Pressionado, Bolsonaro recuou e manteve ministro da Saúde

Luiz Henrique Mandetta tem defendido o isolamento social como forma de controlar o contágio do novo coronavírus, algo que não agrada ao Presidente brasileiro. Ontem, Bolsonaro preparou a sua exoneração, mas foi forçado a manter o ministro, que está com níveis de aprovação popular elevados.

O ministro da Saúde do Brasil, Luiz Herique Mandetta, vai manter-se para já no Executivo de Jair Bolsonaro, apesar de ontem a sua demissão ter sido equacionada pelo Presidente brasileiro. Apesar de Mandetta defender o isolamento social como forma de conter a covid-19, o que não agrada a Bolsonaro, foram várias as pressões feitas para que o homem que lidera a pasta da Saúde não fosse exonerado. A imprensa brasileira refere que a decisão já estava tomada e só foi travada após manifestações de bastidores de congressistas, generais de peso do Exército e juízes do Supremo Tribunal Federal. Acresce a isso o apoio popular a Mandetta nos últimos tempos. O risco de Bolsonaro perder com tal decisão era grande.

O ministro chegou mesmo a arrumar as gavetas antes da reunião de ontem à noite com Bolsonaro da qual saiu com um anúncio: "Vamos ficar". O ministro aproveitou ainda para revelar ter lido a alegoria da caverna no último fim de semana, deixando assim claro que, tal como defende o texto de Platão, acredita que só se pode sair da escuridão através do conhecimento. Muitos internautas entenderam que este foi mais um epísódio da longa troca de palavras com o Presidente.

A guerra entre o presidente do Brasil e Luiz Henrique Mandetta começou há já algum tempo com recados de parte a parte sobre o caminho que o Brasil deve seguir para controlar o novo coronavírus. Ontem o jornal brasileiro O Globo, chegou a noticiar que Bolsonaro estava a preparar a demissão de Mandetta.

O jornal, que confirmou a informação junto de fontes do Palácio do Planalto, Brasília, noticiava ainda que o deputado federal Osmar Terra (do partido MDB) era uma forte hipótese para a sucessão de Mandetta. Terra foi ministro da Cidadania até fevereiro. Também circularam rumores de que o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, poderia ser uma das opções de Bolsonaro.

Luiz Henrique Mandetta, politico e médico ortopedista, tem evitado sempre responder de forma direta às posições de Bolsonaro – que chegou já a referir-se à covid-19 como uma “gripezinha” -, assim como às suas ameaças. Na segunda-feira, ao ser questionado sobre novas ameaças públicas de demissão por parte do Presidente, Mandetta respondeu ao jornal Estadão com voz de sono: “Estou dormindo. Amanhã eu vejo, tá?”.

A resposta do ministro chegou depois de Jair Bolsonaro ter ironizado com o trabalho de Mandetta à porta do Palácio do Planalto, dizendo que “algo subiu na cabeça” de alguns seus subordinados, mas que “a hora deles vai chegar”.

"Algumas pessoas no meu governo, algo subiu a cabeça deles. Estão se achando. Eram pessoas normais, mas de repente viraram estrelas. Falam pelos cotovelos. Tem provocações. Mas a hora deles não chegou ainda não. Vai chegar a hora deles. A minha caneta funciona. Não tenho medo de usara a caneta nem pavor. E ela vai ser usada para o bem do Brasil, não é para o meu bem".

Uma sondagem do Datafolha recente mostrou que entre os eleitores de Jair Bolsonaro 82% classificaram o trabalho de Mandetta como ótimo ou bom, o que aparentemente fragiliza posição do atual presidente.

Movimento “Não Demita”

Há três dias, vários empresários de peso assinaram um manifesto no qual se mostravam solidários com as orientações da Organização Mundial de Saúde e com o Ministério da Saúde brasileiro. Sob o mote “Não demita”, retalhistas como o Grupo Pão de Açúcar e o Magazine Luiza, assim como gigantes da banca e de diversos setores apelavam aos outros empresários para não despedirem trabalhadores durante a pandemia.