Paulo Portas ‘voltou’ à Europa

O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, ‘voltou à Europa’.

sendo isto ‘o que parece’ (e, em política, «o que parece é»), não deixa de ser injusto – pois quero acreditar que portas nunca abandonou o tema. o certo é que agora voltou a falar dele em público. fê-lo esta semana, perante a comissão parlamentar.

um espírito mais retorcido poderá dizer que paulo portas só voltou a falar do tema depois de portugal regressar aos mercados, porque o discurso pode ser mais agradável para os ouvidos das pessoas: o alargamento do prazo dos financiamentos e, até talvez, a alteração de algumas das respectivas condições.

há muito tempo que não víamos paulo portas chamar a si, como agora, a responsabilidade de um processo negocial na união europeia. e a sua expressão facial não enganava: estava contente por poder falar no assunto.

o que fica dito é resultado de uma impressão exterior e de uma análise superficial. paulo portas é uma pessoa responsável e um patriota. mas também é sabido que a sua devoção política principal, em política externa, nunca foi o projecto europeu. só o assumiu pragmaticamente, quando percebeu que o rumo de portugal teria forçosamente de ser a união europeia.

e aqui, durão barroso é, naturalmente, um interlocutor privilegiado e nunca foi defensor da política externa do megafone. o actual primeiro-ministro, pedro passos coelho, tal como vitor gaspar, também não são de alaridos. e sem alaridos se tem feito este caminho de renegociação, até aqui não assumida no discurso e no plano formal.

outro motivo de satisfação para paulo portas – e sabe-o quem o conhece bem – é a aproximação à irlanda. durante muitos anos, portas apregoou a sua admiração pela irlanda e pelo respectivo modelo de desenvolvimento. fê-lo, muitas vezes, como crítica ao modelo de desenvolvimento ‘cavaquista’. o malogro da economia irlandesa foi um desgosto para quem, como ele, tinha essa posição.

paulo portas sentir-se-à bem melhor a regressar ao clube dos ‘remediados’, respeitados pelos estados mais ricos, do que desconsiderado à beira do ‘clube dos mais pobres’.

é importante não esquecer que já tem muitos anos de liderança e já tinha vários anos de governo – enquanto passos coelho, vítor gaspar, mota soares, assunção cristas, carlos moedas ou santos pereira nunca lá tinham estado (e, nalguns casos, nem tinham intervenção política anterior).

paulo portas vem do tempo em que portugal estava muito longe de ser objecto de uma intervenção externa. não terá sido nada fácil para ele, durante o primeiro ano de governo, representar um país com soberania condicionada.

por isso mesmo, foi importante vê- lo sorrir a falar do seu trabalho.

como é genericamente reconhecido, paulo portas tem feito um grande trabalho na diplomacia económica, pelos vários cantos do mundo. mas todos temos sentido a sua falta na política europeia… ei-lo de volta! é um sinal de esperança para portugal.

é justo referir que muitas das matérias da política externa europeia passam, sobretudo, pelo eurogrupo ou pelo ecofin. são os ministros das finanças que lá estão e não os ministros dos negócios estrangeiros. mas isso nunca pode implicar que os ministros dos negócios estrangeiros de cada país se coloquem fora de cena. é essencial a componente política e o saber diplomático que só pode ser trazido por quem exerce essas funções, quer no domínio das relações bilaterais, quer no plano multilateral.

na prática, pode ser dito que a estratégia de passos coelho e vítor gaspar está a surtir efeito. muitos duvidaram dela, nomeadamente o cds/pp. agora que o cepticismo diminuiu, há razões para admitir que o trabalho conjunto seja mais eficaz e que se reforce a estabilidade na coligação.

portugal precisa.