras que têm surgido nos últimos tempos e este clima constante de tensão que estamos a viver são imagem desta história de Babel. No Irão e no Iraque, com os Estados Unidos, ou com a Síria e o Afeganistão, na Nigéria e no Sudão: são tudo fruto da nossa violência e do progressivo afastamento do homem em relação a Deus.

Não estou a dizer que as religiões não provocam vários conflitos ou que não geram invejas, ciúmes e guerras. Porque a história é disso testemunha. Estou simplesmente a dizer que quando nos afastamos de Deus e queremos construir a nossa cidade e os nossos projetos, segundo as nossas conceções e não conforme à vontade de Deus, temos sempre mais uma guerra.

Quantos profetas Deus enviou no judaísmo para dizer que os homens se estavam a afastar de Deus. Não era a religião judaica que se afastava de Deus, mas os homens se tinham esquecido da aliança. Talvez estes acontecimentos nos lembrem que os direitos humanos não são suficientes para nos respeitarmos uns aos outros.