Se abrandarmos as medidas, curva pode voltar a subir, alerta DGS

Os números têm mostrado alguma estabilidade, mas Graça Freitas voltou ontem a dizer que não é tempo de relaxar. Apesar de relatos de escassez, Governo insiste que testes não estão em falta.

Portugal pode ter atingido o pico da epidemia, mas ainda é preciso esperar mais uns dias para que a informação seja confirmada – a explicação foi dada esta quarta-feira por Graça Freitas durante a habitual conferência diária. A diretora-geral da Saúde admitiu que “tem havido uma estabilidade” no aumento do número de casos de covid-19, que esta quarta-feira teve uma subida de 5,7% – passando de 12 442 para 13 141. Também o número de casos recuperados aumentou, passando para 196. Em percentagem, registou-se um aumento de 6,6%.

No entanto, esta estabilidade “não é um dado garantido”. Tal como já tinha explicado na semana passada, Graça Freitas voltou a sublinhar que só é possível perceber se o pico foi ultrapassado quando a curva epidemiológica começar a descer.

Apesar do abrandamento, é importante perceber que o novo coronavírus não é semelhante a uma gripe e, se as medidas tomadas até agora deixarem de ser cumpridas, é possível que Portugal assista a “um segundo pico ou planalto e uma segunda ou terceira onda”, explicou Graça Freitas. E acrescentou: “Temos de olhar para estes dados com muita cautela e precaução. Se abrandarmos as medidas que levaram ao abrandamento da curva, pode voltar a subir. Apesar de tudo, reconhecemos que tem havido uma estabilidade”.

A propósito do cumprimento das medidas impostas pelo estado de emergência, ontem foram várias as pessoas que em Moscavide e em Vila Nova de Famalicão a circular nas ruas e a ignorar o isolamento social. De acordo com os relatos, o cenário repete-se todos os dias. O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, no entanto, referiu que as “imagens de Famalicão são pontuais e tinham a ver com desvio de trânsito”.

De acordo com os dados do ministério da Administração Interna, entre o dia 3 de abril e as 17h desta quarta-feira, foram detidas 50 pessoas por desobediência – e 17 pessoas entre as 17h de terça-feira e as 17h de quarta-feira. Durante o mesmo período, foram encerrados 30 estabelecimentos.

Zona Centro com mais mortes Os números divulgados esta quarta-feira apontam para o segundo pior dia da pandemia no que diz respeito ao número de mortes – 35 pessoas. E é a região Centro do país que tem registado uma maior taxa de letalidade – tem menos casos do que o Porto ou Lisboa mas, proporcionalmente, regista mais vítimas mortais. A taxa de letalidade nacional está nos 2,9% e na zona Centro fixa-se nos 5,1%. Tendo em conta o boletim divulgado pela Direção-Geral da Saúde esta quarta-feira, já morreram 96 pessoas e 1865 pessoas estão infetadas. Na região de Lisboa e Vale do Tejo, onde se registaram 3424 casos, o número de mortes é de 68. Já no Norte, há mais de sete mil infetados e morreram 208 pessoas.

Médicos pedem mais dados Apesar dos sinais positivos, médicos e investigadores têm vindo a pedir à Direção-Geral da Saúde que disponibilize mais informação para se perceber melhor a trajetória da epidemia no país. Filipe Froes, pneumologista e um dos responsáveis do gabinete de crise criado na Ordem dos Médicos para lidar com a epidemia, defendeu ao i que é necessário aprofundar a informação disponível e obter mais dados clínicos epidemiológicos para perceber a trajetória da epidemia no país e a pressão sobre o sistema de saúde. O médico defende que deveriam ser disponibilizados dados como o número total de doentes internados desde o início da epidemia e não apenas os que estão internados à data, assim como os movimentos diários de internamento/alta e de entrada e saída de unidades de cuidados intensivos e os motivos (se por óbito, se por melhoria do estado de saúde). A informação é crítica numa altura em que os casos confirmados têm apresentado uma tendência decrescente mas é importante perceber as outras curvas e se é preciso adaptar a resposta. Ontem, por exemplo, diminuiu pela primeira vez o número de doentes internados em Cuidados Intensivos, mas dado nas 48 horas anteriores terem falecido 69 doentes no país, o facto de se ter passado de 270 para 245 doentes internados em UCI pode significar que o número de doentes internados em UCI continua a crescer na casa dos dois dígitos. “É expectável que as diferentes curvas da epidemia não evoluam de forma sobreponível pela natureza da doença, mas é importante que possamos olhar para todos estes indicadores e não apenas para um”, diz Filipe Froes. Ter a indicação do total de doentes que precisaram de internamento e cuidados intensivos desde o início da epidemia permitiria também saber se está a concretizar-se a expectativa inicial usada para planear a resposta dos serviços, segundo a qual 80% dos doentes não precisariam de ficar hospitalizados, 15% teriam de ser internados e, destes, 5% precisariam de cuidados intensivos.

Não faltam testes para já Desde o dia 1 de março, foram feitos mais de 130 mil testes. Os dados foram avançados esta quarta-feira pelo secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, que aproveitou a conferência diária para explicar que em Portugal não faltam testes de diagnóstico. O maior obstáculo, neste momento, é conseguir o reagente de extração necessário para realizar os testes. “Não temos falta de testes e não temos falta de zaragatoas”, garantiu António Lacerda Lopes.

A tutela adiantou ainda que a distribuição dos materiais – sejam testes, ventiladores, ou materiais de proteção – está a ser feita “de acordo com a chegada do equipamento e a necessidade do mesmo, atendendo aos critérios técnicos estabelecidos”. Na semana passada, por exemplo, chegaram à região Norte do país 65 mil testes. “Continuamos empenhados em fazer o máximo de testes da nossa capacidade, que são os 11 mil testes diários. Procuramos que os materiais cheguem aos locais que mais precisam a cada momento e de forma equitativa”, disse, acrescentando que esse esforço inclui “equipamentos de proteção individuais, ventiladores ou outros materiais e equipamentos necessários ao combate à pandemia”.