Médicos apelam a fábricas para que cedam material de proteção

Primeiro-ministro revelou que o melhor cenário coloca fim da epidemia no final de maio. SIM lança repto a fábricas de automóveis, minas e setor florestal. Inquérito a 1200 médicos revelou que maioria sente que há falta de equipamento.

Depois de uma atualização dos cenários para a evolução da epidemia no país, anunciada pela Direção Geral da Saúde, António Costa revelou esta quarta-feira no Parlamento que a expectativa é que o número de novos casos continue a aumentar até ao final de abril e que, na melhor estimativa, o país terá de combater a epidemia de covid-19 até ao final de maio. As associações profissionais de médicos e enfermeiros mantêm as críticas à falta de recursos e material de proteção dos profissionais. A Ordem dos Enfermeiros apresentou ontem um conjunto de propostas à tutela, do reforço imediato de orçamento à requisição de recursos humanos, equipamentos e equipamentos de proteção individual a unidades de saúde do sector privado e social. O secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales confirmou a disponibilidade do setor privado, mas disse que até ao momento não foi necessário recorrer a prestadores de saúde fora do SNS. Em relação ao material, assegurou que “até ao final da semana serão distribuídos dois milhões de máscaras e mais de 150 mil equipamentos de proteção individual. A partir do princípio da próxima semana, este stock será também reforçado”.

Reforçar já O Sindicato Independente dos Médicos acusa o Governo de irresponsabilidade na preparação da resposta e defende que o reforço de material de proteção não está a acompanhar a necessidade dos serviços. Ao i, Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do SIM, dá o exemplo da urgência de Évora, onde os médicos estão a trabalhar sem máscara, quando a recomendação da DGS é já para que todos os profissionais de saúde utilizem máscara durante a pandemia. “Há vários serviços onde estão a ser racionadas”, diz, contrapondo com o caso do Hospital de São João, que determinou o uso de máscara por todos os profissionais desde a passada segunda-feira. Roque da Cunha dá ainda o exemplo do Hospital de Beja, com apenas quatro kits de equipamento de proteção mais diferenciados, que permitiriam apenas entubar dois doentes, afirma.

Fábricas que cedam material de proteção Depois de um inquérito que até ao momento teve a resposta de 1200 médicos, e em que mais de 80% considera que a sua instituição não está preparada para a epidemia e que não têm equipamento de proteção individual em quantidade suficiente para os vários casos previsíveis, o sindicato lançou ontem um apelo para que a indústria que está a suspender ou diminuir atividade e que também utiliza este tipo de proteções as disponibilize aos profissionais de saúde, dando o exemplo da indústria automóvel e mineira, mas também pinturas, agricultura, limpeza de matos e terrenos.

As duas maiores fábricas de automóveis, a fábrica do grupo PSA em Mangualde e a AutoEuropa, suspenderam já a atividade. Roque da Cunha dá também o exemplo das minas de Aljustrel: “A informação que temos é que a atividade está reduzida a um quinto e utilizam máscaras para proteção de exposição a silicose que poderiam ser disponibilizadas”.

Roque da Cunha lança também o repto à indústria do setor florestal: “Têm viseiras melhores do que alguns médicos”, disse ao i. Decretado o estado de emergência, o médico defende que, no limite, esse material deverá ser requisitado para a proteção dos profissionais.

O número de casos confirmados subiu para 642 e mais de 300 doentes aguardavam o resultado das análises, com mais de 6600 em vigilância pelas autoridades. Estão confirmadas 24 cadeias de transmissão ativa no país, a partir de 62 casos ligados a estadias no estrangeiro.