Lisboa verde e de outras cores

Lisboa Capital Verde deve orgulhar a cidade e o país. Mas esta distinção só será útil se for além da propaganda e de um rol de proclamações.

Lisboa é, durante este ano, a Capital Verde Europeia. Trata-se de um galardão atribuído pela Comissão Europeia que visa distinguir o percurso e, sobretudo, o compromisso das cidades em torno de questões relacionadas com o ambiente, de acordo com diversos critérios de avaliação.

Lisboa Capital Verde deve orgulhar a cidade e o país. Mas esta distinção só será útil se for além da propaganda e de um rol de proclamações. Importa que esta atenção seja perene, que os compromissos sejam concretizados e que os cidadãos vejam alguns dos crónicos problemas da cidade relacionados com o ambiente resolvidos. Por outro lado, a aposta no ambiente só será sustentável se os cidadãos forem sensibilizados para a necessidade de alterarem alguns comportamentos.

As questões ambientais, embora estivessem já na agenda do desenvolvimento sustentável, foram empurradas para a ordem do dia com as evidências das alterações climáticas e a consciência dos efeitos nefastos do modo como tratamos o ambiente aumentou significativamente.

As cidades concentram parte significativa (e crescente) da população e os impactos no ambiente do modo como estas funcionam e se desenvolvem são determinantes para a qualidade do ambiente no planeta. O consumo de água, energia e recursos e a produção de resíduos e de poluição são alguns dos indicadores que confirmam a importância de apostar no desempenho ambiental das cidades.

Em Lisboa não é de hoje que as questões ambientais são alvo de atenção e empenho. A aposta na recolha diferenciada de resíduos e consequente reciclagem, a redução do consumo de água e a diminuição de perdas, a despoluição do Tejo, o aumento das áreas verdes e a promoção da biodiversidade têm sido desenvolvidas há muitos anos. Mais recentemente foram aprovados diversos documentos estruturantes com objetivos relativos ao desempenho ambiental da cidade, a mobilidade tem merecido especial atenção e a continuidade e aprofundamento de políticas iniciadas no passado e o desenvolvimento de outras iniciativas confirmam o compromisso de Lisboa com o ambiente. Mas há ainda muito por fazer.

O mote da iniciativa Lisboa Capital Verde é ‘Escolher evoluir’. Trata-se da afirmação de um compromisso com a mudança. O programa proposto para este ano está recheado de eventos de promoção e de sensibilização. Dito de outro modo: tem muita propaganda aliada a muitas promessas de novos projetos. Passado que esteja o ano em que a cidade é Capital Verde, importa observar a evolução que se vai seguir através da avaliação do cumprimento de metas e da concretização de projetos. Será no futuro que se poderá confirmar aquilo que agora foi prometido.

Para além dos anúncios produzidos, muito tem de ser feito em Lisboa na área do ambiente. Há uma Lisboa que não é verde. Há problemas que persistem sem que a Câmara Municipal demonstre empenho em resolver: a limpeza das ruas, a recolha do lixo, a reposição das árvores de alinhamento ou o controlo de pragas (pombos e baratas) continuam por resolver independentemente de Lisboa ser Capital Verde Europeia. Há ainda problemas que se agravam, nomeadamente a poluição com origem no aeroporto e no terminal de cruzeiros para os quais não parece existir vontade de enfrentar.

Por fim, importa sublinhar a importância da comunidade no desafio do desempenho ambiental. Primeiro na consciência, depois na exigência e, finalmente, na mudança de comportamentos. Todos são parte do problema e todos são parte da solução.