Associação Nacional dos Cuidados Continuados ficou “chocada” com declarações da ministra

Em causa estão as críticas ao caso do lar em Famalicão, cujos funcionários ficaram quase todos de quarentena.

A ANCC – Associação Nacional dos Cuidados Continuados diz-se chocada com as declarações da ministra da Saúde, Marta Temido, sobre o lar em Famalicão, que tinha quase todos os funcionários em quarentena, tendo ficado os 33 idosos ao cargo de duas pessoas, uma delas grávida.

Para aquela associação, a posição expressa por Marta Temido, na conferência de imprensa de domingo, espelha “o preconceito ideológico e o descartar de responsabilidades, que nem em tempos de grave crise a senhora ministra consegue abandonar, e que só demonstra a aversão que tem a tudo o que é privado, mesmo que sem fins lucrativos”, lê-se num comunicado enviado às redações.

A ministra sublinhou ontem, referindo-se ao caso do lar de Famalicão, que “as Instituições têm de ter um plano de contingência”. E a ANCC lembra: “Há semanas atrás tínhamos o Governo e o Presidente da República a desvalorizar toda esta situação e, presentemente, continuam sempre a tomar decisões tardias e completamente desnorteadas. Se não fossem muitas destas Organizações a estarem sempre um passo à frente do Governo (proibiram visitas no passado fim de semana de 14 e 15 de Março, quando a ordem do Governo só veio há menos de uma semana e apenas proibia visitas a Lares de idosos esquecendo tudo o resto, quer sejam as UCCI`s, Lares para pessoas com deficiência, entre outros) bem que a atual situação que vivemos seria mais complicada e difícil”.

Sobre o facto de terem o dever de acautelar a situação de terem funcionários e utentes infetados, a ANCC responde que Marta Temido devia “descer à terra” e procurar saber como funcionam este tipo de instituições. “Ou seja, não há funcionários de 2ª linha” porque que “estas funcionam com os números mínimos de trabalhadores indispensáveis e, por vezes, abaixo do mínimo. Em alguns casos porque não há pessoas para trabalhar, noutros casos porque o dinheiro pago pelo Estado é insuficiente para contratar mais e melhores recursos humanos”.

Mas as críticas da associação à ministra não ficaram por aqui. “Não se entende a contradição entre as palavras da senhora ministra e das orientações dadas pela DGS. Ou seja, se há pessoas cujo teste ao COVID-19 deu positivo, estas vão para casa de quarentena e devem ter os devidos cuidados para não contaminar os seus familiares. Mas se a um trabalhador der positivo para o teste do COVID-19, irá ele e os colegas para casa de quarentena”, sublinhou a ANCC, questionando: Qual é a lógica disto sem se saber se os outros trabalhadores estão infectados? Quem cuida dos utentes/doentes das UCCI`s, Lares de Idosos ou Lares de Pessoas com deficiência? O mesmo nos Hospitais? Se por cada trabalhador infectado todos os outros vão para casa então, não tarda, não há pessoas a trabalhar para cuidar de quem precisa. Não haverá hospitais militares que cheguem para receber doentes de Lares. Nota-se bem aqui a falta de liderança na Sáude e a desorientação dos seus dirigentes”.

 A ANCC fez ainda questão de frisar que “tem insistentemente tentado ser recebida pelo Governo, o que, lamentavelmente nunca aconteceu até à data”.