A globalização vai abrandar?

É um facto histórico que as civilizações saturam, caem e são dominadas por outras. 

A EVOLUÇÃO do bem-estar mundial vs. globalização apontava já para uma quebra, mesmo antes do efeito coronavírus. A previsão de um consultor, representada no gráfico junto sobre os ciclos económicos e geopolíticos – https://www.eurasiagroup.net/files/upload/Top_Risks_2020_Report_1.pdf – mostra isso. Portanto, este “adicional” chega em muito má altura.

A globalização acarretou os seus contratempos, mas criou um crescimento extraordinário de riqueza e oportunidades. A crise China-EUA fraccionou-a, e os ciclos económicos e geopolíticos também apresentam sinais de quebra. Muito parece resultar do unilateralismo americano, papel de uma Rússia em declínio e de uma China que, ao contrário da sua tradição milenar, procura consolidar-se no exterior, como ainda do peso económico das ações para redução do possível impacto de alterações climáticas.

Sempre fui de tendência otimista, na linha do interessante livro FACTFULNESS – Ten Reasons We’re Wrong About the World and Why Things Are Better Than You Think do médico sueco Hans Rosling, falecido em 2017 (existe edição portuguesa e é pena que não esteja entre nós, pois era especialista em saúde pública e um grande comunicador).

É um facto histórico que as civilizações saturam, caem e são dominadas por outras. A nossa corre este risco mas, tal como o efeito de difusão na física, libertadas as forças da globalização esta já não mais poderá ser acantonada como dantes. Antevejo um abrandamento da globalização, pelo acelerar do reajustamento das cadeias internacionais de produção. Contudo, a difusão de ideias é difícil de parar num mundo teleconetado e, logo que haja vacina e medicação adequada para o coronavírus, tal como ocorreu com o já esquecido desastre da SIDA, as pessoas vão continuar a querer deslocar-se sem fronteiras.

Nas sociedades humanas os efeitos dos fenómenos pacíficos de difusão são lentos mas acabam, cada vez mais, por exercer uma pressão uniformizadora, pelo menos ao nível macro. As próximas eleições americanas vão repor o caminho geopolítico anterior? A crise económica é ultrapassada em dois anos?

Dr. J. Alberto Allen Lima