Portugal: o cantinho que não fica esquecido

Quanto mais frágil, mas apetecível. A crise que se avizinha pode reacender o interesse chinês no mercado nacional.  

A aposta chinesa em Portugal surgiu em 2011, numa fase em que a crise financeira e económica retirou valor a alguns dos principais ativos nacionais,  tornando-os apelativos (e mais acessíveis) às bolsas dos investidores estrangeiros. O investimento  de origem chinesa tornou-se regra em Portugal, pelo menos até 2018. Feitas as contas, a aposta atingiu os 12 mil milhões de euros e incluiu investimentos significativos no setor energético (Galp, REN, EDP), dos transportes (TAP), dos seguros (Fidelidade) e da saúde (Luz Saúde), bem como nos serviços financeiros, imobiliários e até no setor dos media. 

Os últimos anos levaram a um reajustamento do posicionamento chinês nas empresas portuguesas, a um emagrecimento da sua presença, nomeadamente nos setores da tecnologia e aviação – exemplificado pela saída dos chineses da HNA da TAP, ao venderem os 9% que detinham da companhia aérea por 48,6 milhões de euros no início de 2019. 

Mas a previsão de um novo volte-face, resultante da pandemia da covid-19, poderá recolocar a China numa nova posição de vantagem em relação ao mercado europeu, onde Portugal sempre foi uma porta de entrada. As velocidades de recuperação das economias mundiais podem culminar numa nova onda de investimentos chineses em Portugal? Paulo Rosa afirma que «muito provavelmente, sim». «Se a fragilidade estrutural da economia portuguesa der lugar a uma recessão económica mais duradoura, os ativos nacionais ficarão mais apetecíveis», afirma o economista do Banco Carregosa. Paulo Rosa recorda que «os chineses entraram na economia portuguesa com mais força no tempo da Troika», o que dá força à previsão. Segundo o economista, os «setores da banca, seguros e energia e também da construção são sempre muito procurados pelos chineses».

De opinião contrária é Mário Martins. O analista da ActiveTrades não acredita que a experiência se repita, pois considera que «Portugal não tem ativos que possam ser vendidos que mantenham este nível de investimento». Considera ainda que a «forte regressão por causa da contração económica provocada pela covid-19» vão limitar, e muito, a capacidade da China investir no estrangeiro e, em particular, em Portugal.