Quem é a nova líder da CGTP que nunca aceitou o trabalho ao domingo

Com um percurso de 30 anos no CESP, a  criação de um contrato coletivo de trabalho e o encerramento do comércio aos domingos e feriados são duas das suas batalhas.

Quem é a nova líder da CGTP que nunca aceitou o trabalho ao domingo

Isabel Camarinha é o nome que se segue para liderar a comissão executiva da CGTP. Com 59 anos, tem um percurso sindical de quase 30 anos no Sindicato do Comércio, Escritórios e Serviços (CESP), tendo assumido a sua liderança em 2016. A decisão foi tomada na última reunião da Comissão Executiva antes do XIV Congresso da Intersindical, que se realiza entre ontem e hoje no Seixal, substituindo Arménio Carlos, que esteve 12 anos à frente estrutura sindical.

É a primeira vez que uma mulher chega ao mais alto cargo de uma central sindical. Mas só assumirá rédeas durante um mandato – face à sua idade.

Militante do PCP, tem integrado as listas de candidatos da CDU a várias eleições, sempre em lugares não elegíveis – foi 13.ª nas últimas eleições ao Parlamento Europeu e nas legislativas de outubro passado ocupou o oitavo lugar na lista da CDU por Lisboa. Nos últimos anos, enquanto presidente da CESP, tem-se destacado na defesa de melhores condições salariais e de trabalho nas grandes superfícies, numa área que tem conhecido crescentes protestos sindicais. A criação de um contrato coletivo de trabalho e o encerramento do comércio aos domingos e feriados são duas das suas batalhas.

Isabel Camarinha trabalhou como técnica administrativa no Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local e Regional, Empresas Públicas, Concessionárias e Afins (STAL).

É dirigente sindical desde 1991, tendo integrado a direção do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritório e Serviços de Lisboa (CESL) e posteriormente a direção do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritório e Serviços de Portugal (CESP), desde a sua criação, há cerca de 22 anos.

Integrou a direção da União de Sindicatos de Lisboa (USL) e a sua Comissão Executiva e a Comissão Executiva da Inter há quatro anos, por inerência de funções.

 

Quase um terço da comissão executiva sai

A saída de Arménio Carlos vai ser acompanhada por outros vários nomes históricos da Intersindical. É o de Ana Avoila, que há mais de uma década é o rosto da federação de sindicatos da Administração Pública da Intersindical, Carlos Trindade, da tendência sindical socialista, tal como Fernando Jorge Fernandes e João Torres, de Deolinda Machado, da tendência católica, de Augusto Praça (secretário de Relações Internacionais) e Graciete Cruz (atual secretária da organização). Por isso, não é de estranhar a presença do Bispo Auxiliar de Lisboa, Américo Aguiar.

Estas saídas devem-se ao limite de idade imposto no acesso aos corpos sociais da CGTP – os sindicalistas não se podem recandidatar quando atinjam a idade de reforma nos quatro anos seguintes.

Em entrevista ao i, Arménio Carlos disse que faz sentido este limite de idade porque «qualquer dia tínhamos uma central dirigida por camaradas com 67, 68, 69, 70 anos e uma central sindical por mais respeito que tenha pelos reformados tem de ser dirigida por trabalhadores no ativo».

Em relação ao futura direção promete «ajudar a camarada a assumir rapidamente a coordenação da central», afastando o cenário do que lhe aconteceu quando assumiu a liderança em 2012. «Como era comunista foi imediatamente associado à linha mais ortodoxa dos comunistas. O que quer que faça? Ainda nem sequer tinha ido ao alfaiate e já me tinham feito um fato à medida e entrei como ortodoxo. Sabe o que me dá prazer? É sair e camaradas meus de outras sensibilidades que aqui estão representados terem reconhecido o meu trabalho de rigor, seriedade, de abertura», referiu na mesma entrevista.

Em relação ao seu futuro, Arménio Carlos não hesita: regressa à Carris. «Vim para cá como trabalhador e saio de cá como trabalhador. Vim para cá como operário chefe da Carris, vou regressar como operário chefe da Carris. Os meus colegas não tiveram aumentos durante 10 anos, eu não tive aumentos durante 10 anos e quando regressar já disse à administração que vou regressar e não vou ter porque não quero qualquer tipo de progressão ou privilégios. Não quero rigorosamente nada, quero ser um igual aos outros que lá estão», disse na mesma entrevista.

 

Os próximos desafios

Nos quatro anos que se seguem, a CGTP vai apostar no reforço do seu aparelho sindical para mobilizar os trabalhadores para a luta por melhores condições de vida e de trabalho e por um novo modelo de desenvolvimento para o país.

Os seus objetivos e reivindicações e a estratégia para os alcançar estão definidos na proposta de Programa de Ação, que se baseia em seis eixos reivindicativos centrais e faz uma análise muito crítica das politicas nacionais e da União Europeia.

Estes eixos centrais incluem a reivindicação de melhor distribuição da riqueza e melhores salários, o combate efetivo à precariedade e à desregulação dos horários de trabalho.

A alteração do Código do Trabalho, para reintroduzir o princípio do tratamento mais favorável e retirar a possibilidade de caducidade das convenções coletivas, o respeito pela liberdade sindical e a melhoria dos serviços públicos são outros dos eixos estratégicos definidos no documento.

Ao nível da estrutura, o programa de ação defende que a sindicalização é a «grande prioridade dos sindicatos e é indissociável do conhecimento da realidade dos locais de trabalho, dos problemas e aspirações e da ligação permanente aos trabalhadores».

Aliás, na entrevista ao i, Arménio Carlos garante que fica sempre muita coisa por fazer. Ainda assim, reconhece: «Mais importante do que aquilo que fica por fazer é aquilo que acreditamos que podemos fazer ainda. Temos uma legislação de trabalho que é aquela que se conhece e enquanto ela não for alterada eles não vão ter descanso porque vamos continuar».