Para Lisboa, uma nova atitude

A maior desvantagem é não se vislumbrar, até à data, qualquer ideia que marque, para Lisboa, uma nova atitude. A ‘piscina no Tejo’ é uma intenção dispendiosa importada de cidades sem a nossa proximidade a praias.

Lisboa é a Capital Verde Europeia em 2020, uma oportunidade para fazer um balanço sobre de onde a cidade veio, em que ponto está, e para onde pretende seguir. Como ninguém consegue de imaginar o futuro sem conhecer o passado, o primeiro passo é prestar homenagem aos pioneiros da Lisboa, Capital Verde Europeia, identificando quatro incontornáveis: o Marquês de Pombal, Frederico Ressano Garcia, Duarte Pacheco e Gonçalo Ribeiro Telles.

A Lisboa medieval não conhecia jardins públicos até à introdução do Passeio Público no plano de reconstrução da cidade pós-terramoto. O Marquês imaginou-o à imagem dos jardins por onde passeou em Londres enquanto embaixador. O Passeio Público ocupava parte da atual Avenida de Liberdade e serviu como modelo original de lazer e ‘salubridade’.

Até Ressano Garcia, os jardins de Lisboa eram ilhas de verde na cidade sem ligação entre si. Com a energia de Rosa Araújo por detrás, Ressano deu forma ao plano de expansão das Avenidas, ligando o centro ao Campo Grande através de uma rede de monumentais eixos alinhados por árvores, à imagem do que aprendera em Paris.

A ideia de criar um pulmão verde começou-se a esboçar em oitocentos, mas coube a Duarte Pacheco a capacidade de execução, em 1934, clarificando, por decreto, responsabilidades e métodos de expropriação para a criação do Parque Florestal de Monsanto, desenhado por Keil do Amaral, e, até hoje, o grande pulmão da cidade, correspondente a um décimo da área total do Município.

Na segunda metade do século XX, o discurso da sustentabilidade entrou em Lisboa pela voz, tão clara quanto solitária, de Gonçalo Ribeiro Telles. Ribeiro Telles, incorporando as ideias dos antecessores, desenhou os jardins da Gulbenkian, defendeu o pulmão e o ‘continuo natural’ de corredores ecológicos. Acrescentou ainda a defesa das hortas urbanas e o uso de bacias de retenção para reter a água da chuva no solo.

À luz destes quatro pioneiros, os objetivos da atual Lisboa 2020 são pouco visionários, mas têm dois méritos. Por um lado, alinham com o espírito dos antecessores, e, por outro lado, definem metas quantificáveis. Apesar de se antever a dificuldade de compatibilizar algumas metas com projetos em curso (como seja a redução do ruído com a prevista duplicação de voos diários sobre Lisboa), a verdade é que será possível medir, no final, o sucesso da iniciativa.

A maior desvantagem é não se vislumbrar, até à data, qualquer ideia que marque, para Lisboa, uma nova atitude. A ‘piscina no Tejo’ é uma intenção dispendiosa importada de cidades sem a nossa proximidade a praias. Na área dos transportes urbanos, quando a nova era promete ser alicerçada por plataformas digitais e veículos pequenos nos centros, insiste-se numa solução com 100 anos de atraso, ligando o metro entre o Rato e Santos e cortando a ligação do Lumiar ao centro. Só esta obra custará mais de 260 milhões que seriam melhor empregues a fazer o contrário, isto é, a ligar as freguesias da periferia ao centro, seja de metro, elétrico rápido, ou ferrovia.

Esta semana foi anunciada mais uma ‘revolução’, a retirada dos automóveis de toda a Baixa e a redução de veículos nas avenidas. Sugiro que façam acompanhar esta iniciativa pela decisão de todos os eleitos por Lisboa, começando pelo presidente da Câmara e executivo, andarem apenas a pé ou de transporte público durante 2020. Como utente quotidiana de transportes coletivos, sinto que estaria aqui uma real e interessante oportunidade de mudança de paradigma, tanto para Lisboa, como para o resto do país.