Portugal acusado de armazenar excessivamente medicamentos em falta noutros países para a covid-19

Associação belga diz que Portugal armazenou excessivamente medicamentos em falta noutros países da UE para o tratamento de pacientes com covid-19.

A Affordable Medicines Europe, uma organização belga sem fins lucrativos, que se dedica fornecer informações sobre a distribuição paralela licenciada de medicamentos na Europa, diz que Portugal é um dos países da União Europeia (UE) que está a fazer um armazenamento excessivo de medicamentos essenciais ao tratamento da covid-19 e que estão em falta noutros hospitais da UE. 

“A Áustria e Portugal estão entre os países da UE que estão armazenando excessivamente [medicamentos]”  disse Kasper Ernest, secretário-geral da Affordable Medicines Europe, em declarações à Reuters.

A denúncia chegou depois de a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) alertar para o facto de alguns Estados-membros da União Europeia referirem que estavam a sofrer escassez de medicamentos usados em doentes com covid-19, ou esperarem essa escassez em breve, por causa de restrições comerciais, mas também devido ao armazenamento excessivo por parte de Governos da UE.

Em causa estão medicamentos usados em pacientes com complicações graves causadas pela covid-19 nas unidades de cuidados intensivos, como anestésicos, antibióticos ou relaxantes musculares, que auxiliam os doentes que precisam de ventiladores.

Segundo a agência, inicialmente  a UE enfrentou atrasos nas entregas causados pela interrupção do fornecimento na China e proibições comerciais na Índia, mas agora os principais obstáculos ao suprimento devem-se aos próprios Estados da UE.

"Os países estão a acumular stocks. É uma posição sensata, mas os stocks são, por vezes, demasiado grandes e isso vai impedir que outros países tenham acesso", disse Adrian van den Hoven, diretor da associação Medicamentos pela Europa, que representa a indústria dos medicamentos genéricos. O responsáve admitiu ainda que houve um país, que não identificou, que comprou a produção de um ano inteiro a um fabricante.

"Isto não é racional e não se limita a um país", considerou.

A EMA refere que "alguns Estados-membros já impuseram restrições ao número de embalagens que podem ser prescritas aos pacientes ou adquiridas pelos cidadãos" face à procura e face à suspensão de atividade nalgumas fábricas, ao aumento de problemas logísticos devido ao encerramento de fronteiras ou a bloqueios em países terceiros que fornecem medicamentos para a UE.