A ignorância e a demagogia certas no lugar errado

No lugar do senhor ministro Pedro Nuno Santos, eu colocaria a mim próprio uma pergunta: ‘Não deveria estar antes no Bloco de Esquerda?’

Num debate recente na AR, com um tom furioso que custa a perceber, exibindo uma incultura tão arrepiante quanto o grau de inconsciência dela, o senhor ministro Pedro Nuno Santos respondeu, assobiando – melhor, berrando para o lado – à interpelação objetiva, pertinente, democrática, urbana, civilizada do deputado da Iniciativa Liberal, com um discurso demagógico que só deve ter-se atrevido a fazer por o interpelante não dispor de tempo para lhe responder. Desmontando a trapalhada anacrónica e iletrada sobre o liberalismo ou as asneiras filosóficas primárias e redutoras sobre a ideia de liberdade.

Direi apenas, a título de exemplo, que é precisamente ao liberalismo que se deve o ideal e a instituição do ensino público. Que está associado à ideia liberal da igualdade de oportunidades – a qual não se deve ao comunismo, como deduzi que o senhor ministro… quer.  Do mesmo modo, o ideal da solidariedade e da responsabilidade estão na origem do Estado social.

Falar em igualdade de oportunidades remete para a livre iniciativa, para a autonomia dos cidadãos, para o espírito empreendedor, para a criação de riqueza. Tudo regulado pelas leis, pelo direito, iguais para todos – de acordo com as missões reguladoras e fiscalizadoras  essenciais do Estado. Como teorizaram os grandes pensadores liberais e praticam os países que se desenvolveram. 

Ou será que também o senhor ministro confunde – nada inocentemente, claro – esquerda com esquerdismo, direita com ultra direita, liberalismo com… ultraliberalismo? (Neoliberalismo é uma palavra sem sentido.)

Sugiro que, no silêncio de uma destas noites de Inverno, pergunte singelamente a si próprio: o que gerou no mundo a prosperidade e o progresso inimagináveis nos últimos… ‘100’ anos? O comunismo, com a ‘sua’ liberdade? Ou as sociedades liberais, com as ‘nossas’, as minhas, liberdades? De onde fugiram e fogem os seres humanos?

Sobre a ‘liberdade’ – como não tenho tempo para lhe explicar nem o senhor aceitaria as explicações – recomendo-lhe uma leitura, tão básica quanto rigorosa: a consulta atenta e sem preconceito (como toda a leitura deve ser feita) da entrada respetiva no excelente Dicionário de Filosofia de Simon Blackburn (da Gradiva…claro). São poucas linhas, mas bastariam as três últimas para que perceba o que separa o senhor ministro do… Partido Socialista. O que o separa, afinal, da ‘liberdade’.

E termino com a pergunta que, no seu lugar, colocaria a mim próprio: «Não deveria estar antes no BE?».

É que o senhor ministro ainda ignora, mais do que imediatamente exibe, algo que devia ter a preocupação de conhecer bem: a natureza, o ideal, a história, o combate das grandes figuras fundadoras do Partido Socialista, pela LIBERDADE. Não se esqueça da pergunta que lhe deixo,  que deve fazer a si próprio no silêncio da sua verdade… porque só no lugar para que nos fomos talhando nos sentiremos realmente bem . 

Como já dissera Píndaro e antes dele Confúcio (os chineses chegaram a tudo antes, percebe-se porquê), sejamos sempre, em todas as situações, iguais a nós próprios. «Sê tu mesmo».  O senhor ministro parece-me ter sido, mas no lugar errado.