Esta semana foi verdadeiramente hilariante com histórias que se pensava serem muito pouco prováveis num país democrático, que já leva quase 50 anos de eleições livres. Mas vamos aos factos: o SOL, na edição da semana passada, dava conta dos contratos celebrados entre a Produções Fictícias e a RTP. Como o jornal apurou, a televisão pública fechou um negócio com a empresa no valor de 20 mil euros e tem outro para assinar de 390 mil euros.
Ainda se fala de um terceiro contrato, mas nem vale a pena trazê-lo para o caso. Certo é que o SOL pagou 55 euros à Conservatória de Registo Comercial para ter acesso ao contrato celebrado entre Nuno Artur Silva e a mulher com os novos proprietários, onde se inclui um sobrinho do atual secretário de Estado. O contrato é bem claro: se nos próximos dois anos os novos donos não pagarem o valor acordado, a empresa passa, de novo, para Nuno Artur Silva. Estranhamente, ainda ninguém disse se esse valor já foi pago… Mas se alguém tiver dúvidas, podemos fornecer-lhes o contrato. Nesse documento consta ainda que se os resultados líquidos da empresa em 2020 forem superiores a 40 mil euros, o atual secretário de Estado terá direito a receber mais 20 mil euros a título de preço adicional – está lá expressamente previsto.
Perante estes factos, não há um único partido que se questione sobre esta pouca vergonha? Um secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media que pode vir a ganhar com os negócios que a Produções Fictícias faz com o canal do Estado? Bem sabemos que o governante deu emprego a muito boa gente e que é natural que tenha muitos defensores na comunicação social, alguns são verdadeiros cães de fila e atacam de forma cega – chega a ser patético o ódio que destilam àqueles que denunciaram o esquema. Ah! Essas figuras gritam que tudo é legal. Percebe-se é que a moral para esses patuscos aburguesados que se viciaram nas mordomias dos Gambrinus da vida é uma palavra que tem a forma de Q. Do canal, é claro.
Outra história surreal e, sim, igualmente grave, foi o que o PS tentou fazer com a nomeação dos dois novos juízes para o Tribunal Constitucional que teriam que ser aprovados no Parlamento. Então não é que o Partido Socialista propôs o nome de um dos comensais mais famosos da tertúlia de José Sócrates para um desses lugares? Mas já vale tudo? O Tribunal Constitucional não deve ser um órgão o mais independente de tudo? O nome de Vitalino Canas e de Clemente Lima foram até chumbados com votos do PS. Felizmente, ainda há quem recuse uma fidelidade canina ao líder.
Por fim, a proposta que não chegou a plenário do Chega sobre a castração química de pedófilos. Como é possível Ferro Rodrigues, o PS, PCP, PEV e Joacine entenderem que o Parlamento se substitui ao Tribunal Constitucional? É simplesmente vergonhoso.
Pela positiva, nesta história, o facto do BE não ter alinhado nesta golpada, apesar de achar a proposta miserável. Para o partido de Catarina Martins, e bem, o Parlamento não substitui o Tribunal Constitucional. Pelo que se sabe, a proposta deveria ter apenas um voto a favor: o de André Ventura, mas Ferro Rodrigues entendeu que agora é o grande educador da casa da democracia e só pode ser discutido o que muito bem entender, deste que tenha a aprovação de 116 deputados.
Penso que o PS nesta matéria devia de ter tido mais bom senso e levar a proposta a plenário, por mais estapafúrdia que seja, até para não haver leituras ligadas a um passado recente. Mas é a vida.