Covid-19 pode desbloquear um ano de impasse político em Israel

Netanyahu quer utilizar “tecnologia antiterrorismo” para localizar aqueles que estiveram em contacto com pessoas infetadas. 

A Covid-19 pode desbloquear o longo impasse governativo que dura há mais de um ano em Telavive. Esta segunda-feira, após ter sido oficialmente mandatado pelo Presidente de Israel, Reuven Rivlin, para formar Governo, o líder da oposição, Benny Gantz, apelou à formação de uma coligação unitária nos “próximos dias”. 

O apelo de Gantz estendeu-se ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que tinha declarado vitória nas eleições de 2 de março. Contudo, após Rivlin ter consultado as formações com assento no Knesset, a aritmética parlamentar foi favorável a Gantz: 61 dos 120 deputados demonstraram apoio ao líder do Azul e Branco. Assim, Rivlin deu 28 dias a Gantz para formar um Governo, prazo que pode ser estendido por duas semanas. 

“Dou-vos a minha palavra: farei tudo que estiver no meu alcance para estabelecer dentro de alguns dias o Governo mais amplo e patriótico possível”, prometeu Gantz na cerimónia televisionada em que foi mandatado pelo Presidente para formar um Executivo. “Está na hora de pôr de lado as nossas espadas, unir as nossas tribos e derrotar o ódio”. 

As eleições de 2 de março foram as terceiras consecutivas num espaço de um ano e a perspetiva da propagação do novo coronavírus abriu portas à formação de um Governo de unidade nacional com o objetivo de conter a pandemia. 

Aliás, foi nesse sentido que o Presidente convocou tanto Gantz como Netanyahu, no domingo, para terem uma “conversa urgente” para a formação de um Governo unitário, para fazer face à ameaça do novo coronavírus. Após uma reunião de 90 minutos, ambos prometeram a Rivlin prosseguir as conversações.

Não é certo, no entanto, que Netanyahu aceite ser o número dois do Governo. “Bibi” – como é comummente conhecido em Israel – apelou a um Governo de unidade nacional que teria uma duração de seis meses. Seria composto pelo Likud (o seu partido) e pelo Azul e Branco, mas liderado por si – um apelo feito também pelo partido de extrema-direita Israel é a Nossa Casa, liderado pelo antigo ministro da Defesa e antigo aliado de Netanyahu Avigdor Lieberman. 

Outro problema reside no facto de as forças partidárias que recomendaram Gantz para primeiro-ministro serem contraditórias entre si. Incluem o partido Israel é a Nossa Casa – hostil à população árabe israelita – e a Lista Conjunta, uma coligação composta maioritariamente por partidos árabes. 

Esta última está preparada para apoiar um eventual Executivo de Gantz, mas não para entrar na coligação governativa. Já o histórico Partido Trabalhista mostrou abertura para entrar no Governo de unidade nacional.

Netanyahu é acusado de corrupção mas, com a ameaça da pandemia, o ministro da Justiça escolhido pelo primeiro-ministro decretou o encerramento dos tribunais a meio da noite de domingo. Horas depois, o julgamento de Netanyahu, que se iniciava já esta terça-feira, foi adiado até pelo menos ao final de maio. 

No domingo, o número de casos confirmados em Israel ultrapassou os 200 infetados com a Covid-19. Além das medidas aplicadas por outros países – como o encerramento de espaços públicos e a proibição de ajuntamentos de mais de dez pessoas -, o primeiro-ministro quer impor medidas draconianas para conter a transmissão do vírus, procurando legitimidade para continuar no Governo. 

Netanyahu disse no sábado, em conferência de imprensa, que planeava utilizar tecnologia – normalmente, apenas usada em casos suspeitos de terrorismo – para localizar aqueles que estiveram em contacto com pessoas infetadas.