Aeroporto Montijo. Notáveis explicam porque Pedro Nuno Santos está mal informado

Análise ao programa Negócios da Semana da SIC Notícias de 29/01/2020, onde esteve o ministro Pedro Nuno Santos. 

O que foi dito no programa:

“A solução que estamos a construir é uma solução dual”

O que os técnicos deveriam ter aconselhado à tutela:

“A solução que estamos a construir não é uma solução dual, já que os aeroportos não estão conectados nem o Montijo tem uma pista de 3200 m”

Porquê?

Uma pista de 3200 m era o principal requisito do Governo-NAER para um aeroporto ser considerado complementar à Portela [1]

 

O que foi dito no programa:

“Alverca já foi estudada e já foi arrumada”

O que os técnicos deveriam ter aconselhado à tutela:

“Alverca, na modalidade de par de pistas paralelas com a Portela, nunca foi estudada e deveria sê-lo”

Porquê?

A opção estudada foi a de Alverca com a pista existente (04-22) [2], cujo alinhamento cruzava com o da Portela. A que propusemos em 2016 é diferente: paralela à Portela, colocada sobre o mouchão encostado à margem direita

 

O que foi dito no programa:

“Construção em plena Reserva Natural”

O que os técnicos deveriam ter aconselhado à tutela:

“Construção em Reserva Natural numa zona com menor impacto ambiental (aves, população e poluição) que o Montijo”

Porquê?

Zona da Reserva Natural no lado do rio onde é escassa a presença de aves. A desafetação para uso público do mouchão tem como contrapartida a melhoria da saúde e bem-estar de mais de 250 mil pessoas de Lisboa-Loures (menor ruído e gases poluentes)

 

O que foi dito no programa:

“A construção da nova pista em Alverca é no meio do Tejo”

O que os técnicos deveriam ter aconselhado à tutela:

“A construção da nova pista é sobre o mouchão, que não tem uso desde a sua inundação salgada”

 

O que foi dito no programa:

“Para ter movimentos independentes da Portela, a nova pista em Alverca teria de estar lateralmente afastada 5,5 km, o que a levaria a ocupar um canal navegável (Canal das Barcas)”

O que os técnicos deveriam ter aconselhado à tutela:

“Para ter movimentos independentes da Portela bastariam 2,5 km como Paris Charles de Gaulle+Bourget. Alverca+Portela seria um só aeroporto com 4,5 km entre pistas, o que não afeta o canal”

 

O que foi dito no programa:

“A pista do Montijo tem a dimensão regulamentar que é exigida”

O que os técnicos deveriam ter aconselhado à tutela:

“Segundo a ANAC [3], a pista do Montijo não tem a dimensão regulamentar para todos os aviões de médio curso. Também deverá garantir conformidade com a superfície livre de obstáculos (18 m de altura/900 m de distância da soleira ao canal)”

Porquê?

O fim da pista do Montijo é um canal navegável. As embarcações que navegam no canal necessitam uma altura livre mínima de 18 m (como em Veneza), o que significa 900 m de recuo em relação ao bordo do canal

 

O que foi dito no programa:

“Todos os aviões low-cost da Ryanair e easyJet que aterram no Aeroporto Humberto Delgado podem aterrar no Montijo”

O que os técnicos deveriam ter aconselhado à tutela:

“Ao contrário do Aeroporto Humberto Delgado, o Montijo não tem a distância mínima de segurança na aterragem (DSA) hoje recomendada – 2750 m”

Porquê?

No Aeroporto Humberto Delgado, os aviões Ryanair e easyJet dispõem de 3500 m até caírem ou baterem (Segunda Circular ou CRIL). No Montijo, a pista não pode aumentar para norte. No lado sul, a soleira de aterragem tem de recuar 900 m, ficando com um total de 2140 m até cair ou bater (muro de suporte ou rio)

 

O que foi dito no programa:

“(Não está a ser feito neste momento nenhuma pista com aquele tamanho) nem com nenhum”

O que os técnicos deveriam ter aconselhado à tutela:

“Não há nenhuma pista programada para um aeroporto do séc. xxi com 2400 m de distância que tenha a soleira deslocada”

 

O que foi dito no programa:

“Aeroportos de Londres-Luton, Vigo, Pamplona, Liverpool, Ciampino e Girona têm pistas menores que o Montijo”

O que os técnicos deveriam ter aconselhado à tutela:

“Aeroportos de Londres-Luton (…) têm pistas menores que a proposta para o Montijo mas que não tiveram de deslocar a soleira da pista para não impactar um canal navegável. Esta deslocação reduz drasticamente a distância mínima de segurança de aterragem”

Porquê?

As pistas dos quatro aeroportos são antigas, mas têm várias centenas de metros a mais que o Montijo de distância de segurança de aterragem em relação a obstáculos ou à queda

O que os técnicos deveriam ter aconselhado à tutela:

“Aeroportos de Londres-Luton (…), ao contrário do Montijo, integram conjuntos de aeroportos com muito mais pistas, permitindo redirecionar o tráfego em caso de necessidade”

Porquê?

Luton, Girona, Liverpool e Ciampino fazem parte de sistemas de maior envergadura:
– Londres: sete pistas (oito após Heathrow terceira pista)
– Barcelona: cinco pistas (Reus a 80 + Girona a 87 km)
– Manchester: três pistas (duas + Liverpool a 30 km)
– Roma: quatro pistas (cinco com quarta pista em Fiumicino)

 

O que foi dito no programa:

“A pista Montijo será certificada ou não pela ANAC”

O que os técnicos deveriam ter aconselhado à tutela:

“A pista Montijo será certificada ou não pela ANAC mas, provavelmente, não o será, por estar longe do mínimo recomendado para a segurança na aterragem (2750 m)”

Porquê?

A pista Montijo não poderá ter certificação pela ANAC. Só pode ter 2140 m de distância de segurança na aterragem para aviões de médio curso, quando o mínimo hoje recomendado é de 2750 m (Nantes – ano 2019), com pista de 2450 m (como Faro) + 300 m RESA (runway end safety area)

 

 

Os subscritores da proposta alternativa hub Alverca-Portela:
José Furtado – Eng.o civil, especialista em planeamento estratégico de infraestruturas de transporte. António Gonçalves Henriques – Eng.o civil, ex-diretor-geral e ex-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente. Ricardo Reis – Prof. universitário, diretor para as relações internacionais e do CEA na Católica Lisbon. Rui Vallejo de Carvalho – Prof. universitário da Universidade Católica. António Segadães Tavares – Eng.o civil, premiado em projetos (ampliação do aeroporto da Madeira, pala do Pavilhão de Portugal, entre outros). António Carmona Rodrigues – Eng.o civil, ex-presidente da C. M. de Lisboa. Fernando Nunes da Silva – Eng.o civil, urbanista e professor do IST. Luís Póvoas Janeiro – Prof. universitário da Universidade Católica

[1] 11 de junho de 2007 – Assembleia da República – Novo Aeroporto Internacional de Lisboa [2] Estudo Eurocontrol
[3] https://www.tsf.pt/portugal/sociedade/montijo-vai-ter-a-pista-mais-curta-de-todos-nao-chega-para-avioes-mais-pesados-da-ryanair-11739271.html