“O CDS vive hoje na bancarrota política e financeira”

Carlos Meira diz que o CDS vive um dos momentos «mais tristes» da sua história. Defende que o partido deve recuperar a sua identidade e ser mais «transparente e cristalino».

Por que decidiu candidatar-se à liderança do partido?

Sou o único cuja candidatura não é proveniente de Lisboa. Nada contra Lisboa, cidade que adoro, mas entendo que o CDS, tal como o país, está demasiadamente centralizado. Esta candidatura surge com o propósito de demonstrar ao partido e a Portugal que não basta nas campanhas eleitorais falar-se em descentralização, falar-se do interior e dos territórios de baixa densidade, esse discurso tem também que ter aplicação prática na organização do partido. Esta é uma candidatura vinda quase da Galiza, do Minho Alto, que pretende ser a voz dos que não têm voz no interior do partido,

Como vê este momento que o CDS está a passar?

Não nego que este é um dos momentos mais tristes e complicados da nossa história, mas ao contrário do que temos ouvido, o partido não precisa de se ‘refundar’. O CDS, tal como todos os partidos ‘clássicos’ tem sim de se redefinir, as respostas às novas circunstâncias têm que ser outras, mas sempre de acordo e no âmbito da nossa matriz e da nossa identidade. Tornamo-nos num partido que nos últimos anos viajou demasiado com as circunstâncias.

É justo apontar o dedo a Assunção Cristas e à sua direção pelo que se vive atualmente no partido?

Os resultados falam por si. O CDS vive hoje na bancarrota política, na bancarrota financeira, na bancarrota patrimonial, são factos, por muito que nos custe… Foi uma autêntica descida aos ‘infernos’. E na política, tal como na vida empresarial, os resultados espelham uma gestão e os resultados foram desastrosos. Naturalmente que não foi só a Prof. Assunção a única responsável, foi quem com ela também esteve na Comissão Executiva. Por isso, eu sou um crítico da candidatura do antigo porta-voz dessa direção, João Almeida, pessoa por quem tenho estima e apreço e conheço há muitos anos e que foi, diga-se, um excelente secretário de Estado, mas quer ele queira ou não foi porta-voz e membro da Comissão Executiva. Foi por isso conivente com toda essa gestão.

Disse no debate da semana passada que lhe apeteceu comprar ‘baldes de lixívia’ para limpar o partido. Arrependeu-se?

A utilização da figura de estilo ‘baldes de lixivia’ chocou muita gente… Mas é o melhor desabafo que encontrei, para soltar o meu grito de desilusão que sinto pelo precipício para onde mandaram o CDS. Enquanto as pessoas procurarem esconder os problemas debaixo do tapete e não perceberem que os partidos tradicionais têm que se democratizar e ter banhos profundos de transparência, a abstenção não parará de aumentar. As pessoas que não vivem nem sobrevivem da política fogem dos partidos a alta velocidade por falta de estômago para lidar com tamanha mediocridade. O que defendo é um CDS mais transparente e cristalino.

Qual é a sua posição em relação a questões fraturantes como o aborto e a adoção por casais do mesmo sexo?

Quanto ao aborto, confesso-lhe que é um tema extremamente sensível sob o ponto de vista pessoal, sou tio de um miúdo de 9 anos portador de uma doença raríssima, que não fala, não vê, não anda… e seria difícil descrever-lhe por palavras o amor que por ele nutro… E o amor que ele, só pela sua presença, me fornece. É um tema demasiado sensível sob o ponto de vista pessoal. Tenho muitos amigos gays, homossexuais como queira chamar. Não sou contra a união de pessoas do mesmo sexo, entendo que juridicamente deveria ser criada uma outra figura que regulasse as uniões entre pessoas do mesmo sexo à qual não se chamasse ‘casamento’, ou seja deveria encontrar-se uma fórmula legal diferente do casamento que salvaguardasse esse tipo de uniões. Quanto a adoção não sou a favor.

Que expectativas tem para este congresso?

Acho que vai ser um congresso extraordinário, há algum tempo que o CDS não tinha um congresso eletivo, temos tido como eu costumo dizer «os congressos das palmadinhas nas costas», os congressos das aclamações e proclamações.

Acha que a existência de cinco candidaturas à liderança não vem fraturar mais o partido?

Tudo o que seja pluralidade e debate democrático, com intensidade e clareza, só engrandece o partido. O que pode fraturar o CDS é sair do Congresso insistir na mesma forma de atuação. Sei que alguns não apreciam o meu estilo, se calhar mais frontal, mais minhoto, mais truculento, mas o meu amor ao CDS é enorme e espero e desejo sinceramente que o futuro do CDS nos mostre um partido mais livre, mais plural, mais próximo dos seus filiados e do seu povo.

Estaria disponível para desistir a favor de algum dos outros candidatos?

Não sou pessoa de desistir…Se fosse para desistir, não tinha entrado na corrida á liderança do CDS no momento mais difícil da nossa história. Ao contrário de muita contrainformação que corre, não tenho nenhum pré-acordo com nenhum candidato, nem estou à venda.