Coronavírus. Portugueses podem ser retirados da China

Número de mortes na China já chegou às 56 e estão a ser construídos dois hospitais em tempo recorde. Caso em Portugal foi falso alarme.

O alerta chegou a Portugal depois de um cidadão regressado da China, onde tinha estado na cidade de Wuhan, ter sido internado sob observação no Hospital Curry Cabral por suspeitas de ter contraído o coronavírus. Mas tudo não passou de um susto e as análises realizadas deram negativo: “A Direção-Geral da Saúde (DGS) informa que o primeiro caso suspeito de infeção por novo Coronavírus em Portugal foi negativo após realização de análises laboratoriais pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, com duas amostras biológicas negativas”, lê-se num comunicado da DGS.

Mas apesar de Portugal estar, para já, fora de perigo, o mesmo não se passa na China, onde o número de mortes e casos de infeção continua a aumentar desde 1 de dezembro, altura em que foi registado o primeiro paciente com sintomas. O país alertou ontem que a capacidade de transmissão do coronavírus pode estar a fortalecer-se. Essa possibilidade obrigou o ministro a cargo da Comissão Nacional de Saúde da China a garantir que vão ser impostas novas restrições para combater o vírus.

Até ao momento, a infeção já matou quase 60 pessoas – um número bastante superior ao de sexta-feira, altura em que se contabilizavam 26 vítimas mortais. As autoridades chinesas dizem que identificaram quase duas mil pessoas com a infeção.

“A transmissibilidade está a mostrar sinais de aumentar”, alertou Ma Xiaowei em conferência de imprensa citada pelo Guardian, referindo que os pacientes com poucos sinais da doença estão a dificultar o seu controlo e prevenção. O coronavírus causa infeções respiratórias, acreditando-se que se propaga por contacto físico, tendo sido desenvolvido por animais. Parte do problema de conseguir conter o vírus acontece porque a infeção se propaga antes que os sintomas se manifestem.

“Como isto é um coronavírus, pode haver algumas mudanças nos próximos dias e semanas, e o perigo que representa para as pessoas de diferentes idades também se está a alterar”, avisou o ministro. 

Os representantes chineses anunciaram este domingo um novo pacote de medidas para conter o coronavírus: aumentaram as restrições nos espaços públicos e transportes numa área vasta e já longe do epicentro do vírus. Mas há quem vá mais longe. Pequim suspendeu serviços interprovinciais de autocarro e as escolas – que estão fechadas desde o Ano Novo chinês – vão manter-se encerradas.

Os parques da Disneylândia em Hong Kong e Xangai também fecharam ao público sem previsão de reabertura e até o comércio de animais foi suspenso. Para prevenção, a quarentena foi ampliada e há várias cidades isoladas, uma medida que afeta cerca de 50 milhões de pessoas. 

A Comissão Nacional de Saúde está a reforçar o pessoal médico em Wuhan, já tendo enviado 1230 funcionários de saúde para a cidade, diz o jornal chinês South China Morning Post. E há centenas de trabalhadores a apressarem-se para construir dois centros de emergência em Wuhan, com capacidade para acomodar cerca de 2300 pacientes.

A quarentena imposta em Wuhan – entre outras cidades – na quinta-feira passada deixou a cidade vazia. “É uma cidade completamente fantasma”, confidenciou na sexta-feira ao SOL Miguel Matos, treinador de guarda-redes do clube da liga profissional de futebol de Wuhan, o Hubei Chufeng Heli. As imagens nas redes sociais e na imprensa internacional mostram a cidade num estado caótico, com os hospitais sobrecarregados e os supermercados vazios. Pelo menos 24 hospitais em Wuhan e nos arredores estão a pedir doações públicas para comprar material médico, como batas e máscaras, explica o South China Morning Post. 

 

Governo admite retirar portugueses O Governo português está a cooperar com vários países europeus para apoiar os cidadãos nacionais em Wuhan e a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas não deixa de parte a hipótese de retirar os cidadãos do local. “Estamos em contacto com os cidadãos e a cooperar com outros países europeus para procurar reforçar o apoio aos compatriotas portugueses retidos”, disse fonte do gabinete de Berta Nunes, secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, à Lusa. Um desses apoios pode passar mesmo por retirar os portugueses de Wuhan, “se isso for viável à luz das regras de saúde pública”. 

Atualmente estão identificados 20 cidadãos portugueses no local e “14 pessoas estavam já registadas como residentes em Wuhan junto da embaixada de Portugal em Pequim”.

 

Vacina Por outro lado, cientistas na China estão a congregar esforços para desenvolver uma vacina que combata o mortífero coronavírus. O Centro Chinês de Controlo e Prevenção de Doenças anunciou ontem que os investigadores isolaram o vírus e estão a selecionar uma estirpe, relata o South China Morning Post. Foram confirmados casos na Ásia, América do Norte e Europa.

A Organização Mundial da Saúde saudou a China pela abertura com que tem lidado com o surto, ao contrário do que fez durante a epidemia SARS, em 2002 e 2003. Todavia, uma enfermeira anónima publicou um vídeo a acusar o Governo de estar a mentir, dizendo que, na verdade, o número de infetados é muito maior: 90 mil.

*Com Daniela Soares Ferreira