‘April au Portugal’

Cedo se percebeu que o velho tema moral, ou o choque de culturas entre o norte protestante e o sul católico viria, novamente, ao de cima, impossibilitando uma resposta massiva, coordenada, da União Europeia como um todo. 

Estamos em agosto de 2020. Depois de uma pandemia que assola o mundo desde o início do ano, finalmente a Europa, em geral, e Portugal, em particular, voltam lenta mas seguramente a uma certa normalidade.
Portugal, que fruto da sua especialização económica nos setores do turismo e do acolhimento, no setor imobiliário, e com uma débil densidade de camas e equipamentos de cuidados intensivos, preenchia as condições teóricas para ser o mais afetado, em termos económicos e epidemiológicos, em toda a União Europeia, conseguiu recuperar mais cedo que a maioria dos países europeus!

Cedo se percebeu que o velho tema moral, ou o choque de culturas entre o norte protestante e o sul católico viria, novamente, ao de cima, impossibilitando uma resposta massiva, coordenada, da União Europeia como um todo. Suspeitas do Norte sobre a falta de preparação do Sul, uma velada suspeição de corrupção, primeiro, e logo depois, uma condenação aos hábitos de convívio social dos sulistas. A velha historieta dos frugais do Norte contra o perdulários do Sul. Ou o egoísmo mal disfarçado.

Fazendo jus a um conjunto de valores impregnados na nossa cultura judaica-cristã, os principais líderes políticos, empresariais, media e sindicatos, convergiram num amplo consenso sobre o caminho a seguir para mitigar a pandemia e a débâcle económica, pelos peritos previstas. Não poderiam contar com a ajuda incondicional dos parceiros europeus. Teriam que se desembaraçar com a alma, a coragem e a abnegação dos portugueses. E a capacidade de aprender com os outros, e jogar na antecipação.

Declarado o estado de emergência, sob a égide do primeiro-ministro e com o suporte institucional esmagador da oposição parlamentar, o Governo atacou de forma vigorosa os principais temas: baixar rapidamente a taxa de transmissão do coronavírus; assegurar rendimento aos trabalhadores e famílias; providenciar liquidez, quase ilimitada, e potencialmente grátis às micro, pequenas e médias empresas.

A ministra da Saúde mobilizou uma plenitude de recursos: chamou os estudantes finalistas de medicina e de enfermagem, requisitou todos hospitais privados, sociais e militares, colocando todos os seus recursos, materiais e humanos, sob gestão, temporária mas ilimitada, do Estado. Equipamentos foram comprados no mercado internacional e hospitais de campanha foram erguidos em pavilhões, estádios de futebol.

O ministro da Economia criou, com a ajuda do sistema bancário, uma plenitude de linhas de apoio de tesouraria, com juros muito baixos e prazos de pagamento com grandes carências temporais. A injeção desta liquidez chegou às empresas, ainda nos primeiros dias de abril, permitindo a muitas fazer face à quebra, nunca antes vista, de 50% do consumo discricionário por parte das famílias. A contrapartida deste plano de liquidez, foi a máxima preservação de postos e contratos de trabalho.

Os portugueses, sob a liderança de Marcelo e Costa, e com o suporte dos restantes líderes, respeitaram o isolamento social. Tudo foi diferente graças a Abril!

I found my April dream in Portugal with you
When we discovered romance, like we never knew
My head was in the clouds, My heart went crazy too
And madly I said: ‘I love you’.

*Paulo Gonçalves Marcos, presidente do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários