Polémicas parecem ser hobby

Em Portugal adoramos polémicas! Por isso não surpreende que os canais televisivos tenham picos de audiência com programas (aberrantes e primários) sobre futebol ou quando se engalfinham políticos em direto; e há uma clara perda de discernimento nas apreciações feitas pelos consumidores dessa informação.

A racionalidade não tem muitos adeptos. Quando pretendemos racionalizar os problemas dentro dos grupos futebolísticos ou políticos a que pertencemos, o que nos sucede é sermos olhados com desconfiança, por vezes como ‘traidores’, e arriscamo-nos a ficar párias. São os custos que se pagam para ter opinião própria, alinhada com os nossos ideais.

Rui Rio tem razão quando refere que neste momento não se discute no Parlamento o referendo sobre a eutanásia. E, quiçá, Manuela Ferreira Leite terá razão quando especula que a ideia de lançar o tema terá surgido como moeda de troca entre o Bloco e o PS para um acordo parlamentar, tão violenta foi a reação de Ana Catarina Mendes a esta ideia. Mas estou convicto de que, com Mário Soares, Guterres ou Seguro, o PS não alinharia nesta oportunidade de legislar sobre a eutanásia no Parlamento. Uma matéria sensível em que já 8 congregações religiosas se uniram para combater a ideia. Sendo certo e sabido que todos os que se opõem irão voltar-se para Marcelo, na esperança de obstaculizar o que o Parlamento decidir.

No fundo, trata-se de uma polémica desnecessária, imposta pela esquerda apoiante de temas fraturantes, com custos políticos eventualmente relevantes para os que votarem a favor no Parlamento. A modernidade deveria ponderar a sensibilidade das pessoas; e se é verdade (como dizem) que a maioria da população apoia a eutanásia (referindo valores entre 63 e 67%), por que não optar pelo referendo?

Outra polémica curiosa foi sobre a linha circular de Lisboa, idealizada pela Câmara Municipal (leia-se Medina). Surgiu a ideia, houve um concurso que ao que dizem ficou vazio de concorrentes, e subitamente o Parlamento chumbou a extensão do Metro. Polémica instalada, até os ministros do Ambiente e das Infraestruturas se insurgiram com veemência, referindo a perda de fundos comunitários de 83 milhões de euros, como se os mesmos não pudessem ser utilizados noutros projetos.

A discussão sobre as prioridades do Metro deveria ter começado numa concertação intermunicipal, colocando as diversas iniciativas em cima da mesa para se escolher a mais urgente, na perspetiva dos utentes e nunca das Câmaras. Mas muitas vezes os umbigos sobrepõem-se – e nasceu esta ideia de que a prioridade era uma linha de custos elevadíssimos e benefícios incertos, em detrimento, por exemplo, dos flagrantes problemas de Loures e dos seus habitantes, que diariamente viajam para Lisboa. E que são dezenas de milhares.

Sendo o ecossistema uma prioridade atual de Lisboa (e de Portugal), um dos objetivos cruciais é travar a entrada dos carros poluentes. Ora, este eixo de Loures parece ser um dos mais prementes, e o Metro será uma das formas de melhorar este acesso. 

A melhoria dos transportes de passageiros, sobretudo com transporte intermodal no acesso a Lisboa, é inequivocamente uma macro prioridade, ao invés de pequenos ajustes à linha do Metro, ainda por cima com custos absurdos face à morfologia dos locais a perfurar.

P.S. – As polémicas no futebol estão a atingir proporções nacionais. O que se passa no Sporting deveria fazer agir o Governo, responsável pela segurança.