Crise no mercado laboral

Teletrabalho e layoff são as palavras mais ouvidas quando se fala atualmente do mercado de trabalho. Mais de 640 mil trabalhadores já estão abrangidos por este regime, mas o desafio será ainda maior quando as empresas pretenderem retomar a sua atividade. Aí, o cenário será desanimador e muitas vão fechar portas.  

O mercado de trabalho foi obrigado a mudar com a pandemia provocada pela covid-19. Se, para algumas empresas, a solução foi colocar os trabalhadores em teletrabalho, para outras, o recurso ao layoff simplificado (suspensão temporária da atividade) tornou-se imperativo. E isso é visível pelos anúncios diários e a conta-gotas a quem recorre a este regime. 

Os números falam por si: as empresas que aderirem ao layoff simplificado conseguem ter uma redução de custos de quase 84% por cada trabalhador que receba uma remuneração-base de 1000 euros brutos, segundo as simulações feitas pela Deloitte.

Pelas contas do Governo, haverá em breve um milhão de trabalhadores nesta situação e os encargos rondarão os mil milhões de euros mensais. Para já, chegaram quase 40 mil pedidos de layoff, o que corresponde a um universo potencial de 640 mil trabalhadores e a uma massa salarial de 655 milhões de euros por mês. 

A maioria das empresas candidatas ao apoio laboram nas áreas de alojamento e restauração, reparação de veículos e indústrias transformadoras, especifica-se no documento, que refere ainda que a maior parte dos pedidos surge de microempresas, com dez ou menos trabalhadores (cerca de 74%), e de pequenas empresas, com menos de 50 trabalhadores (cerca de 20%).

Tendo em conta as zonas geográficas, a maioria dos pedidos surge em Lisboa e Porto que, juntos, somam quase 14 mil, dividindo-se os restantes por Braga, Aveiro e Faro. Estes foram alguns dos dados partilhados pelo Ministério do Trabalho e da Segurança Social com os parceiros sociais e são relativos aos pedidos entrados até 7 de abril. Os dados revelam ainda que cerca de 117 mil trabalhadores independentes já comunicaram a redução da atividade.

A verdade é que as regras são apertadas para quem pretender aderir a este regime: ele abrange as empresas que encerraram ou suspenderam parte da atividade devido às ordens das autoridades durante o estado de emergência, assim como aquelas que foram impactadas por disrupção no abastecimento ou quebra de encomendas e as que registam quebras de faturação mínimas de 40% no mês anterior ao pedido.

Mas se, durante esta fase, as empresas poderão respirar um pouco de alívio face à redução da despesa com a folha salarial, o desafio será depois, quando pretenderem reabrir a sua atividade. E os dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) não são animadores, estimando que a pandemia de covid-19 vai fazer «desaparecer» 7,8% das horas de trabalho na Europa até ao final do segundo trimestre de 2020. No total, o novo coronavírus vai afetar o equivalente a cerca de 12 milhões de empregos.

A OIT identifica o alojamento e restauração, manufatura, comércio e atividades comerciais e administrativas como os setores mais afetados pela crise, e reforça que todos os níveis de rendimento vão sofrer «enormes perdas».

Portugal não fica alheio a esta tendência e a perspetiva não é animadora. Tiago Cardoso, analista da Infinox, acredita que a maioria das empresas portuguesas que recorreram a layoff não irão voltar a abrir portas e deverão avançar, mais tarde, para a insolvência. A opinião é partilhada por Luís Duque ao admitir que «a recuperação irá ser muito lenta nas empresas portuguesas, e mesmo os trabalhadores que estão atualmente em layoff irão mais tarde para o Fundo de Desemprego». 

Um cenário bem diferente verifica-se noutros países, como é o caso dos Estados Unidos, onde dez milhões perderam o emprego no espaço de duas semanas, o que já foi considerado por alguns economistas como um verdadeiro tsunami no mercado laboral. Feitas as contas, o número de novos desempregados nos EUA equivale a toda a população de Portugal. O primeiro recorde já tinha sido batido na semana anterior, com 3,2 milhões de novos pedidos de subsídio.

Mas, ao contrário do que se verifica em Portugal, «muitos trabalhadores norte-americanos que agora se sentem desprotegidos rapidamente irão voltar ao mercado de trabalho, assim que a economia se sentir a recuperar», diz João Duque.