Antigo ministro e reitor de Faculdade de Medicina criticam posição das autoridades de saúde

“Hoje senti vergonha na minha terra”, sublinhou Fausto Pinto.

Antigo ministro e reitor de Faculdade de Medicina criticam posição das autoridades de saúde

O diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Fausto Pinto, e o antigo ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes são apenas duas das vozes mais críticas da posição do Conselho Nacional de Saúde Pública, divulgada quarta-feira, à noite e que defende o fecho das escolas “casuisticamente” e por ordem das autoridades de saúde.

Estas opiniões críticas surgem numa altura em que o conselho de ministros, que vai reunir esta quinta-feira, terá de tomar uma decisão sobre se avança ou não para medidas mais drásticas nesta fase da epidemia do Covid-19, que já regista milhares de casos na Europa – só em Itália já morreram mais de 800 pessoas.

“Não consigo entender é como é possível haver hoje em dia quem persista em ignorar o óbvio, e mais ainda quando têm responsabilidades públicas. Devo dizer que me demarco totalmente da opinião expressa pelo CNSP esta noite [quarta-feira], que deverá ser responsabilizado pelas consequências que advierem do que entendo ser uma posição incompreensível face à evolução desta pandemia”, escreveu Fausto Pinto.

Mas o diretor da faculdade foi ainda mais longe: “Hoje senti vergonha na minha terra”. E deixou o alerta em forma de apelo sublinhando que a janela de oportunidade não se prolonga para sempre.

O responsável elogia ainda as Universidades que fecharam portas e optaram por outros modelos de ensino. “As Universidades a mostrarem um enorme sentido de responsabilidade e de liderança. Mas não chega. É crucial que o Governo oiça com muita atenção quem quiser ouvir, mas não ignore o que as Universidades estão a tentar fazer por este País. E este é o momento. Agora e já”.

Já o antigo governante, Adalberto Campos Fernandes, que também faz referência à importância de aproveitar a janela de oportunidade referida por Fausto Pinto, escreveu no Facebook que “Parece muito imprudente ignorar os novos modelos de organização populacional, a vulnerabilidade dos mais frágeis, os fluxos de mobilidade, a circulação de pessoas e a complexidade da interação social da vida atual”.

Para Adalberto Campos Fernandes, “mais importante que ensaiar a repetição de modelos teóricos, discutíveis, será avaliar o risco, presente e futuro, a luz das condições atuais tendo em conta a experiência concreta dos países que nos são próximos”.

“Como referia hoje o Professor Fausto Pinto ainda temos uma janela de oportunidade para fazer o melhor possível. Parece evidente, no entanto, que a cada hora que passa ela se estreita, cada vez mais. Está na altura de concentrar o foco na proteção das pessoas”, acrescentou.