Ex-diretores de investigação criminal da GNR negam acusações no caso das armas de Tancos

Os arguidos Taciano Correia e Amândio Marques foram ouvidos ontem no caso das armas de Tancos.

Taciano Correia e Amândio Marques, ex-diretores de investigação criminal da GNR, foram ouvidos ontem no tribunal de Monsanto no âmbito do caso do roubo das armas de Tancos, que ocorreu na madrugada de 28 de junho de 2017. O Ministério Público avançou que foi Taciano Correia quem alegadamente tomou conhecimento primeiro de que existia um compromisso entre os elementos da Polícia Judiciária Militar e os guardas de Loulé no furto e posterior recuperação do armamento, mas o arguido terá negado as acusações, avançou a RTP, repetindo o que havia dito na fase de inquérito. De acordo com o mesmo, recebeu dois telefonemas do diretor da Polícia Judiciária Militar para uma colaboração, mas alegou não saber do que se tratava. O coronel, recorde-se, foi detido depois de aterrar no aeroporto de Lisboa, vindo de uma missão na República Centro-Africana, em agosto de 2019. Foi presente a tribunal e saiu em liberdade, mas acabou por ser proibido de contactar com os restantes arguidos. Na altura em que ocorreu o furto liderava a investigação criminal da GNR.

Já Amândio Marques, acusado de cinco crimes – associação criminosa, tráfico de armas, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos e favorecimento pessoal praticado por funcionário –, foi um dos últimos a serem constituídos arguidos e também desmentiu aquilo que lhe foi apontado, sublinhando que até chegou a partilhar as dúvidas em relação à versão dos militares da GNR de Loulé, não havendo, por isso, “qualquer pacto de silêncio” para encobrir as investigações.

“Houve desde o início uma colaboração com a justiça daquilo que entendeu ser, efetivamente, as suas suspeições e a sua leitura sobre os factos que apresentaram e surgiram injustamente, porque, de facto, não tinha qualquer conhecimento”, começou por dizer Lúcia Dias, advogada de Amândio Marques, aos jornalistas, reforçando ainda que espera que se faça justiça. “Entendemos que os factos dos crimes que são imputados ao coronel Marques não têm qualquer fundamento. Não há no processo qualquer suporte probatório minimamente objetivo que os sustente e, portanto, estamos confiantes na isenção e na imparcialidade da justiça. Vamos aguardar. Não praticou qualquer um dos crimes que lhe são imputados”, disse. Amândio Marques foi suspenso de funções como medida de coação aplicada por alegado envolvimento na recuperação encenada das armas, tornando-se, em julho do ano passado, o 24.o de 25 arguidos do processo.

De acordo com a acusação, tanto Taciano Correia como Amândio Marques autorizaram o processo da entrega das armas furtadas, dando permissão às saídas dos seus homens da zona do Algarve sempre que fosse preciso, fintando tudo e todos até serem constituídos arguidos, sabendo de toda a “encenação” montada.

António Costa testemunha Neste processo, recorde-se, o primeiro-ministro António Costa foi arrolado como testemunha do ex-ministro da Defesa e arguido Azeredo Lopes, respondendo por escrito às questões do juiz de instrução do caso, Carlos Alexandre, sobre o processo. No entanto, o juiz pediu que o Ministério Público avaliasse a divulgação dessas mesmas 100 respostas na página oficial do Governo, devido a uma eventual violação do segredo de justiça. António Costa, na altura, justificou a divulgação pública alegando que foram “postas a circular versões parciais do depoimento”, daí querer deixar em aberto todas as respostas. “Tendo sido postas a circular versões parciais do depoimento do primeiro-ministro como testemunha arrolada pelo professor doutor José Alberto Azeredo Lopes no chamado ‘Caso de Tancos’, entendeu o primeiro-ministro dever proceder à divulgação pública integral das respostas a todas as questões que lhe foram colocadas e que constam do depoimento já entregue ao Tribunal Central de Instrução Criminal”, lê-se numa nota divulgada pelo gabinete do primeiro-ministro.

Nestas mesmas questões, António Costa garantiu que não teve conhecimento de qualquer encenação, mas que estranhou o envolvimento da GNR de Loulé na recuperação do material militar, em outubro de 2017, uma vez que foi na Chamusca, Santarém, a 20 quilómetros de Tancos, que o material foi encontrado. Além disso, António Costa sublinhou que nunca falou com o então diretor da Polícia Judiciar Militar e nunca teve conhecimento de alegadas conversas entre o chefe da Casa Militar da Presidência da República e o general Martins Pereira, chefe de gabinete de Azeredo Lopes.