Coronavírus: determinação e responsabilidade

No momento em que este artigo é escrito estavam diagnosticados 78 casos de infeção [subiu para 245 este domingo] pelo novo coronavírus (Covid-19) em Portugal e o Governo tinha acabado de anunciar o encerramento de escolas e discotecas e restrições ao funcionamento do comércio e de serviços públicos.

A epidemia do coronavírus confirma a globalização nos seus aspetos positivos e negativos. Mas é também uma ocasião que coloca à prova o sentido de comunidade e de responsabilidade de cada um de nós, das instituições e dos decisores.

Nesta emergência mundial tem-se assistido ao melhor e ao pior. Melhor, quando países e comunidades agem com determinação e por antecipação com a ação vigorosa dos governos, a capacidade de resposta dos serviços de saúde e o compromisso da população. Pior, quando os governos tardam a reagir, os serviços de saúde colapsam e a comunidade é irresponsável. As consequências são evidentes.

Existem três fatores-chave que determinam o sucesso da batalha que se trava contra esta epidemia: o comportamento das pessoas, a capacidade do Serviço Nacional de Saúde e a determinação do Governo.

Para este combate, é vital conseguir estar um passo à frente da epidemia, tomando medidas enérgicas, mesmo que no momento em que são tomadas pareçam excessivas. Será esta firmeza que permitirá comprometer os cidadãos e evitar (ou retardar) a progressão que colocará em causa a capacidade de resposta dos serviços de saúde.

Alguns comportamentos a que se tem assistido levam a concluir que a comunidade não está preparada ou não tomou consciência da gravidade da situação. As cenas de açambarcamento nos supermercados e nas farmácias ou a irresponsabilidade de comportamentos sociais como a ida à praia levam a concluir que esta é uma fragilidade na batalha contra a epidemia.

Por outro lado, a debilidade conhecida do Serviço Nacional de Saúde limita a capacidade de dar resposta eficaz às ocorrências (ainda reduzidas) deste vírus, como demonstram as insuficiências de quartos de isolamento, de camas de cuidados intensivos ou de profissionais de saúde, as falhas no serviço telefónico Saúde 24 ou até no equipamento de proteção em hospitais. Imagine-se a situação se (quando) o problema tiver a dimensão de Espanha, de França ou de Itália. Apesar das circunstâncias, os profissionais de saúde têm demonstrado uma excecional dedicação e profissionalismo, evitando que a situação seja mais grave.

O Governo decidiu um conjunto de medidas importantes para o combate à epidemia por Covid-19 após reunir com os partidos. Numa emergência como a que se vive no país, o compromisso político alargado e o apoio para todas as medidas é fundamental. Mas tal não significa que deixe de existir espaço para a crítica, necessariamente construtiva.

O Governo optou pela graduação de medidas, não adotando, para já, soluções mais musculadas e restritivas de direitos. Ainda assim, revela uma determinação que contrasta com a incapacidade de articulação da União Europeia.

Por ora, muitas das medidas vão no sentido de diminuir a circulação e o contacto social embora a plena eficácia continue a depender do comportamento das pessoas.

Ficam ainda por implementar ou aumentar restrições à concentração e circulação em transportes públicos, nos serviços públicos e no setor privado, medidas excecionais para a utilização de equipamentos de saúde privados e do setor social e até do setor hoteleiro, controlo e restrições nas fronteiras, nomeadamente nos aeroportos, bem como o empenhamento das Forças Armadas.

As condições para o sucesso deste combate dependem, também, de cada um de nós, mas dependem, sobretudo, da manutenção da capacidade dos serviços de saúde para acompanharem todos os casos de contaminação pelo vírus. O colapso destes serviços determinará a derrota coletiva. Estamos em guerra. Trata-se de uma questão de vida ou de morte.