Mulher terá sido agredida por agente da PSP porque se esqueceu do passe da filha

A Direção Nacional da PSP já reagiu às acusações de Cláudia, através de um comunicado, onde afirmam que o agente foi agredido pela alegada vítima e por outros dos passageiros do autocarro. 

O caso de Cláudia Simões está a gerar polémica e revolta na população. A mulher acusou a PSP do Casal de São Brás, Amadora, de a ter detido e espancado em frente à sua filha menor, no domingo à noite, depois de esta ter tido um desentendimento com o motorista do autocarro. Vários vídeos do momento da detenção e uma fotografia da cara de Cláudia, depois de ter abandonado o carro da PSP, estão a ser partilhados nas redes sociais.

A mulher ter-se-á recusado a pagar o bilhete da filha, que alegadamente se tinha esquecido do passe em casa. “Eu disse-lhe que ela tem o passe e que quando chegássemos ao nosso destino que o meu filho ia lá estar com o passe da menina”, explicou a alegada vítima, em entrevista ao Contacto.

Ao perceber que a mulher não iria abandonar a viatura, o motorista começou a ofendê-la e a alguns dos passageiros no autocarro, segundo Cláudia. “Vocês, pretos, macacos, ficam aqui a encher o nosso país. Estamos fartos de vocês. Vão embora para a vossa terra”, terá dito alegadamente o condutor,  o que despoletou revolta nos passageiros, segundo a versão da mulher.

Cláudia Simões diz que no final da viagem, no Bairro do Bosque, o motorista se dirigiu a um polícia que estava perto da paragem de autocarro, que segundo a mulher não estava de serviço. O agente ter-lhe-á exigido a identificação e dito que esta teria que o acompanhar até à esquadra.  

“Ele agarrou-me, fez um mata-leão e caiu comigo de costas”, denuncia a mulher. Cláudia diz que se sentiu a sufocar enquanto o agente a agredia e pediu ajuda ao sobrinho. “Ele vai-me matar”, gritava. Segundo a alegada vítima, a sua filha menor gritava em pânico. “Não mate a minha mãe, por favor”, conta. A mulher acusa ainda o agente de ter empurrado a criança. 

"Quando me meteram no carro eu não queria aquele polícia comigo e eles garantiram-me que ele ia noutro carro mas mentiram-me. Ele entrou para o meu lado enquanto outros dois agentes iam à frente. Durante o caminho todo fui esmurrada enquanto estava algemada. Ele gritava 'filha da pu**', 'preta do car****' e 'co** da tua mãe' enquanto me dava socos. Eu estava cheia de sangue e gritava muito. Então, subiram o volume da música para não me ouvirem na rua”, conta. 

Quando chegou à esquadra da Boba, no Casal de S. Brás, as autoridades tiveram de chamar uma ambulância, que levou Cláudia para o Hospital Amadora-Sintra. A mulher estava com o rosto desfigurado, sem conseguir abrir os olhos e com o lábio rebentado, como se pode ver nas imagens partilhadas nas redes sociais.

Quando teve alta, um agente apresentou-lhe um papel para esta se apresentar em tribunal como arguida.“Queria que eu assinasse um papel mas eu não conseguia ver. Via tudo fusco por causa dos olhos inflamados. Ainda tentou pegar na minha mão para eu assinar mas recusei: ‘não vou assinar uma coisa que eu não consigo ler”, conta.

Cláudia Simões tem de se apresentar na quarta-feira de manhã no Tribunal da Amadora, em Alfragide. “Vou ser arguida amanhã com a cara neste estado. Como posso ser eu a arguida?”, questiona.

A Direção Nacional da PSP já reagiu às acusações de Cláudia, através de um comunicado, onde afirmam que o agente foi agredido pela alegada vítima e por outros dos passageiros do autocarro. Quando o PSP chegou ao local, depois de ser chamado pelo motorista, Cláudia "mostrou-se agressiva perante a iniciativa do Polícia em tentar dialogar, tendo por diversas vezes empurrado o Polícia com violência, motivo pelo qual lhe foi dada voz de detenção. A partir desse momento, alguns outros cidadãos que se encontravam no interior do transporte público tentaram impedir a ação policial, nomeadamente pontapeando e empurrando o Polícia", pode ler-se na nota.

"O Polícia, que se encontrava sozinho, para fazer cessar as agressões da cidadã detida, procedeu à algemagem da mesma, utilizando a força estritamente necessária para o efeito face à sua resistência", afirmam. Nos vídeos partilhados nas redes sociais é possível ver o agente a imobilizar Cláudia e esta a tentar resistir à detenção. 

"Salienta-se, que a mesma, para se tentar libertar, mordeu repetidamente o Polícia, ficando este com a mão e o braço direitos com marcas das mordidelas que sofreu e das quais recebeu tratamento hospitalar", dizem. Cláudia confessou, em entrevista ao Contacto, ter mordido o polícia, porque estava com medo de morrer. 

"A cidadã detida, por o ter solicitado, foi pelas 22H conduzida ao Hospital Fernando da Fonseca, tendo tido alta pelas 02H do dia 20 de janeiro. O Polícia foi igualmente assistido no mesmo Hospital", afirma a PSP.

"Hoje [segunda-feira], cerca das 08h00, a cidadã compareceu numa Esquadra de Polícia onde apresentou uma denúncia contra o Polícia que procedeu à detenção qual será comunicada à Autoridade Judiciária competente. Como consequência direta da formalização desta denúncia, a Polícia de Segurança Pública já iniciou a instrução de um processo de averiguações para, a par do processo criminal, proceder à averiguação formal das circunstâncias da ocorrência e de todos os factos alegados pela cidadã", afirma a PSP.