Covid-19: Cooperação e solidariedade internacional – o papel de Portugal

Na crise de covid-19, Portugal deve reivindicar a solidariedade e a cooperação na UE e pode demonstrar essa mesma atitude com os países da CPLP.

A pandemia de covid-19 alastra por todo o mundo afetando, direta ou indiretamente, todos os povos. Trata-se de uma crise global que coloca à prova a capacidade de articulação dos povos e das nações. A solidariedade e a cooperação são atitudes decisivas para enfrentar o problema e mitigar as suas consequências.

A pandemia de covid-19 não conhece fronteiras, nem etnias, nem condições económicas dos países. Trata-se de uma crise que afeta todos, indiscriminadamente. Os países, isoladamente, parecem não conseguir enfrentar o problema e as consequências são globais.

Quando escrevo este texto, na União Europeia, estão registados mais de 450.000 casos de infetados com covid-19, já morreram mais de 32.000 pessoas e as mortes causadas por covid-19, por dia, são superiores a mil.

Perante esta crise mundial com especial incidência na Europa, a União Europeia não consegue unir-se e ser solidária. Perante os apelos de apoio e de cooperação dos estados-membros mais afetados, outros países respondem com insensibilidade. Passam semanas, milhares de mortos e a Europa tarda em reagir com medidas adequadas de resposta a esta crise. É inconcebível e insuportável esta inércia que resulta em crueldade.

A União Europeia foi fundada com o objetivo de promover a paz, o bem-estar dos cidadãos, progresso e a coesão social. Entre os seus valores fundacionais estão a solidariedade e a dignidade do ser humano. São alguns dos valores e objetivos da UE que estão agora em causa.

A Europa terá, a prazo, uma crise económica e social, mas tem, já, uma crise humanitária e uma crise política. Como já afirmou (e bem) o primeiro-ministro, ou a União Europeia faz o que tem que fazer ou acaba. Trata-se, antes de tudo, de uma situação com uma dimensão moral e ética.

No momento em que Portugal é seriamente afetado pela pandemia de covid-19, não pode deixar de afirmar a defesa dos valores de solidariedade e de cooperação que, historicamente, estão inscritos na sua prática. No âmbito da União Europeia, não deve deixar de defender uma ação efetiva e urgente de apoio concertado aos países mais afetados, aliás tal como tem feito. Num contexto internacional mais alargado, Portugal pode e deve desenvolver iniciativas inspiradas na sua tradição e nos valores que defende.

A pandemia de covid-19 atinge quase todos os países. Entre estes, encontram-se os países de expressão portuguesa. Para além do Brasil, com uma situação controversa na abordagem ao problema, os restantes países da CPLP têm (com exceção de São Tomé e Príncipe) casos de covid-19 identificados.

Portugal, embora concentrado em superar a sua própria crise, não deve deixar de olhar para o problema existente nesses outros países e afirmar a solidariedade e a cooperação com esses Estados que têm sistemas de saúde frágeis, mas também situações económicas e sociais débeis e que podem beneficiar da nossa experiência, mas também de um esforço coordenado de apoio na antecipação das condições mais adequadas para enfrentar esta crise de saúde e as consequências da crise económica mundial que terá repercussões nestes países.

Na crise de covid-19, Portugal deve reivindicar a solidariedade e a cooperação na União Europeia e pode demonstrar essa mesma atitude com os países da CPLP.