“As prateleiras ficam vazias não por falta de produtos mas por esgotamento de pessoal”

Filas enormes e prateleiras vazias. “É complicado ver que dar o nosso máximo não chega”, contou Luís Carvalho ao i.

O caos está instalado nos supermercados. São muitas as pessoas que, com receio do que o coronavírus possa vir a provocar em Portugal, correm até estes estabelecimentos comerciais e fazem as suas compras como se não houvesse amanhã. Existem filas enormes à porta das grandes superfícies, muitas prateleiras vazias e também funcionários que já não sabem o que fazer para colocar um travão aos clientes.

Depois de ter feito uma publicação no Instagram que correu o país de norte a sul – em três dias somou mais de 70 mil likes -, Luís Carvalho, que trabalha no Continente Modelo da Arroja, em Odivelas, contou ao i que os funcionários estão “completamente estoirados”, falando até no “esgotamento físico e psicológico” por que estão a passar. “Ter de lidar com esta situação torna-se todos os dias um bocado mais difícil. Estamos mais frágeis e sensíveis. É complicado chegarmos ao nosso local de trabalho e ver que dar o nosso máximo não chega. No entanto, não é por isso que as prateleiras ficam vazias, mas sim porque não há produtos para pôr nelas. Nós mesmo cansados temos feito os possíveis para colocar todos os itens em loja”, relatou, dizendo até que já chegou a casa às 4h30 quando o horário de saída seria às 22h15. “O que se tem observado é surreal. Tem sido uma loucura”, continuou Luís Carvalho.

O desgaste dos funcionários tem sido evidente, notório até para quem vai apenas ao supermercado comprar pão. E há quem diga que é esse cansaço que também tem feito com que as prateleiras fiquem vazias. Ao i, Joana Rocha, que trabalha na secção de contabilidade no Intermarché das Termas de São Vicente, em Penafiel, admitiu mesmo que já teve de arregaçar as mangas e ajudar os colegas. “Tem sido uma loucura e noto que aqui as prateleiras ficam vazias não por falta de produtos mas por esgotamento de pessoal. O único produto de rutura é o álcool, pois segundo nos informaram tem sido todo para o Serviço Nacional de Saúde. Tem sido um grande desgaste. Eu trabalho na secção da contabilidade, mas também já fui uma noite ajudar…”, sublinhou, garantindo ainda que haverá uma reunião hoje para discutir as medidas de prevenção tomadas a adotar.

João Gomes, de 20 anos, é operador de caixa num Continente na zona de Lisboa e vai mais além, ao dizer que não se sente bem no “próprio local de trabalho”. “Lidamos com imensa gente, centenas e centenas de pessoas. Cada uma com uma visão diferente do que está acontecer, mas acho que não é necessário tanto pânico à volta dos supermercados. Não vai faltar nada, não vai haver ruturas, mas temos de ser uns para os outros. Como funcionário da cadeia, gostava de apelar à calma e serenidade das pessoas”, começou por referir. “Noto que existe uma espécie de esgotamento por parte de alguns funcionários. Eu vejo e nota-se que sim, existem pessoas cansadas desejosas por descansar e preocupadas com as suas famílias enquanto mesmo assim temos de fazer o nosso trabalho”, relatou.

não vale a pena correr O que é certo é que a corrida aos supermercados tem sido enorme de norte a sul do país nos últimos dias e são diferentes as medidas de prevenção adotadas por cada cadeia de supermercados. Mas será que existe necessidade de correr para aos supermercados e comprar tudo o que há, incluindo um grande número de rolos de papel higiénico? Vários psicólogos já se debruçaram sobre o assunto. Medo, irracionalidade e falta de controlo são alguns dos fatores que levam as pessoas a ir de forma desesperada às compras.

“Não há razões para aquilo que se designa de corrida aos supermercados, porque isso pode gerar um alarme que é injustificado”, disse à Lusa o secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor, João Torres, no final de uma reunião do Governo com entidades públicas e associações do setor produtor agroalimentar, alertando ainda que a falta de produtos nos supermercados não quer dizer que não haja stocks suficientes para repor em prateleira esses mesmos produtos. “A população não deve entrar em pânico”, reforçou João Torres.