Crise sem fim à vista

Turismo tem sido visto como tábua de salvação nos últimos anos, mas a pandemia está a ‘ferir de morte’ este setor que é um dos principais empregadores do país e responsável pelo crescimento do PIB português.

Crise sem fim à vista

Os dados não são animadores. O Banco de Portugal (BdP) prevê uma queda do Produto Interno Bruto português (BdP) entre 3,7% num cenário base e 5,7% num cenário adverso. A taxa de desemprego vai disparar e o consumo interno vai cair a pique. Para ‘ajudar à festa’ as exportações também vão desacelerar. Se a isto, juntarmos um setor que está em ‘morte lenta’ como é o caso do turismo que tem sido a tábua de salvação nos últimos anos para o crescimento económico nacional temos o cocktail perfeito para entrarmos numa crise que não tem fim à vista.

Ainda esta semana, a  Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP)  alertou que muitas empresas poderão não ter capacidade para pagar salários devido aos atrasos nas medidas. Sobre as pequenas empresas que tiveram de fechar, João Vieira Lopes lembra que os apoios devem ser «postos em prática», porque a partir de abril «as pessoas não terão rendimentos».

Uma opinião que tem sido partilhada pela secretária-geral da AHRESP ao admitir que as medidas anunciadas até agora são muito poucas. «O problema de liquidez é visível a partir do momento em que os restaurantes foram obrigados a fechar as portas. E, tendo em conta que estamos a falar de microempresas, é natural que haja falta de tesouraria para pagar salários já daqui a uma semana», refere Ana Jacinto. 

A responsável vai mais longe e garante que as linhas de crédito anunciadas para as empresas até à data ainda não chegaram ao setor. «As empresas estão cada vez mais sufocadas e há uma necessidade urgente para que o dinheiro chegue já aos empresários do setor». 

Para já, a secretária-geral da AHRESP fala apenas da linha de apoio dada pelo Instituto de Turismo de Portugal, no valor de 60 milhões de euros, mas que não se destina apenas à restauração. Também as agências de viagem e outras empresas ligadas ao turismo podem concorrer. «O formulário é simples e acredito que neste momento já esteja esgotado».

Em causa estava a atribuição do pagamento do salário dos trabalhadores até 750 euros durante três meses, num máximo de 20 mil euros. Mas para isso não poderão ter dívidas nem à Segurança Social nem ao fisco.
Ana Jacinto lembra que as empresas estão encerradas por ordem administrativa e nem todas podem optar pela solução take-away. «Esta hipótese pode ser aplicada apenas por uma minoria. Nem todos os espaços têm condições ou clientes para conseguirem garantir esse serviço». 

Também do lado da hotelaria há críticas. A Confederação do Turismo de Portugal (CTP) «considera que as medidas que têm vindo a ser anunciadas pelo Governo para apoiar a atividade económica no combate à pandemia da Covid-19 têm de ser mais claras, simplificadas, ajustadas e de rápida operacionalização, para evitar o encerramento de empresas e a destruição de milhares de empregos, sobretudo no que se refere ao turismo». 

De acordo com Francisco Calheiros, os empresários do turismo estão a sofrer uma quebra abrupta de receitas que não lhes permite pagar, no imediato, salários, fornecedores, impostos ou créditos. «Há empresas no limiar do encerramento e outras que já fecharam as suas portas. Toda a cadeia de valor do turismo está em risco», refere.