Rosa Grilo, a nova argumentista do CSI

Os Óscares foram atribuídos há uma semana, mas o grande candidato ao prémio de melhor argumento só ontem foi conhecido. Talvez a história entre diretamente na cerimónia de Hollywood do próximo ano, caso algum realizador avance com as filmagens…

Mas comecemos pelo princípio. A 16 de julho, alguns jornais escreveram 16 de agosto, Luís Grilo, um triatleta, como ficou conhecido, terá sido assassinado em sua casa. A mulher, Rosa, andou muito chorosa nas televisões, até porque o corpo do marido tinha desaparecido e ninguém sabia onde andava. Parece que, pelo meio, foi a festivais de música e andou a divertir-se com o amante, um funcionário judicial do Campus da Justiça de Lisboa. A 24 de agosto, o corpo foi finalmente encontrado, a 160 quilómetros da casa, com um saco de plástico à volta da cabeça e com sinais de ter sido baleado e espancado.

Pouco tempo depois do aparecimento do corpo, e devido às diferentes aparições de Rosa na televisão, a PJ acabou por a deter, juntamente com o amante, sob a acusação de serem os autores do crime. Ambos negaram todas as acusações, e Rosa acabou por surgir com uma nova versão: o marido teria sido morto por angolanos devido a um negócio de diamantes. A mulher também afirmava que Luís Grilo tinha sido assassinado com dois tiros, ao contrário dos resultados da autópsia, que só falavam num. Ao rever as notícias de então, li algures «que não há margens para dúvidas. O ADN de Rosa foi encontrado no corpo do marido, logo o autor moral do crime está encontrado». Não nos podemos esquecer que Rosa Grilo terá direito a 500 mil euros devido ao seguro de vida e aos depósitos bancários do então marido, caso não seja condenada.

Certo é que em dezembro de 2019 o funcionário judicial foi libertado por falta de provas, mas Rosa continua detida a aguardar a leitura da sentença, que já foi adiada duas vezes. Até que ontem surgiu um novo argumento que veio baralhar ainda mais a história: Rosa Grilo contratou um antigo inspetor da Polícia Judiciária – o Jornal de Notícias diz que João de Sousa chegou a ser condenado a cinco anos de prisão por corrupção passiva e violação do segredo de funcionário – que terá descoberto a tal segunda bala na banheira!

Chegados aqui, já se percebeu que a história tem todos os ingredientes para chegar a Hollywood ou fazer com que os responsáveis do CSI ressuscitem a série. Então a Polícia Judiciária vasculhou a casa dias a fio e não viu uma bala na banheira? Para ajudar os argumentistas, sugiro que os agentes da PJ apareçam no filme com alguma fobia a casas de banho e que por isso não viram a banheira.

Continuando nas sugestões aos argumentistas, aconselho ainda que façam uma novela à volta do funcionário judicial. Ponham-no no papel de fonte dos jornalistas, antes do crime, que saberia muita informação privada de alguns magistrados. Depois, peguem no inspetor reformado da PJ que descobriu a segunda bala e insinuem que só terá sido condenado no passado por alguma armadilha que os colegas lhe fizeram e que agora tem a sua vingança.

Com a não condenação de Rosa Grilo e do amante, é preciso fazer uma cena com o casal numa praia paradisíaca, metam Rui Pinto ao barulho, com este a entrar no computador de todos os envolvidos e a descobrir os verdadeiros autores do crime. Mas, à boa maneira de David Lynch, deixem o final em aberto para haver sequela do filme!

vitor.rainho@sol.pt