Novo vírus. Confirmados 62 casos na China

Investigadores ligados à OMS estimam que o número de pessoas infetadas possa ser muito superior ao divulgado pelas autoridades. 

Há mais 17 pessoas infetadas pelo novo vírus identificado em Wuhan, no centro da China, estando três em estado considerado grave, anunciaram as autoridades daquele país. Para já, ainda de acordo com as informações divulgadas pela comissão municipal de saúde de Wuhan, foram confirmados 62 casos na China, tendo 19 pessoas recebido alta hospitalar.

O vírus já causou duas mortes por pneumonia, ambas em Wuhan. As vítimas foram dois homens na faixa dos 60 anos, sendo que um deles sofria de outras doenças graves. A segunda morte foi confirmada na passada sexta-feira: tratava-se de um homem de 69 anos que tinha adoecido no dia 31 de dezembro. O seu estado de saúde deteriorou-se na passada semana, tendo as autoridades relatado uma miocardite grave [inflamação do músculo cardíaco], função renal anormal e a afetação severa de múltiplos órgãos.

Quase dois mil infetados? Trazendo a lume números mais preocupantes do que as estatísticas divulgadas pelas autoridades chinesas, os investigadores do Centro de Análise Global de Doenças Infecciosas – uma entidade que presta aconselhamento à Organização Mundial de Saúde (OMS) -, estimam que “um total de 1.723” pessoas, só em Wuhan, apresentaram sintomas de infeção a partir de 12 de janeiro. O estudo, que indica que o número de infetados na cidade chinesa pode ser muito superior ao indicado, pode ser consultado na página do Imperial College de Londres. Contudo, é importante sublinhar que só os testes laboratoriais podem confirmar a presença do novo coronavírus.

Há cerca de uma semana, a Organização Mundial de Saúde emitiu um alerta mundial sobre o novo vírus. Os primeiros casos foram detetados a meio de dezembro, tendo sido identificado um mercado de peixe e marisco, situado nos subúrbios de Wuhan, como o elo de ligação entre os doentes, visto que grande parte ou trabalhava ou visitava regularmente o local. O espaço foi encerrado no dia 1 de janeiro para limpeza e desinfeção e ainda não reabriu.

Entretanto, foram confirmados três casos positivos de infeção fora do país: dois na Tailândia – duas mulheres de 61 e 74 anos – e um terceiro no Japão. Neste caso, o doente era um homem de 30 anos, que já teve alta. Segundo o Centro de Análise Global de Doenças Infecciosas, nenhum destes três doentes teve contacto direto com o mercado, apesar de viajarem frequentemente para Wuhan.

Ontem, a comissão municipal de Saúde de Wuhan, citada pelo correspondente do New York Times em Pequim, confirmou, sem precisar o número, que algumas das pessoas a quem tinha sido detetado este tipo de pneumonia não estiveram no mercado. O vírus pode, portanto, transmitir-se entre pessoas, mas a OMS mantém que este risco é baixo. Os três casos fora da China apontam nesse sentido: os doentes viajaram de avião e nenhum dos outros passageiros foi contagiado. Ainda assim, a unidade de doenças emergentes da OMS pediu aos hospitais de todo o mundo para se manterem alerta, não excluindo um cenário de contágio massivo.

Uma recomendação que ganha mais força tendo em conta a época em questão: estão prestes a iniciar-se as comemorações do Ano Novo chinês, altura em que milhares de pessoas viajam para se juntarem às festividades. Acresce ainda a preocupação de o novo coronavírus pertencer à família dos vírus por detrás das pandemias Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) e Síndrome Respiratório do Médio Oriente (MERS). Só o SARS causou, entre 2002 e 2003, cerca de 800 mortes em meio ano, tendo, na altura, atingindo 37 países.