Será preciso um coronavírus trazer uma autentica quaresma? Pode parecer absurdo, mas é verdade! A quaresma chegou para muitos e muitos cidadãos europeus e está a chegar aos nossos lares. Os jovens, os idosos, os adultos, as crianças – todos – irão ter a possibilidade de se retirarem da vida pública. As condições exteriores não permitem que tenhamos uma vida social e laboral intensa e, por isso, só haverá uma solução: convivermos ao máximo com a nossa família mais próxima.
O povo português diz que há males que vêm por bem. Talvez seja este o caso. Há muitos pais que vão ser obrigados a ficar em casa com os seus filhos. E o que fazer? Vão ter de puxar pela criatividade para manterem os seus filhos entretidos durante um mês, pelo menos. Vai ser um autentico retiro familiar, compulsivo – é certo – mas que pode ser um aproveitado por nós.
E porque não rezar? E porque não lembrarmo-nos que estamos em pleno período da quaresma? E porque não lembrarmo-nos que também Jesus teve a sua quarentena no deserto – jejuou durante quarenta dias e quarenta noites? Porque não? Este é o tempo favorável para olharmos para nós e para a nossa vida. É tempo de perceber como um bicharoco tão pequenino é capaz de nos levar ao isolamento total.
É verdade que num período tão intenso os cristãos se vão ver privados da celebração comunitária da Eucaristia! É verdade que não poderão participar do Sacrifício de Cristo que derrama o seu sangue por nós! É verdade que a igreja estará privada de celebrar o acontecimento central da Páscoa, pelo menos até ao fim do mês de março.
Mas até aqui vemos a providência e a bondade de Deus. Apesar de estar vedada a celebração comunitária da Eucaristia, os sacerdotes continuarão a derramar o Sangue de Cristo nos altares de milhares de paróquias em todo o país. Continuarão a celebrar a eucaristia de forma privada, sem povo, intercedendo a Deus por todos os seus paroquianos. Isto é um dom! Sabermos que hoje, amanhã e depois de amanhã, haverá sacerdotes a celebrarem a Eucaristia, cumprindo o mandato do Senhor.
É agora que vemos como temo um dom enorme: o sacerdócio. É agora que percebemos que mesmo que toda a igreja permaneça em casa sem poder participar da Eucaristia, a igreja está no Sacerdote que intercede por nós. E cada fiel pode participar dessa mesma eucaristia na sua casa fazendo uma prática consagrada na Igreja Católica desde há muitos séculos: a Comunhão Espiritual.
Os fiéis leigos, seguramente, não se afastarão desta prática espiritual de entrar em comunhão com o Senhor. Também continuarão a poder participar e meditar nos textos diários da sagrada escritura à distância de um clic. Basta pesquisar num motor de busca – leituras do dia – que aparecem logo em primeiro plano.
Podem reunir a família em sua casa e fazer o que está previsto há muito no ritual das bênçãos: a celebração da palavra de Deus. Os pais podem ler o evangelho do dia ou uma história da Bíblia e explicar aos seus filhos, falarem um pouco sobre esta passagem. Seguramente que haverá mais do que tempo para entrarem na oração, para entrarem em comunhão com a própria família pelas celebrações domésticas.
Que bom é o nosso Deus. Não precisa de abrir portas, nem de passar muros, não precisa de subir ou descer, porque, como se ouvirá no próximo domingo, os verdadeiros adoradores há de adorar a Deus em Espírito e em Verdade.
Haverá, certamente, a possibilidade de se passar pelas igrejas e de se receber a comunhão fora da celebração da eucaristia, como já acontece em muitas paróquias de Itália. Seguramente haverá uma criatividade pastoral que ultrapassará todos os problemas inerentes a este acontecimento. Até porque Deus está nos acontecimentos e fala-nos por meio deles.