Da Malveira para Belém

Cristina Ferreira poderá ter um desempenho muito próximo daquele que tem sido protagonizado pelo actual locatário do Palácio de Belém. Oferecer afectos a torto e a direito e piscar o olho tanto à esquerda como à direita.

A líder das audiências dos programas de entretimento da manhã, que diariamente somos convidados a assistir nas televisões generalistas, foi entrevistada num canal concorrente, por sinal a estação pública, tendo deixado no ar a probabilidade de vir a candidatar-se a Presidente da República.

A ideia até pode parecer disparatada, mas, na verdade, faz todo o sentido no sistema republicano vigente, que se orgulha de permitir que qualquer pessoa, independentemente da prévia preparação que tenha recebido para o efeito, possa ascender à mais alta magistratura da Nação.

E, bem vistas as coisas, considerando o papel constitucional que se convencionou atribuir ao nosso Chefe de Estado, a Cristina Ferreira poderá ter um desempenho muito próximo daquele que tem sido protagonizado pelo actual locatário do Palácio de Belém.

Oferecer afectos a torto e a direito e piscar o olho tanto à esquerda como à direita, comportamento que tem caracterizado a presidência de Marcelo, é, sem dúvida, algo que a Cristina tem capacidade para fazer igual, ou até melhor, do que o inventor desta prática que muitos corações tem conquistado.

Mas a agora candidata a candidata à presidência surpreendeu-nos, no decorrer da referida entrevista, com uma outra preciosidade: confessou que nem ela nem a direcção de programas da TVI querem que André Ventura entre na casa mais vista pelos telespectadores portugueses durante as manhãs televisivas.

No entanto, a figura maior do Chega tem motivos para não ficar desanimado e acalentar alguma esperança de vir a conhecer, por dentro, o covil da famosa entertainer, quiçá um dia presidente cá do burgo, porque esta não lhe fechou por completo a porta de sua casa; depende do seu comportamento no futuro!

Ou seja, se André Ventura se portar bem, leia-se, não insistir em desalinhar-se do politicamente correcto, pode ser que um dia seja agraciado com um convite para cozinhar na casa da Cristina.

Quem provou já serem merecedores de frequentar a casa da apresentadora de televisão, nos dias de hoje, ao que parece, especialista em entrevistas de cariz político, certamente inspirada no percurso televisivo que levou Marcelo à presidência, foram o camarada Jerónimo e a camarada Catarina.

Segundo as brilhantes mentes que põem e dispõem nos canais de televisão de sinal aberto, incluindo aquele que é pago através dos nossos impostos, André Ventura não apresenta um perfil suficientemente democrático que o autorize a pôr os pés nos estúdios de que se julgam proprietários, mas os dirigentes comunista e bloquista passam em qualquer prova que ateste o seu amor pelas causas da liberdade e de uma sociedade democrática.

No entanto, se lermos o programa do Chega não encontramos nenhum capítulo que nos faça desconfiar dos seus propósitos quanto à defesa do sistema democrático que nos tem regido nas últimas quatro décadas, nem tão pouco o seu líder alguma vez tomou parte por um ideal que se possa caracterizar de extremista. Antes pelo contrário, as suas origens políticas vêm da ala direita do PSD, a qual não assenta em qualquer tipo de radicalismo, partido no qual millitava até à escassos meses.

Quanto aos dois camaradas acima mencionados, a música é outra!

O PCP é o único partido comunista do mundo livre que ainda defende os princípios preconizados no marxismo-leninismo, absolutamente contrários ao valor da liberdade, mantendo no seu programa a apologia da ditadura do proletariado, o oposto da democracia representativa. A figura de referência dos comunistas portugueses continua a ser Estaline, sem dúvida o maior facínora que alguma vez habitou neste planeta, responsável directo pelo bárbaro assassinato de mais de 100 milhões dos seus compatriotas.

O bloco de esquerda, em matéria de engrandecimento da obra dos ditadores mais cruéis que o mundo conheceu, em nada fica atrás do partido comunista. A sua constituição resultou da fusão de três partidos de extrema-esquerda, um dos quais, a UDP, o mais representado nos órgãos bloquistas, foi sempre o mais radical dos partidos que conseguiram obter assentos parlamentares. Os seus heróis são personagens sinistras como Mao Tsé Tung, que igualmente ordenou a chacina de milhões de conterrâneos, e Enver Hoxha, o carrasco dos albaneses, que os condenou à fome e à miséria.

Na casa da Cristina somente têm permissão para entrar pessoas que respeitem as escolhas individuais de cada um. Por isso o Jerónimo e a Catarina são bem-vindos, enquanto que o perigoso reaccionário André Ventura não passa da porta de entrada.

No início da década de sessenta do século passado foram interceptadas directivas do partido comunista dos EUA, escritas em 1943 e enviadas a todos os comunistas americanos, em que era determinado o seguinte:

«Quando obstrucionistas se tornarem demasiado incómodos, chamem-lhes certos nomes como fascista, nazi, ou anti-semita, e usem o prestígio de organizações antifascistas e pró-tolerância para os desacreditar. Na praça pública, associem constantemente aqueles que nos opõem àqueles nomes que já têm conotação negativa.
Essa associação irá, depois da insistência suficiente, tornar-se como facto na opinião pública.»

A estratégia idealizada há quase oitenta anos mantém-se actual, tendo-se apenas acrescentado mais uns quantos qualificativos, também ostensivamente ofensivos, como racista, xenófobo, homofóbico e misógino.   

Compreendendo-se, na época em que estamos, a razão pela qual qualquer um que se atreva a denunciar as arbitrariedades da esquerda é de imediato rotulado de uma série daqueles desonrosos impropérios, repetindo-os com exaustão até que a generalidade das pessoas, manipuladas por uma imprensa falsa e tendenciosa, acredite piamente na veracidade da palavra dos acusadores.

E os guardiães do politicamente correcto encarregam-se de que esses seres sejam ostracizados dentro da sociedade e impedidos de, em plena liberdade, manifestarem a suas opiniões.

Pela amostra presenciada há escassos dias ficámos a saber que a simpática apresentadora, que veio ao mundo lá para os lados da Malveira e que agora não descarta o sonho de se mudar para um palácio erguido em frente ao Tejo, será muito selectiva no que concerne às visitas que, eventualmente, venha a receber no seu ambicionado futuro domicílio.

Só vai a Belém quem se portar bem!

 

Pedro Ochôa