Como era a telescola de antigamente?

Regime de aulas lecionadas através da televisão vai regressar ao ensino básico a partir do dia 20 de abril.

O regresso à telescola vai mesmo acontecer no ensino básico. Os tempos são outros, e as circunstâncias totalmente diferentes, mas as aulas através da televisão vão voltar a Portugal, depois de, nos anos 70, 80 e 90, ter sido também implementado este regime. Vindo de África em 1973, Miguel Peixe Dias é um dos portugueses que estudaram com o olhar atento ao ecrã, na altura, a preto e branco. Ao SOL, o designer gráfico contou que foram momentos complicados, principalmente por ter chegado a Portugal com pouca informação sobre o ensino. 

«Fiz a quarta classe cá e, depois do 25 de Abril, a minha família foi separada. Fui viver para casa dos meus tios, em 1975, em Santa Eulália, perto de Elvas. Vivi com eles durante um ano e nessa altura tive aulas no regime de telescola. Cheguei a Portugal pouco informado. Foi um fosso cultural muito grande. Tinha aulas normais, ia para uma sala de aulas, com 20 alunos. Havia uma jovem monitora, de cerca de 20 anos, que nos acompanhava, mas as aulas eram dadas através da televisão. Depois das aulas eram distribuídas fichas e questionários pela monitora», sublinhou, mostrando-se, no entanto, preocupado com o regime atual de telescola, uma vez que os alunos terão as aulas nas suas próprias casas. «Como pai de dois filhos, um de 14 anos e outra de 16, tenho de fazer de mestre-escola. Sou ‘bombardeado’ com as fichas do meu filho», critica Miguel.

Mas há quem veja o lado positivo. José Madrinha, militar na reserva, teve aulas neste regime em 1973 e 1974, em Abrantes, e diz que esta é uma boa opção: «É uma forma de os jovens darem continuidade aos estudos. Também é bom por uma questão de segurança, não há contacto direto entre alunos e professores, por isso. Desde que haja vontade, considero muito positivo». 

José tinha aulas da parte da tarde, entre as 14 e as 19 horas, com intervalos de dez minutos. «Os estúdios estavam situados no Monte da Virgem, em Vila Nova de Gaia. Cada turma, com cerca de 20 alunos, tinha um professor, que distribuía fichas, e no final do ano letivo fazíamos um livro», recordou.