O início desta crónica serve de homenagem a um dos autores que mais marcou a minha infância (como a de tantos milhões) e cujo génio, talento e humor continuo e continuarei a admirar vida fora: Uderzo – com o também já falecido Goscinny, criador da dupla Astérix e Obélix.
Se aquela banda desenhada me aguçou o gosto pela História, obrigou-me, logo, a olhar para a ascensão e queda do Império Romano – e se essa época, do poder e da decadência de Roma, nos dá lições…
Esta semana, o vídeo de Ursula von der Leyen ensinando-nos a lavar as mãos tornou-se viral.
No vídeo, a presidente da Comissão Europeia trauteia o hino da União Europeia – a Ode à Alegria de Beethoven – enquanto vai lavando as mãos de acordo com as instruções da Organização Mundial de Saúde, que vão sendo reproduzidas no ecrã.
Entretanto, o número de vítimas mortais da covid-19 em Itália cresce na ordem das muitas centenas por dia – e Espanha vai-lhe seguindo os passos na tragédia, com números de infetados e de vítimas mortais a dispararem e os serviços de saúde a colapsarem.
Nas redes sociais, para o mundo, os italianos postam vídeos das manifestações de solidariedade, comunitárias, entre o povo italiano em confinamento residencial.
Pela Europa, partilham-se, aplaudem-se e copiam-se ou reproduzem-se.
A verdade é que a primeira reação da Europa foi fechar as fronteiras com Itália. E a primeira ajuda além fronteiras transalpinas chegou da… China – equipas de médicos com maior experiência no combate ao surto de coronavírus.
Nos primeiros dias de março, o Governo alemão, da senhora Merkel (e de von der Leyen), ordenou a suspensão das exportações de material de proteção médica (máscaras, luvas, macacões…).
A reação germânica é uma reação nacionalista natural em tempo de grave crise ou de guerra, seja convencional, biológica ou contra um vírus invisível, altamente contagioso e sem terapia conhecida.
Os italianos cantam o hino italiano, os portugueses a Portuguesa e por aí fora. A senhora Ursula von der Leyen murmura, sozinha, a Ode à Alegria.
Em Bruxelas, os representantes dos 27 não se entendem sobre os planos de injeção imediata de dinheiro na economia europeia e nas economias nacionais.
Tal como na questão sanitária, também na economia a resposta conjunta tarda.
E, tal como na questão sanitária, as consequências serão tão mais devastadoras quanto tardias.
Não é hora de discussões espúrias, nem de amuos e abandonos mesquinhos e reveladores de incapacidade de liderança, nem de querelas ideológicas entre liberais, sociais-democratas, socialistas…
É hora de agir e não de ficar à espera de soluções que não vão cair do céu, como o céu nunca caiu em cima da cabeça de ninguém.
Todos. A Europa, os Estados, as empresas, os trabalhadores. Todos.
O Estado precisa tanto das empresas como as empresas do Estado (e, sim, multiplicam-se os que já só querem mamar na teta do Estado, vítimas ou não da covid-19) e o mesmo se passa com os trabalhadores.
As circunstâncias de exceção, como a que vivemos, obrigam a ações de exceção.
E agora é que a Europa é necessária.
Mas se a Europa está contaminada pelo vírus que todos já bem conhecemos, desta vez não há ventilador que lhe valha.
Nos Estados Unidos de Donald Trump, vilipendiado em todo o mundo, republicanos e democratas aprovaram o maior resgate da História – incluindo apoio direto (com dinheiro) às famílias e às empresas – e deram a todos, particularmente à UE, uma enorme lição.
Lavar as mãos é tudo o que a Europa não podia fazer.
Voltando ao Império Romano, isso foi o que fez Pôncio Pilatos.
Parafraseando Astérix e Obélix na sua irredutível aldeia: Estes dirigentes europeus são loucos!
Se não têm nenhuma poção mágica nem a conseguem trabalhar, resta-lhes esperar por uns valentes sopapos.
Que os vão levar. Limpinhos.