Covid-19. Mais um dia de crescimento de casos controlado na Suécia do sul

Portugal é visto como um exemplo noutros países e o crescimento controlado do número de casos vem reforçar o sucesso das medidas, mas o Governo insiste que “a expectativa de regresso à normalidade” terá de ser temperada até à descoberta da vacina.

Covid-19. Mais um dia de crescimento de casos controlado na Suécia do sul

O crescimento moderado do número de novos casos faz com que Portugal esteja a ser citado na imprensa internacional como um exemplo, mas Governo e especialistas continuam a pedir cautela. O país acordou neste Domingo de Páscoa com a notícia de 504 mortos (mais 34 do que no sábado) e 16 585 infetados (um aumento de 598 casos). Os números são animadores, mas a ministra da Saúde deixou o aviso: “A expetativa de regressar à normalidade terá de ser sempre temperada até à descoberta da vacina por medidas de restrição, de contenção e de prevenção que não podemos […] eliminar por completo”.
Marta Temido lembrou ainda que no contexto europeu é preciso ter em conta não só a situação nacional, mas também a de outros países, deixando claro que Portugal está longe de ter vencido a guerra contra a covid-19. Fazendo uma referência a outros países – “que optaram por visões muito radicais, ou de deixar tudo aberto ou de fechar tudo”, e que “não tiveram tão bons resultados” –, Marta Temido frisou que o Executivo português tem tentado uma resposta adequada e equilibrada. Ainda que não esconda o risco de se estarem a tomar decisões para combater a contaminação por um inimigo desconhecido.

Os números animadores e os desfasamentos enganadores

Portugal viu hoje o número de mortes fixar-se nas 504, o que corresponde a um aumento de 7,2% face aos números de sábado. Já o aumento do número de novos infetados foi de 3,7% – do total de 16 585, 1117 estavam hospitalizados (destes, 228 em unidades de cuidados intensivos, o que representa um decréscimo). Quanto às boas notícias, o boletim da Direção-Geral da Saúde deste sábado dava conta de 277 doentes recuperados.
Em Portugal, a taxa de mortalidade situa-se agora ligeiramente acima dos 3%, disparando nas faixas etárias superiores a 70 anos: aí é superior a 10%.
Lisboa continua a liderar com 890 casos, segundo o boletim hoje divulgado, seguindo-se o concelho do Porto com 885. No que toca às unidades de cuidados continuados, revelou Marta Temido, apenas em 21 (a rede nacional conta com 930) se registaram casos (90 doentes confirmados), havendo já nove mortes.
A tendência é, assim, de um crescimento moderado do número de novos casos identificados e de mortes, havendo inclusivamente uma explicação para o pico de novos infetados (mais 1516 doentes) que constava no boletim da última sexta-feira: tratou-se de um desfasamento no tempo. Ou seja, os dados contemplavam casos antigos que ainda não haviam sido incorporados em nenhum boletim.
“Como não houve nem 1000 nem 1500 amostras positivas nos últimos dias, estávamos perante algo que indiciava ser um pico de notificações de casos confirmados e que não estariam, até ontem, notificados no Sinave médico”, explicou a ministra ontem. E acrescentou: “O facto de o resultado laboratorial estar confirmado na vertente laboratorial não quer dizer que [a informação] já tenha sido integrada na vertente médica, e isto pode traduzir alguma flutuação daquilo que são os nossos números”. 
Na conferência de imprensa de hoje, Marta Temido assegurou que em Portugal se realizam 9100 testes, em média, por cada dia – e que o dia em que se fizeram mais testes foi quinta-feira passada (perto de 11 900 testes realizados). Destes, apenas 8% deram positivo.

Não há tendência de propagação, diz DGS: “Há é focos”

Também hoje, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, explicou que não é possível falar numa tendência nítida de propagação pelas diversas regiões do território nacional, adiantando que o que existem atualmente são focos. “Não há uma unidade territorial que mostre que há bandas do país atingidas. Há é focos, e esses focos vão aparecendo e vão sendo controlados”, disse, alertando que nenhum local do país está livre de se tornar ele próprio um foco.
Este fim de semana chegaram dois voos com material: um avião fretado pelo Estado para trazer material médico da China, correspondente a doações. A bordo desse Airbus A330-941, fretado à TAP, vinham 700 mil máscaras de proteção respiratória, viseiras e luvas – material que será agora distribuído pelas diversas unidades de saúde públicas. Também nas últimas horas chegou a Portugal outro avião com mais testes, anunciou hoje Marta Temido. “Recebemos um voo com mais 900 mil testes de diagnóstico e 220 mil zaragatoas. Não recebemos ainda os kits de extração, também necessários à realização dos testes, um dos componentes essenciais à realização dos testes”, revelou a ministra da Saúde, dizendo esperar que a entrega seja feita ainda esta semana. Mas não só os kits vindos da China estão em falta. A entrega dos 508 ventiladores adquiridos à China está também atrasada.

Os suecos do sul com mais sucesso do que os do norte
O jornal espanhol El País publicou este fim de semana um longo artigo no qual desenterrou a expressão de Marcelo Rebelo de Sousa de 2017 para explicar o sucesso diplomático de Portugal, na sequência da escolha de Mário Centeno para liderar o Eurogrupo: “Somos os nórdicos do séc. xxi porque temos essa vocação de dialogar com países muito diferentes”.
Mas o artigo, com o título “Portugal, os suecos do sul”, vai mais longe ainda e diz que, com menos recursos, o país está a fazer mais e melhor do que os nórdicos, graças às suas previsões, planos de controlo atempados e união política.
“No momento, os dados lusos são muito mais encorajadores do que os de França, Reino Unido, Alemanha, Holanda, Bélgica ou Suíça, considerados exemplos da suposta efetividade, disciplina e racionalidade do norte da Europa”. Mais, lembra o diário daquele país, Portugal tem metade das mortes da Suécia e muito a ensinar ao norte da Europa. “Portugal está a fazer melhor do que muitos países, embora a situação não seja ideal”, termina, dando conta do que os médicos e especialistas têm referido sobre a falta de planeamento para os lares e de material no Serviço Nacional de Saúde, incluindo testes.