Obituário. Vittorio Gregotti

1927-2020. O arquiteto do CCB

O arquiteto italiano Vittorio Gregotti morreu no passado domingo de manhã, em Milão, na clínica onde se encontrava internado. Aos 92 anos, Gregotti foi vítima de uma pneumonia causada pelo Covid-19, fazendo assim parte das terríveis estatísticas da pandemia em solo italiano. A sua mulher, que também contraiu o vírus, continua internada na clínica de San Giuseppe, a mesma unidade hospitalar onde o arquiteto passou os últimos dias, avançou o Corriere della Sera. 

Precursor da arquitetura como disciplina independente, colunista, teórico, diretor de revistas de arquitetura, urbanista e o autor de obras de fôlego em diversas cidades – entre as quais se inclui Lisboa, onde, ao lado de Manuel Salgado, criou o Centro Cultural de Belém (CCB) – Gregotti foi um dos grandes mestres da sua área, tendo marcado indelevelmente a segunda metade do século XX, nota o jornal italiano.

Nascido em agosto de 1927 em Novara, no Piemonte, formou-se no Politécnico de Milão e terminou o curso após a Segunda Guerra Mundial, numa altura em que era urgente reconstruir a Europa. rompendo com a arquitetura das vanguardas que dominava as propostas antes da guerra, Gregotti seguiu uma linha racionalista na suas propostas: simplicidade, organização e precisão são, em traços gerais, os mandamentos que seguiu no exercício da arquitetura.

Ao longo de uma carreira que se espraiaria por 60 anos, criou projetos como o Estádio Olímpico de Barcelona, o Teatro Arcimboldi de Milão ou o teatro lírico de Aix-en-Provence. Foi também um dos responsáveis pela criação da Bienal de Arquitetura de Veneza, nos anos 80, como projeto expositivo independente às demais expressões artísticas. Uma luta que começou a travar em 1974, ano em que criou o seu ateliê, o Gregotti Associati International.  No ano seguinte, foi curador da Bienal de Veneza, e foi aí que começou a labuta pelo reconhecimento da independência da arquitetura. Durante a sua carreira, foi ainda diretor de revistas de arquitetura, como a Rassegna (1979-1998) e a Casabella (1982-1996). 

O seu nome ficará também indelevelmente ligado à história do país, uma vez que o CCB, a grande cidade aberta à cultura, como o próprio definia o complexo, saiu em parte do seu atelier. O projeto entregue por Vittorio Gregotti e Manuel Salgado foi um dos 57 que responderam ao apelo do Estado português no final dos anos 80. O projeto que ocupa uma área de 97 mil metros quadrados e que, inicialmente, polarizou a opinião pública, previa a construção de cinco módulos independentes. Gregotti já não verá os dois últimos destes módulos, destinados ao comércio e hotelaria, serem terminados.