O Essencial sobre as eleições: Israel mostrou ao mundo como se defende a democracia

Os resultados eleitorais ainda não são definitivos – e o processo eleitoral ainda dará pano para mangas. E se os resultados poderão ser conhecidos dentro de poucas horas, o processo eleitoral, esse, ainda se prolongará por dias ou mesmo semanas. Dir-se-á que é uma disfuncionalidade do sistema político-eleitoral israelita: para nós – por optimismo militante…

Os resultados eleitorais ainda não são definitivos – e o processo eleitoral ainda dará pano para mangas. E se os resultados poderão ser conhecidos dentro de poucas horas, o processo eleitoral, esse, ainda se prolongará por dias ou mesmo semanas.

Dir-se-á que é uma disfuncionalidade do sistema político-eleitoral israelita: para nós – por optimismo militante e por racionalidade operante – trata-se do funcionamento de uma democracia à prova de bala. Ou melhor: de uma democracia à prova de rockets. Literalmente – na verdade, nos dias que antecederam a votação, Israel foi alvo de novo ataque de foguetes lançados a partir da Faixa de Gaza, visando alvos civis.

Ao mesmo tempo, alguns dirigentes palestinianos – nos dias que correm, nunca sabemos se pertencendo às autoridades oficiais (a Autoridade Palestiniana) ou às autoridades oficiosas (dos terroristas do Hamas) – foram radicalizando o seu discurso  contra Israel e os EUA (na sua velha lógica, reforçada ultimamente pela expansão do terrorismo teocrárico “made in” Irão, de tratar as duas realidades políticas soberanas como as duas faces diabólicas do “imperialismo ocidental”).

Isto é: tal como já havia sucedido em Março do ano transacto (primeira ronda eleitoral), em Setembro passado (segunda ronda eleitoral), agora, na terceira ronda eleitoral, poucos dias antes do momento da votação, registaram-se ataques contra Israel, oriundos ora de Gaza, ora da zona da fronteira com a Síria ou com o Líbano; e hoje sabemos que tiveram também a participação dos terroristas da Jihad Islâmica.

Há, pois, aqui um padrão: sempre que o povo israelita se prepara para exercer o seu mais fundamental direito democrático e cívico, os poderes – que não necessariamente as autoridades – vizinhos tentam coagir Israel pelo medo e pelo terror.

Mais uma vez, falharam: o povo israelita deu um exemplo extraordinário de coragem democrática e cívica – mesmo perante as ameaças de rockets de gente que não sabe o que é a democracia (e não gosta dela), os cidadãos israelitas mobilizaram-se em números que surpreenderam pela positiva.

Os nossos jornalistas e políticos progressistas, preocupados (e bem) com a salvaguarda do regime democrático, deveriam dar o devido destaque e louvar a resiliência do povo israelita pelo seu empenho na construção diária da democracia; é que, em Israel, ao contrário de cá, luta-se diariamente contra os (verdadeiros e literais!) inimigos da democracia.

E, de facto, o dia eleitoral, em Israel, é uma genuína festa da liberdade – é sempre feriado e os transportes públicos são gratuitos (inclusivamente, já agora, para os turistas).

As famílias reúnem-se, os espaços públicos encontram-se repletos, há uma dinamização cultural bastante interessante, enquanto se decide o futuro político do país. Sempre com elevada segurança: efetiva e percecionada.

 Ao contrário do que é a ideia generalizada entre nós (atendendo aquilo que os nossos jornais escrevem e as televisões, acriticamente e com desconhecimento de causa, reproduzem), em Israel, na generalidade do seu território, sentimo-nos mais seguros do que em muitos outros países (mesmo europeus): isto porque se percebe que há estruturas e mecanismos pensados, planeados, prontos a ser executados sempre que se justifique. Com rapidez e eficiência.

Nós próprios caminhámos longamente no dia eleitoral – até por sítios, “a priori”, não recomendáveis -, sozinhos, sempre de forma muito confortável (“disclaimer”: não estamos exortando, nem apelando, nem recomendando, a  que os(as) leitores(as) andem sozinhos(as) por sítios que as autoridades competentes considerem não recomendáveis; os conselhos devem ser obviamente seguidos).

Uma sugestão: se estiver em Israel, no dia das eleições, e quiser aproveitar a gratuitidade dos transportes públicos, não deixe de fazer a viagem lindíssima entre Telavive e Jerusalém-Malcha. A chegada de Malcha de comboio é sensacional, percorrendo os seus vales lindíssimos.

Em Malcha (sudoeste da cidade capital de Israel, Jerusalém), poderá ainda visitar o maior centro comercial da capital israelita – o Malcha Mall, pertencendo ao maior grupo de investimento imobiliário israelita, o Azrieli Group.

Atenção: a visita ao centro comercial referido não é justificada apenas por razões comerciais; antes, é uma experiência sociológica bastante interessante. Lá encontrará a diversidade da sociedade israelita: será confrontado com aquilo que a maioria dos jornalistas nacionais e dos políticos amigos do BDS lhe dizem ser impossível.

Ou seja: verá árabes a serem servidos por funcionários judeus, em lojas de marcas israelitas que a população árabe adora (e não dispensa); e verá funcionários árabes a ajudarem judeus até na prestação de informações e de orientações elementares. E verá indistintamente judeus e árabes a desfrutarem de lojas de marcas que todos nós conhecemos. Sem distinções – e, sem dúvida, sem discriminações.

Em segundo lugar, em Malcha, poderá ainda ver outra das características distintivas (e fascinantes) da sociedade israelita: a aliança entre a modernidade e a tradição. O Malcha Mall é, pois, neste sentido, um micro-cosmos social simbólico: lá poderá visitar lojas de marcas multinacionais com lojas tradicionais israelitas.

O povo israelita, ao mesmo tempo que abraça a modernização, a inovação e o desenvolvimento tecnológico, não prescinde da sua cultura e das suas tradições. Não afasta as grandes marcas; mas não esquece os pequenos-médios  comerciantes que zelam pelas tradições e pela expressão específica de um povo e de uma história.

Um outro local onde esta comunhão está bem patente – e onde se divertirá e muito – é em Mamilla Mall – é uma simbiose perfeita e majestática entre tradição e abertura; entre  história e modernização; entre religiosidade e secularidade. Aproveite para lá jantar, conhecer os muitos simpáticos bares que encontrará em Mamilla, tendo como pano de fundo os muros da Cidade Antiga de Jerusalém.

Enfim, dito isto, perguntará o(a) leitor(a) mais cauto(a): então, e quanto aos resultados eleitorais desta terceira ronda eleitoral? O que dizer?

Para já, apenas três notas: primeiro, reiterando a mobilização muito positiva do eleitorado israelita, dando um sinal ao mundo da sua crença no processo democrático, apesar da coação terrorista do Hamas e da Jihad Islâmica nos dias que antecederam o acto eleitoral.

 Segundo, parece que Benny Gantz (o rosto da coligação “Blue and White”) foi o grande prejudicado pela incapacidade de constituir Governo e evitar esta terceira ronda – apesar do seu voluntarismo, a sua legitimidade para substituir Benjamin Netanyahu está claramente enfraquecida. Gantz é o principal derrotado.

Terceiro: sucedeu agora aquilo que nós havíamos previsto em Setembro – a exaustão do eleitorado conduziu ao reforço de quem está no poder, na falta de uma clara alternativa e não havendo razões determinantes e forçosas para uma mudança política. Donde: o reforço da votação no Likud (do Primeiro-Ministro, Benjamin Netanyahu) e do bloco da direita em geral (em especial, do Yamina, da brilhante e controversa, Ayelet Shaked) não deverá suscitar qualquer surpresa.

Ressalvamos, no entanto, que estas são conclusões preliminares; em breve, faremos uma análise mais global e detalhada.

Hoje o que é verdadeiramente essencial é realçar o que é eterno – aquilo que permanece para além das eleições, dos votos contados, dos ciclos políticos. Aquilo que une a Nação eterna, apesar das (inevitáveis) divergências do povo democrático.

Em qualquer outro país (pense-se no nosso Portugal) ir para terceiras eleições em menos de um ano seria uma catástrofe – haveria, certamente, um discurso histérico prevendo o apocalipse (estamos mesmo a adivinhar: os mercados financeiros vão punir Portugal; Portugal vai já para a bancarrota; a agências de rating vão descer a notação; Portugal precisa de estabilidade, blá, blá, blá…).

Em Israel, ao invés, encara-se a democracia com normalidade: sem dramas – o que é revelador de uma maturidade democrática impressionante, atendendo a que o Estado tem apenas setenta e um anos e situa-se numa zona do globo que entende que a democracia é uma ideia demasiado perigosa. O povo continua a sua vida; as instituições continuam a funcionar regularmente; a economia pula e avança.

E porquê? Porque precisamente – cremos – o povo israelita percebe que o que é eterno nunca pode ser prejudicado por aquilo que é passageiro.

O que é perene não pode ficar refém do que é transitório.

Os Governos passam; a Nação israelita permanecerá. Porque é eterna. Tal como o Estado de Israel; tal como a sua capital, Jerusalém.

Não é por acaso que nós partilhamos consigo a sensação de segurança que sentimos em Malcha: é que ninguém se pode sentir inseguro quando se sente, vivendo, “a” e “na” eternidade. É esta eternidade de Israel que é verdadeiramente essencial; os resultados eleitorais são apenas muito importantes.