Covid-19. Espanha e Itália discutem como voltar ao normal

Ambos os países parecem ter chegado ao pico do surto de covid-19. Agora, a questão é como não baixar a guarda e evitar piorar a tragédia.

O pesadelo não acabou, mas Espanha e Itália começam a ver a luz ao fundo do túnel. Esta segunda-feira houve em Espanha 637 mortes por covid-19, um número aterrador mas que, ainda assim, mantém a tendência descendente dos últimos quatro dias – na quinta-feira foram 950 mortes. Já em Itália, mais de 132 mil infeções e 16 mil mortes depois, “a curva chegou ao seu pico e começou a descer”, disse este domingo, à Reuters, Silvio Brusaferro, diretor do Instituto Superior de Saúde, em Roma. Em ambos os países, cautelosamente, começa-se a pensar no que vem a seguir. A grande pergunta é como voltar ao normal depois do desastre.

As estritas medidas de isolamento social em Itália e Espanha parecem estar a funcionar: em Espanha, permanecerão em vigor pelo menos até 26 de abril e, em Itália, até 13 de abril – a expetativa é que este período seja alargado. “Não baixem a guarda, fiquem em casa”, avisou o líder da proteção civil italiana, Angelo Boreli.

Com uma vacina para a covid-19 por desenvolver, “vêm aí meses difíceis”, avisou ao La Repubblica o ministro da Saúde italiano, Roberto Speranza. “A nossa tarefa é criar condições para viver com o vírus”, explicou.

O consenso é que isso dependerá do avanço global da epidemia – não vá haver segundas vagas, com infeções vindas do estrangeiro, como agora se teme na China e na Coreia do Sul – e terá de ter como base o grau de imunização da população, ou seja, quantas pessoas já contraíram a doença e criaram naturalmente anticorpos. Por agora, enquanto não é desenvolvida uma vacina estão a ser feitos testes de imunidade, que deverão estão disponíveis comercialmente nas próximas semanas.

“A chave é saber se esses anticorpos, de facto, protegem contra a infeção. Nós ainda não sabemos isso”, explicou à Euronews Caroline Buckee, professora na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Harvard. É que, se as defesas contra algumas doenças podem durar toda a vida, como no caso da varicela, outras duram pouco tempo, como no caso da gripe comum. 

Mesmo que estes anticorpos criem defesas, será difícil ter acesso aos milhões de testes necessários para analisar uma população. Prevê-se uma corrida aos testes mal sejam lançados no mercado: países como o Reino Unido e a Alemanha ponderam emitir certificados de imunidade, para que estes cidadãos possam voltar à vida normal.

Não que o Reino Unido esteja perto disso: ontem ultrapassou as cinco mil mortes e 50 mil infeções registadas, mas ainda não está no pico do surto, reconheceu o ministro dos Negócios Estrangeiros britânicos, Dominic Raab. 

Entretanto, o Governo espanhol vai passar a testar pessoas suspeitas de estarem infetadas, mesmo que não tenham sintomas, de maneira a despistar os casos escondidos entre a população. A escassez de testes fez com que, em cidades como Madrid ou Barcelona, apenas fossem testados profissionais de saúde e pacientes em situação grave – mas agora estão a ser fabricados 240 mil kits de teste por semana, anunciou o Governo. 

Parece certo que o regresso à normalidade não deverá ser súbito. Por exemplo, as pessoas que façam parte de grupos de risco poderão ter de ficar isoladas mais tempo.

No que toca às crianças, a situação é menos clara. “Se o vírus entrar numa escola ou jardim-de-infância, vai afetar toda a gente”, lembrou ao El País Pere Godoy, presidente da Sociedade de Epidemiologia Espanhola, que se mostrou pouco confiante que volte a haver aulas este ano letivo.

Contudo, “terá de haver algumas saídas”, acrescentou ao jornal espanhol o epidemiologista Antoni Trilla. “Crianças pequenas não podem ficar dentro de casa tanto tempo, ou vão ficar malucas e os pais também”.