Inquérito revela que portugueses acreditam que contrair coronavírus “só acontece aos outros”

87% dos inquiridos que consideram ter um risco moderado de contrair covid-19 consideram ainda que o risco para a saúde da população é maior do que o seu risco.

Inquérito revela que portugueses acreditam que contrair coronavírus “só acontece aos outros”

Um inquérito da Escola Nacional de Saúde Pública, da Universidade Nova de Lisboa, concluiu que há portugueses que acreditam que contrair coronavírus só acontece aos outros. Segundo os dados, resultantes de 157.972 questionários, e revelados esta quinta-feira, 87% dos inquiridos que consideram ter um risco moderado de contrair covid-19 consideram ainda que o risco para a saúde da população é maior do que o seu risco.

Segundo o inquérito, 35% dos inquiridos consideram que tem um risco baixo ou nulo de contrair covid-19. Contudo, mais de 80% entendem que o risco para a saúde da população é elevado.

Em declarações à agência Lusa, Sónia Dias, coordenadora científica do questionário, referiu que os dados são espelho da situação comum de se pensar que "só acontece aos outros", embora pareça haver uma avaliação correta do risco.

Quase metade dos inquiridos, 44,4%, percecionam ter um risco moderado de contrair covid-19 e 21% consideram ter risco elevado.

"De entre as pessoas que se consideram em risco moderado, aproximadamente 87% consideram que o risco para a saúde da população é maior do que o seu risco. Mesmo nas pessoas que sentem que têm um risco baixo ou nulo de contrair covid-19, mais de 80% consideram que o risco para a saúde da população é elevado", referem os resultados.

Os dados mostram ainda que quanto mais elevada a idade, maior a perceção de risco elevado de contrair a covid-19. Essa perceção é maior no centro e norte do país.

Aqueles que consideram ter maior risco de contrair covid-19 são maioritariamente pessoas que fazem parte de grupos profissionais de maior risco, nomeadamente profissionais de saúde, forças de segurança, ou aqueles que moram com essas pessoas. Contudo, segundo a coordenadora, “pode haver pouca consciência do risco” neste grupo de profissionais de maior risco, uma vez 14,5% destas pessoas consideram ter um risco baixo ou nulo de ser infetado.

"Há um conhecimento relativamente bom dos fatores de risco associados à covid-19, com a grande maioria a estar a usar fontes de informação credíveis, deixando as redes sociais ‘mais para o convívio’”, disse Sónia Dias à agência noticiosa, realçando que “parece haver uma relação entre o nível de confiança nas autoridades de saúde e governamentais e a perceção de risco de contrair covid-19".

A análise, que faz parte do barómetro covid-19, da Escola Nacional de Saúde Pública, da Universidade Nova, mostra ainda que são as pessoas que se sentem pouco ou nada confiantes na capacidade de resposta do Governo à pandemia que percecionam maior risco de contrair covid-19.

Fazem parte da equipa investigadores, médicos de Saúde Pública, epidemiologistas, estatísticos, economistas, sociólogos e psicólogos.