O PS desafiou o PSD a “clarificar” se continua a apoiar a solução de um novo aeroporto no Montijo. Esta é a questão colocada pelos socialistas depois de o partido de Rui Rio ter garantido que estava indisponível para alterar a lei que permite a qualquer uma das autarquias afetadas pela construção do aeroporto do Montijo vetar o avanço do projeto, desafiando o Governo a negociar com os municípios.
O secretário-geral adjunto do PS lembrou que esta localização foi decidida quando o Governo de Passos Coelho estava no poder e, como tal, quer saber se o PSD está “a ceder a uma vertigem populista”.
José Luís Carneiro deixou ainda a garantia que os socialistas irão “continuar o diálogo com os municípios” e com “todos os partidos com representação parlamentar”. Em causa está a intransigência das câmaras do Seixal e da Moita em relação à localização do futuro aeroporto no Montijo. Ao SOL, as autarquias admitem avançar, em último recurso, com uma providência cautelar, mas garantem que vão privilegiar o debate institucional e manter o diferendo no campo político. “Só se nada disso resultar é que iremos recorrer a uma decisão judicial”, garantiu Rui Garcia, presidente da Câmara do Moita.
O secretário-geral adjunto do PS defendeu também que foi o PSD que “há dez anos inviabilizou um novo aeroporto com o discurso de diabolização do investimento público e adotou a solução do Montijo” e enumerou declarações de ex-ministros e dirigentes sociais-democratas que reafirmaram esta opção ao longo do tempo. E apelou ao PSD para que “abra as portas ao diálogo” e que deixe de lado uma atitude que classificou de “bipolaridade tática”: “Sempre que vê uma oportunidade de desgastar o PS, coloca de lado o interesse nacional, procurando tirar proveitos muito táticos, muito mesquinhos, muito imediatos”.
Também esta quinta-feira o primeiro-ministro reiterou que não há “plano B” ao aeroporto no Montijo, avisando que “recomeçar do zero” terá “custos muito grandes para a economia do país” e afirmou-se “perplexo” com a posição do PSD. “Todos sabem que a cada dia a obra é cada vez mais urgente e, portanto, se queremos reabrir tudo – como eu sempre disse não há plano B ao Montijo. O plano B ao Montijo é recuar sete anos atrás e recomeçar do zero agora com a hipótese de Alcochete. Isso terá custos muito grandes para a economia do país e, portanto, eu acho que todos devem agir com responsabilidade” afirmou, em declarações aos jornalistas à entrada do Conselho de Ministros descentralizado que decorre em Bragança.
PCP fala em “força de bloqueio”
Também os comunistas criticaram o PS de querer mudar a lei, acusando os socialistas de “força de bloqueio”. De acordo com Jerónimo de Sousa, a alteração da lei que dá às autarquias envolvidas o direito a vetar o avanço do projeto, defendida pelo ministro das Infraestruturas, é “um fato à medida dos interesses da ANA e da Vinci”, empresa responsável pelo aeroporto, afirmou Jerónimo de Sousa aos jornalistas, à margem de um encontro sobre ferrovia e transportes, em Lisboa.
“O erro de fundo é o aeroporto [ser] no Montijo”, disse, recordando que o PCP “sempre” defendeu a opção de construir o novo aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete, também no distrito de Setúbal.
Para o líder comunista, “deve-se cumprir a lei em vigor”, depois de lembrar que foi em 2007 um governo do PS a aprovar o “respetivo decreto, que está em vigor” e mostrou surpresa por ser agora um Governo socialista vir “agora com uma teorização” quanto ao diploma que permite um “posicionamento das autarquias em relação ao seu território” e que permite “um parecer à matéria de facto”.
Segundo o secretário-geral do PCP, é um “processo discutível” de, “perante uma resistência ou uma dificuldade”, como aconteceu com as câmaras do Seixal e Moita, da CDU, que são contra o avanço do projeto, vir agora dizer “altere-se a lei”. E não hesitou: “É um mau caminho que o PS e o Governo está a fazer”, concluiu.