Insegurança em Lisboa e uma morte revoltante

Os problemas de segurança nas imediações dos campus universitários de Lisboa, nomeadamente no Campo Grande e na Cidade Universitária, na Alameda ou no Polo da Ajuda, não são de hoje. 

A lamentável morte de um jovem no Campo Grande revelou a crescente e inadmissível insegurança nos campus universitários de Lisboa. Os problemas de segurança foram, até agora, um assunto no domínio da comunidade estudantil e o desconhecimento de muitos permitiu adiar a ação eficaz das autoridades. Agora, com o alarme social instalado, é insustentável não tomar medidas para que se evite a repetição de um acontecimento com esta gravidade.

Os problemas de segurança nas imediações dos campus universitários de Lisboa, nomeadamente no Campo Grande e na Cidade Universitária, na Alameda ou no Polo da Ajuda, não são de hoje. São recorrentes os relatos de situações de ameaças diversas, assaltos, roubo de automóveis, tráfico de droga e prostituição junto a estes locais.

As situações ocorrem sobretudo à noite. Poderá parecer estranho, mas na realidade os hábitos de estudo têm-se alterado e hoje é frequente os estudantes ficarem até tarde nas instalações das faculdades que têm criado salas de estudo e outros equipamentos, alguns abertos 24h, e que têm grande procura pela comunidade estudantil.

Na sequência do acontecimento ocorrido no Campo Grande, as associações de estudantes de Lisboa manifestaram de forma pública a sua preocupação com a falta de condições de segurança em Lisboa, nomeadamente reivindicando melhorias na iluminação e mais policiamento. Para tal convocam a reitoria, os órgãos de gestão das faculdades, as forças policiais e a Câmara Municipal de Lisboa para que, em conjunto possam tomar as medidas adequadas. Estes apelos não são novos e têm sido recorrentemente transmitidos, aparentemente sem sucesso.

Não obstante a rápida ação da polícia na captura dos suspeitos do crime ocorrido, vive-se um clima de insegurança insustentável após o incidente. Os alunos têm justificado receio e o sentimento de insegurança aumentou. De facto, a permanência noturna dos estudantes nas faculdades ou nos centros de estudo envolve receio acrescido e ansiedade dos próprios e das famílias. 

Cabe às autoridades agirem de forma articulada, urgente e eficaz para minimizar os problemas de segurança existentes, nomeadamente através do aumento da iluminação pública, do reforço do policiamento, de ponderação sobre a instalação de videovigilância em determinados locais e, um elemento menos referido, de adequada oferta de transportes públicos durante a noite junto aos estabelecimentos de ensino que evitem a necessidade de os estudantes percorrerem zonas sem movimento no período noturno.

Em Lisboa estudam cerca de 100.000 jovens no ensino superior – cerca de 40% do total de estudantes do ensino superior em Portugal. A cidade de Lisboa afirma-se como uma cidade universitária e, complementarmente, uma cidade Erasmus que recebe cerca de 15 mil estudantes estrangeiros.

A aposta numa cidade universitária e de acolhimento de estudantes estrangeiros obriga a ser coerente na oferta de condições para os estudantes. Para além das questões tradicionalmente referidas e que infelizmente continuam em falta como, por exemplo, existência de residências e alojamentos, ganha relevância e urgência garantir condições aceitáveis de segurança nas zonas universitárias. O que está em causa é a proteção devida aos jovens, a tranquilidade das famílias e a preservação da imagem de Lisboa enquanto cidade segura. O que está em causa é, afinal, proteger o futuro da nossa sociedade.