Opinião: Construir o futuro resistindo ao presente: António Costa já está atrasado

O vírus continua a sua destruição, sofrimento e angústia. Ao vírus do Partido Comunista Chinês – designação cada vez mais partilhada e cada vez menos controversa à escala planetária – , temos, nós portugueses, de somar o vírus da propaganda do Partido Socialista Português.

Mesmo em tempos de incerteza, de instabilidade, em que os portugueses precisam – mais do que nunca! – de um Governo competente, disposto a dar rigorosamente tudo pelo superior interesse nacional,  centrado no essencial e desvalorizando o acessório – o Governo socialista mobilizou-se para encenar episódios lamentáveis de típicos factos de ocupação do espaço mediático.

Senão, vejamos o que sucedeu esta segunda-feira: uma multidão governamental, liderada pelo Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina (o que, só por si, já é bastante curioso), foi receber – ou mais rigorosamente: fazer que recebe, pousando para a fotografia – um carregamento de material médico…doado por empresas ligadas ao Governo chinês.

Ou seja: o Governo mobilizou-se para acolher os louros de uma iniciativa que nada tem que ver com o Governo….português! Porventura (e parece-nos ser esta a única justificação plausível) Fernando Medina e o resto dos convivas socialistas já se sentem como membros do Governo chinês – daí que tenham feito questão de assinalar os méritos do Governo a quem devem obediência de facto.

Aqueles Secretários de Estado, Ministro e futuro Ministro Medina (coitadinhos!) já não conseguem distinguir entre o Governo português socialista- e o Governo chinês comunista. Um insulto para os portugueses, em qualquer caso…

Dito isto, é confrangedor constatar que o Governo de António Costa (que já agora só aparece sozinho ou com Ministros não tóxicos, segundo palavras de um dos seus conselheiros, e nunca, por exemplo, ao lado da Ministra da Saúde – já repararam?) só vive do imediato. Para os jornais e para as reações dos comentadores.

Até em momentos de crise, o Governo de Costa vive obcecado pelo título do jornal do dia seguinte ou pela manchete dos jornais online. A gestão desta crise colocado pelo vírus do Partido Comunista Chinês é feita minuto a minuto, tentando limitar os danos de hoje, não cuidando de planear já o amanhã.

Dir-se-á que o mais relevante é vivermos minuto a minuto e rezar para que o futuro, mais ou menos longínquo, não corra tão mal quanto se espera.

Ora, isto representa, no entanto, a falência do Estado: na verdade, os complexos sistemas administrativos, as pesadas estruturas burocráticas, foram sendo erigidas ao longo dos tempos para dotar os Estados de meios e procedimentos suficientes (tanto quanto humanamente, ou tecno-humanamente, possível) para lidar com situações disruptivas. Para permitir que o Estado seja apto a lidar com crises com vários focos de irrupção (e projeção) em simultâneo.

O Estado – os aparelhos de poder públicos – não pode, por conseguinte, ser monotemático na gestão das crises. Winston Churchill – que não foi mais, seguindo o “EXPRESSO”, do que um António Costa britânico avant la lettre – não fechou o país ou dedicou o Governo, em termos absolutos, ao combate à guerra, esquecendo-se que o país precisa de continuar a funcionar para se vencer o processo de guerra…Há sempre um amanhã depois de hoje. O futuro não espera.

Posto isto, não deixa de ser, triste e incrivelmente, surpreendente que o Governo português não tenha aprendido com as melhores experiências e práticas reveladas por outros países no combate a este vírus do Partido Comunista Chinês.

 Sejamos claros: a solução de permanecer em casa – em isolamento social ou em quarentena – , deixando o país praticamente parado, não é solução que se possa prolongar por muito mais tempo. Temos que aprender com as melhores experiências e soluções.

Ora, neste momento, o problema que já se coloca é como regressar à normalidade (possível) dentro da anormalidade (inevitável).

Há dois valores e necessidades sociais que carecem de uma ponderação delicada e justo equilíbrio: a necessidade de voltar a dinamizar a sociedade sem fazer perigar, irrazoavelmente, a saúde de todos e de cada um.

Avançamos já que é impossível reduzir o risco a zero; tal como, em situações de normalidade, todos nós enfrentamos situações de risco. Ainda bem – é sinal que vivemos.

Neste sentido, soluções têm sido adotadas em países como Taiwan, Coreia do Sul ou Israel (que, mais uma vez, mostrou que é, mais do um Estado democrático, uma sociedade altamente democrática que ilumina o mundo, numa área do globo particularmente problemática), com recurso à tecnologia mais avançada ao nosso alcance, para prosseguir este fito de rápido e seguro regresso à vida.

Trata-se de recorrer a aplicações ou modelos de Inteligência Artificial para detectar clusters de possível contaminação, a partir dos dados de movimentações e contactos dos sujeitos infetados; por esta via, conseguir-se-á, em tempo real e de forma célere, identificar núcleos de sujeitos com elevado risco de contrair o vírus.

 Isto é muitíssimo relevante, na medida em que, perante uma situação (como a que vivemos) de permanentes escolhas trágicas, dotará as autoridades públicas (designadamente, de saúde) de instrumentos e meios para distribuir os meios disponíveis em função das reais necessidades.

É, ainda, uma medida de justiça: evitará que haja uma desigualdade na distribuição de recursos médicos entre as diferentes zonas do país. E, como sabemos, não há justiça que seja ineficiente; nem há ineficiência que seja justa.

A própria Comissão Europeia admitiu, na semana passada, que avançará para uma solução deste tipo, seguindo as melhores práticas internacionais.

Mais acrescentou que tal aplicação não viola nem o princípio constitucional da proporcionalidade (é adequada, necessária e proporcional para atingir os objetivos de política pública pretendidos, em momentos de elevadíssima complexidade), nem o Regulamento Geral de Proteção de Dados (o qual prevê, aliás, uma exceção motivada por imperativos de saúde pública).

No entanto, Bruxelas – os burocratas de Bruxelas e seus interesses! – quer centralizar a escolha da aplicação  e da empresa que a produz, impondo-a a todos os Estados-Membros. Agora, o mais ridículo da história: há empresas chinesas interessadas!

Portanto, Bruxelas não exclui a possibilidade de impor a Portugal uma aplicação chinesa para monitorizar os dados e os contactos dos cidadãos para efeitos de combate ao vírus…do Partido Comunista chinês! Mais uma vez, há loucura à solta em Bruxelas!

Aqui, o Governo Português tem que ser firme e absolutamente defensor dos interesses nacionais.

Donde, o nosso Governo terá, rapidamente e em força, que escolher, agilizar e pôr em prática uma aplicação deste tipo – minimizando o risco de contágio e acelerando a vida em sociedade e a economia.

Uma economia morta é uma sociedade morta – e uma sociedade morta é um aglomerado de pessoas mortas, à beira da morte ou apenas sobrevivendo, não vivendo (o que é uma forma de ir morrendo).

Precisamos de vida; o amanhã não tira férias, nem faz quarentena.

Neste sentido, o Governo Português tem que tomar em atenção dois aspetos essenciais: primeiro, a aplicação não poderá ter qualquer intervenção chinesa, por razões imperiosas de segurança nacional; segundo, a escolha da aplicação deve também contribuir para a revitalização da economia portuguesa. Portugal primeiro.

Pois bem, há uma empresa portuguesa (a PASS), constituída por jovens empreendedores e investigadores, que tem trabalhado na adaptação e execução de uma aplicação deste teor e que já está pronta para ser utilizada. Basta haver vontade política do Governo; António Costa não tem, pois, desculpa se não actuar.

Esta empresa tem, aliás, a participação e o contributo inestimável da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), sendo uma oportunidade única para estreitar os laços transatlânticos e mostrar a importância da FLAD e de Portugal no desenvolvimento de ciência e tecnologia ao serviço das pessoas e das comunidades.

António Costa tem aqui uma oportunidade para fazer bem à saúde dos portugueses, à economia nacional, no curto e médio prazo; e à ciência, investigação, inovação e à política externa nacional no médio e longo prazo.

A questão é muito simples: ou o Governo socialista de António Costa escolhe a aplicação que quer, em função do interesse nacional; ou Portugal levará com a aplicação escolhida pelos burocratas de Bruxelas, que, como já se viu, não querem saber de Portugal para nada…

As crises são complexas e dramáticas.

No entanto, se já não as podemos evitar, aproveitemo-las para um novo renascimento nacional – este não é o tempo dos estadistas de telejornal ou da manchete online; este é o tempo dos estadistas que ousam construir o amanhã, resistindo ao presente.

Precisamos da ajuda da ciência, da tecnologia e da inovação made in Portugal e reconhecida internacionalmente – para que, enfim, as pessoas ajudem a economia nacional; e a economia nacional ajude as pessoas.

É tempo de António Costa (que gosta demasiado das manchetes dos jornais e menos da História de Portugal) agir e não apenas reagir – e já vai atrasado.

P. S  – Há aí uma excitação muito grande entre os políticos e jornalistas socialistas gerada pela popularidade internacional de Costa, segundo o jornal espanhol “ABC”. Não percebemos porquê: António Costa é o político europeu mais popular para os espanhóis porque…ninguém o conhece, muito menos os leitores do “ABC”. É o equivalente, portanto, às sondagens que dão a Ministra da Cultura ou o Ministro do Ensino Superior como os mais populares – na medida em que ninguém os conhece, por exclusão de partes, os inquiridos dizem que estes são os seus Ministros preferidos…Por nós, até ficamos contentes: oxalá Costa pudesse fazer vida política em Espanha! Que bom seria que se tornasse agora Vice-Primeiro-Ministro desse estadista de alta nomeada socialista (outro!) chamado Pedro Sánchez!