A história do coronavírus na nação valente e imortal

Quando demos por nós não existia norte nem sul, socialistas ou sociais-democratas, portistas ou benfiquistas, de repente eramos somente nós , eramos somente um.

Fomos todos apanhados de surpresa, apesar de já sabermos que ele andava pelo mundo, eu e outros tantos portugueses, quase caímos na tentação de pensar que o covid-19 era uma daquelas coisas que só acontecia aos outros e que certamente nem se ia fazer notar neste tão pequeno e simpático país no sul da Europa.

Infelizmente não foi assim, e foi a 2 de março que Portugal registou o seu primeiro caso, a partir daí foi só somar.

Rapidamente entendi que à semelhança do que acontecera noutros países, a vida em Portugal ia mudar. Foi aí que me surgiu a pergunta: enquanto os investigadores tentam descobrir uma cura, os profissionais de saúde lutam de forma incansável pela vida dos seus pacientes e alguns profissionais de setores de atividade indispensáveis trabalham, mesmo em condições inseguras, o que vai fazer o resto do país? De que forma vão os portugueses reagir a isto?

Deparado com esta dúvida, fiz as minhas “apostas” e pensei para os meus botões:

“Vai ser o salve-se quem puder, as empresas, perante a carência de alguns bens, vão aproveitar para aumentar os preços; certamente que os hospitais privados, com a falta de recursos na saúde, ainda vão faturar bastante em cima disto; os partidos políticos não se vão entender como de costume, e alguns ainda vão tentar ganhar votos no meio deste turbilhão.”

Mas… para minha, e de mais alguns, surpresa nada disto se veio a verificar. Definitivamente tenho em mãos um país melhor do que julgava!

Vi os mais jovens colocarem cartazes nas portas, oferecendo ajuda a quem é mais vulnerável e foi um pouco por todo o país que lemos coisas como: “Estou disponível para entregar as compras a quem precisar”. Quanto ao setor privado, aprendi que a fraternidade entre compatriotas é capaz de derrubar os pressupostos da curva da oferta e da procura e que, quando existe um desafio comum, o meu povo rasga todas aquelas leis económicas que aprendi na faculdade. Vi fábricas a parar a produção e a mandar os trabalhadores para casa com 100% do salário assegurado.

Os Hospitais privados disponibilizaram-se para receber doentes, mesmo que para isso tenham de abdicar de lucros. Os supermercados organizaram-se para não lotar as instalações, zelando, assim, pela saúde pública.

Vi um estudante lançar um desafio para a produção de ventiladores e de seguida mais 1500 especialistas juntarem-se a ele, fintando mais uma vez , à boa maneira tuga, a falta de recursos. Vi, uma dirigente de uma juventude partidária criar uma plataforma global de solidariedade como maneira de mobilizar os seus militantes para a ajuda aos que dela necessitam,  mostrando, assim , que ajudar é com todos!

Quanto aos partidos, na sua maioria, mostraram-se unidos e empenhados no combate ao inimigo comum.

Enfim, podia ficar horas a citar as tantas iniciativas que vi surgir em tão poucos dias, podia ficar o aqui o dia inteiro a expressar o orgulho que senti ao ver uma sociedade atingir o seu ponto máximo de maturidade.

Quando demos por nós não existia norte nem sul, socialistas ou sociais-democratas, portistas ou benfiquistas, de repente eramos somente nós , eramos somente um.

Percebi então, que estamos numa fase estranha, quase agridoce, como se estivéssemos a assistir a uma versão 1000.0 do nosso país, onde, apesar de deparados com uma catástrofe, a inovação beijou o humanismo, o capitalismo pôs-se no lugar onde deve estar, ao serviço das pessoas. As pessoas, essas, entenderam na perfeição que mais do que precisarem umas das outras, não vivem umas sem as outras.

Embora todas as religiões do mundo tenham pregado durante séculos a ajuda ao próximo, foi com o aparecimento de um vírus que vimos acontecer uma onda de solidariedade sem precedentes!

No meio de todo este breu, vi um país, vi o meu país a não se acobardar, afinal temos uma sociedade civil feita de heróis que a Marvel desconhece.

Que este artigo sirva de vénia aos que, apesar de todas as dificuldades, não deixaram ninguém para trás. Obrigado a todas e a todos por me fazerem sentir a cada dia mais orgulhosamente português!

António Rosas,Estudante de gestão na Universidade Católica de Viseu; Membro da direção da AAV