Idlib está à beira do pior cenário possível

Confronto militar entre os exércitos turco e sírio numa região tão densamente populada pode resultar numa tragédia. Mas Erdogan diz que está “iminente” uma operação militar em Idlib.

A província síria de Idlib, onde estão mais de três milhões de pessoas – muitas delas fugidas do resto do país – está à beira do abismo. “Está iminente uma operação em Idlib”, declarou esta quarta-feira o Presidente da Turquia, Recep Tayip Erdogan, que apoia muitos dos rebeldes opositores do Governo sírio de Bashar al-Assad, que têm em Idlib a última província sob o seu controlo.

“Estamos na contagem final, são os nossos últimos avisos”, ameaçou Erdogan. “Não vamos deixar Idlib para o regime [sírio], que não compreende a determinação do nosso país”, declarou. “Se estamos a falar de uma operação contra as legítimas autoridades da República Síria e as suas forças armadas isto seria, claro, o pior cenário”, avisou Dmitry Peskov, o porta-voz do Kremlin, que está entre os principais aliados de Damasco, junto com o Irão.

Não seria a primeira vez que tropas turcas e sírias se enfrentam nas últimas duas semanas. Ancara admitiu que pelo menos 13 dos seus soldados foram mortos por fogo das forças de Assad – e garante que matou dezenas de soldados sírios em retaliação. Entretanto, a Turquia enviou reforços para os seus postos de observação em Idlib, incluindo tropas e blindados. A província é a última das quatro zonas desmilitarizadas acordadas entre Ancara, Damasco, Moscovo e Teerão, em 2017, sucessivamente cercadas e conquistadas pelas tropas sírias, com o apoio da aviação russa.

Agora, com a estratégica autoestrada M5, que liga a capital síria às principais cidades, como Alepo, nas mãos, Assad, que finalmente tomou controlo dos arredores de Alepo nos últimos dias e quer reconquistar o que falta. Mas tem pela frente as dezenas de milhares de combatentes veteranos que incluem grupos como o Hayat Tahrir al-Sham, uma antiga filial da Al-Qaeda, apoiada pela Turquia, que, confinados à região depois de terem retirado do resto do país. Face à ofensiva de Assad, têm em Idlib o seu último reduto.

Os civis que tinham entretanto fugido para Idlib “estão a ser enfiados num território que está a ficar cada vez mais pequeno, entre a frente de batalha, a este, e o fecho da fronteira turca, a oeste”, explicou em comunicado Julien Delozanne, diretor da missão dos Médicos sem Fronteiras na Síria.

 

Os civis é que pagam

“As hostilidades estão a aproximar-se de áreas densamente populadas”, alertou esta semana porta-voz das Nações Unidas, Stéphane Dujarric, fazendo ecoar os apelos do seu secretário-geral, António Guterres, a um cessar-fogo. Desde dezembro, já morreram centenas de civis na província e mais de 900 mil, incluindo meio milhão de crianças, ficaram desalojados.

O flagelo que enfrentam não é apenas os constantes bombardeamentos das forças de Assad, mas também o frio e nevões que assolam a província. “As pessoas estão a deslocar-se em temperaturas gélidas à procura de segurança, o que se torna cada vez mais difícil”, avisou Dujarric. Já Mustafa Ajaj, diretor de um centro de saúde ligado aos MSF, sublinhou que “as únicas pessoas que ficaram são as que não podem pagar um veículo ou não sabem onde ir”. Muitos vão para campos de refugiados perto da fronteira turca, onde as condições são cada vez mais desesperadoras.