‘Europa Fortaleza’ de repente é uma realidade para os europeus

Itália registou 345 novas mortes provocadas pelo covid-19, um aumento de 16% em relação às 24 horas anteriores. No total, já vai em 2503 mortes.

É como se de uma guerra se tratasse. É assim que a maior parte dos líderes mundiais se referem ao surto do coronavírus, principalmente no continente europeu. As medidas variam de país para país, mas a tendência tem sido para limitar a liberdade de movimento, encerrar fronteiras, fechar estabelecimentos comerciais e impor o confinamento residencial (muitas vezes, quase total) aos cidadãos. De repente, a ‘Europa Fortaleza’ tornou-se uma realidade para os cidadãos europeus.

Às 23 horas as autoridades espanholas e portuguesas repuseram o controlo das fronteiras terrestres – Madrid anunciou um pacote de medidas para combater a crise. Cabo Verde, sem qualquer caso confirmado, declarou o estado de emergência e interditou as ligações aéreas a partir de quarta-feira, afetando os voos provenientes de Portugal, Brasil, Estados Unidos, Senegal e Nigéria.

Enquanto o líder da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, instou os países a “testar, testar, testar” os casos suspeitos, o Presidente francês impôs o confinamento quase total da população, pelo menos durante 15 dias, segundo Emmanuel Macron. “Estamos em guerra – uma guerra de saúde pública, certamente, mas estamos em guerra contra um inimigo invisível e ilusório”. A França encerrou fronteiras na segunda-feira, como a Áustria e a Suíça.

A Grécia vai fechar boa parte dos seus estabelecimentos comerciais e irá pôr todos os cidadãos que retornam ao país em quarentena durante 14 dias. A Polónia suspendeu todos os voos internos. As autoridades checas selaram áreas no leste do país. Por sua vez, a Sérvia declarou o estado de emergência e a capital ucraniana, Kiev, encerrou restaurantes, cafés e bares nesta terça-feira – além de ter restringido o movimento para outras cidades. Do outro lado do mundo, a Venezuela acordou com o dobro dos casos: 33. 

Com a Europa agora a ser o epicentro da pandemia, a Alemanha tem sido dos poucos países do continente a resistir a confinar o seu território, tentando preservar o acordo Schengen. Mas, mesmo assim, Berlim restringiu o tráfego de cruzamento de fronteiras com a Áustria, França, Luxemburgo e Suíça. 

Isto quando Itália registou 345 novas mortes provocadas pela covid-19, um aumento de 16% em relação às 24 horas anteriores. No total, já vai em 2503 mortes. 

O Reino Unido já tem 71 mortes registadas e a República da Irlanda já tem 292 casos confirmados, um aumento exponencial em relação ao dia anterior.

Por outro lado, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, quer impor a suspensão de viagens não-essenciais por um período de 30 dias em toda a Europa. “Quanto menos viagens, mais podemos conter o vírus”, disse na segunda-feira. A antiga ministra da Defesa alemã ainda tentou convencer as capitais europeias a preservarem a liberdade de movimento de cidadãos europeus consubstanciada no Tratado Schengen, argumentando que o encerramento das fronteiras terrestres não reduz necessariamente o ritmo de propagação do coronavírus. Mas, num documento publicado na segunda-feira, Bruxelas admitiu com todas as letras a derrota nesse sentido. 

Na maior parte dos casos, o encerramento de fronteiras não foi falado com Bruxelas, como é legalmente requerido. Têm que ser estipuladas com clareza e transparência as justificações para tomar este tipo de medidas. No entanto, todos estes requerimentos – seja para liberdade de circulação de bens, pessoas e capitais – foram ignorados.

Ao invés, a comissão apelou na segunda-feira, segundo o documento, “os Estados-membros a preservarem a circulação de todos os bens”: “Em particular, devem garantir o fornecimento dos produtos essenciais, tais como medicamentos e equipamento médico, produtos alimentares essenciais e perecíveis”.

As medidas tomadas pelos vários países europeus desencadearam a especulação de que os Governos, na verdade, não estão agir para desacelerar o ritmo de propagação, mas para impedir que os cidadãos de outros países Estados-membros da UE cruzem as fronteiras para ter acesso a cuidados de saúde.