Eleições dão vantagem a Netanyahu, numa aparente reviravolta

Netanyahu pode cumprir um quinto mandato como primeiro-ministro, o que em Israel será um recorde.

Mesmo com três acusações de corrupção contra si, o primeiro-ministro de Israel em funções, Benjamin Netayahu, venceu a ida às urnas da última segunda-feira. 

Netanyahu declarou vitória mesmo antes de haver resultados oficiais. E disse que esta era mais saborosa do que da primeira vez em que se tornou primeiro-ministro, em 1996. “Enfrentámos forças poderosas. Disseram-nos que íamos perder, que era o fim da era Netanyahu”, disse. “Transformámos limões em limonada”.

O primeiro-ministro israelita há mais tempo em funções na História do país conseguiu um resultado notável para quem terá que comparecer em julgamento já no dia 17 de março: é acusado de quebra de confiança, fraude e suborno.

Das terceiras eleições consecutivas em Israel (em menos de um ano), pode ainda assim resultar um novo impasse político, pois nenhum bloco parece garantir maioria no Parlamento. Da indefinição desta nova aritmética parlamentar produziu-se no entanto uma certeza: a Lista Conjunta, bloco formado maioritariamente por partidos árabes, obteve novamente um resultado histórico, sendo cada vez mais uma força a ter em conta no cenário político israelita.

Com 97% dos votos contados, o Likud contava com 36 parlamentares no Knesset e, juntando os aliados tradicionais de Netanyahu, o total fica a dois lugares aquém de uma maioria: 59 (em 120 assentos). A aliança Azul e Branco, do rival de Netanyahu, Benny Gantz, ficou-se pelos 32 mandatos. Feitas as contas, o bloco de Gantz (do centro à esquerda) também não garante maioria no Knesset, perfazendo apenas 39 lugares. É uma derrota para o general reformado, que teve um pior resultado do que nas últimas eleições. A aliança Azul e Branco tinha ficado à frente do Likud, em número de votos e mandatos (mais um que o Likud).

A confirmarem-se estes resultados, para Netanyahu formar Governo terá de tentar aliciar políticos rivais a juntarem-se a si, por exemplo, na aliança Azul e Branco ou no partido de extrema-direita Israel é a Nossa Casa.

Outro cenário possível é o de um Governo apoiado pela Lista Conjunta, mas há que ter em conta que as formações árabes foram sempre colocadas à margem do sistema partidário israelita. Neste cenário, o Governo seria formado por Gantz e Avigdor Lieberman, líder do Israel é a Nossa Casa. Lieberman tinha garantido, no entanto, mesmo antes das eleições, que nunca seria membro de um Governo apoiado pela Lista Conjunta.

Chaim Levinson, analista do diário liberal israelita Haaretz, nota que este “cenário inimaginável” durante o último fim de semana pode tornar-se crucial para Gantz, Lieberman e Ayman Odeh, líder da Lista Conjunta, para “prevenir um Governo de desertores”. Mas uma decisão teria de ser tomada “muito em breve”. Há também a possibilidade de o país ir às urnas pela quarta vez consecutiva.

A maior representação da minoria árabe em Israel (a Lista Conjunta deve arrecadar mais um ou dois lugares do que nas últimas eleições) saída de segunda-feira foi ofuscada pela vitória de Netanyahu, produzindo respostas mistas dos deputados desta força política, como disse ao Haaretz o líder de uma das fações da Lista Conjunta, Ahmad Tibi, em relação às primeiras projeções.

Os palestinianos expressaram a sua desilusão em relação aos resultados, afirmando que o aumento do apoio a partidos de direita significa que os israelitas votaram pela continuação da ocupação da Palestina. “É óbvio que os colonatos, a ocupação e o apartheid ganharam as eleições de Israel”, disse o secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina, Saeb Erekat.

Já o primeiro-ministro da Autoridade Palestiniana, Mohammed Shtayyeh, mostrou a sua preocupação pela hipótese de Netanyahu voltar ao poder. “O programa de agressão contra o povo palestiniano é o programa de anexação”, disse, citado pelo Jerusalem Post, referindo-se à transferência de soberania para Israel de partes da Faixa Ocidental, incluindo o Vale do Jordão.

Mesmo com o impasse na política israelita a durar há mais de um ano, há analistas que defendem que a diferença entre o Likud e a aliança Azul e Branco é mínima. “[Gantz] é um centrista, o que, em Israel, significa uma posição muito belicista em relação a Gaza, Irão e Líbano, enquanto procura negociações com a Autoridade Palestiniana, sem alterar nada internamente em termos da política para os palestinianos em Israel ou quaisquer outras questões sociais ou económicas”, afiançou ao SOL o historiador israelita, Ilan Pappé, da universidade de Exeter, no Reino Unido, depois das últimas eleições, em setembro.