Depois de vários apelos, a DGS passa a recomendar uso de máscaras em espaços fechados

Depois de vários apelos, a DGS passou ontem a recomendar uso de máscaras em espaços fechados.

Apanha transportes públicos para ir para o trabalho? Vai sair para ir ao supermercado? Deve manter todos os cuidados, como a distância de segurança e lavagem frequente das mãos, e a partir de agora a orientação nacional passa a ser também utilizar uma máscara em locais fechados com maior concentração de pessoas, o que deverá também abranger os funcionários destes espaços, que até aqui trabalhavam sem máscara, por exemplo em hipermercados.

Depois de vários apelos da comunidade médica nacional, a Direção Geral da Saúde reviu esta segunda-feira a norma sobre o uso de máscaras na comunidade, passando a admitir o seu uso por todas as pessoas que permaneçam em espaços interiores fechados com múltiplas pessoas, como medida de proteção adicional ao distanciamento social, à higiene das mãos e à etiqueta respiratória. Durante o briefing diário, a ministra da Saúde anunciou a revisão da norma, explicando, no entanto, que as máscaras cirúrgicas devem continuar a ser usadas sobretudo por profissionais de saúde e doentes, estando em causa o uso daquilo a que o Governo chamou “máscaras sociais”, que poderão ser fabricadas a partir de tecido. Nos próximos dias, anunciou também o Ministério da Saúde, serão dadas especificações técnicas que poderão ser usadas pelo setor têxtil para o fabrico destas máscaras, setor já se tinha mostrado disponível. A DGS e o INFARMED, em conjunto com a ASAE, o IPQ e o CITEVE e diversos peritos estão agora a concluir a definição das especificações técnicas das máscaras não cirúrgicas, comunitárias ou de uso solidário e os seus mecanismos de certificação, revelou a DGS. Estas máscaras deverão também fazer parte das medidas a adotar quando se passar para uma fase de levantamento do confinamento em casa. A ideia foi deixada ontem por Marta Temido, que disse que a medida está a ser posta em marcha para que o setor possa desenvolver estes recursos.

Na norma da DGS, que para já não avança com instruções para o fabrico de máscara, a autoridade nacional de saúde recorda que até aqui o uso de máscara cirúrgica estava recomendado a profissionais de saúde, pessoas com sintomas respiratórios e pessoas que circulem e entrem em instituições de saúde, bem como idosos com mais de 65 anos, doentes crónicos ou imunossuprimidos, sempre que tenham de sair de casa. Agora, o argumento para alargar o uso de máscaras prende-se com a evidência de que mesmo pessoas sem sintomas podem transmitir a doença, o apelo que vinha sendo feito pelo Conselho Nacional de Escolas Médicas, ordem, sindicatos e associações, que lançaram o movimento Máscara Para Todos e defendiam uma mudança de posição da DGS. Já na semana passada, a Organização Mundial de Saúde e o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças passaram a admitir o uso de máscaras pela população em espaços fechados, embora não tenham feito uma recomendação generalizada, alertando sobretudo para a importância de evitar que faltem equipamentos de proteção na linha da frente de resposta e que as máscaras não são uma bala mágica para a pandemia.

Princípio de precaução volta a pesar “Sabe-se hoje que um indivíduo infetado é transmissor do vírus desde dois dias antes do início de sintomas, sendo a carga viral elevada na fase precoce da doença e diferentes estudos estimam várias e muito díspares percentagens de indivíduos assintomáticos com capacidade de transmitir a infeção”, lê-se na norma da DGS, que salienta que a eficácia do uso generalizado de máscaras não está provado mas, perante uma doença nova, deve ser considerado pelo “princípio de precaução” em saúde pública. Regressa-se assim ao argumento invocado pelo Governo aquando do fecho preventivo das escolas, na altura também defendido pela comunidade médica contra a posição inicial do Conselho Nacional de Saúde Pública. “A utilização de máscaras pela população é um ato de altruísmo, já que quem a utiliza não fica mais protegido, contribuindo, isso sim, para a proteção das outras pessoas, quando utilizada como medida de proteção adicional”, reforça a DGS.

Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública e membro da coordenação científica do movimento Máscara Para Todos, considera positiva a revisão da norma da DGS, salientando no entanto que esta medida, que pode ajudar a diminuir a propagação do vírus por pessoas sem sintomas, deve ser vista nesta fase como complementar às anteriores recomendações e não uma alternativa. “Importa agora que as pessoas percebam que esta medida não reduz nem substitui as outras: a utilização da máscara não é para permitir fazer coisas que não se faziam antes. É para que as pessoas possam fazer o que já faziam, ir trabalhar, ir ao supermercado ou à farmácia, protegendo-se a si e sobretudo aos outros”.

Mexia sublinha também a necessidade de deixar as máscaras cirúrgicas para as pessoas mais expostas e vulneráveis e admite que, numa próxima fase, poderão fazer parte das medidas para reabertura de alguns setores. O movimento vai divulgar nos próximos dias vídeos e moldes para o fabrico caseiro de máscaras a partir de materiais comuns, como algodão, por exemplo de uma t-shirt. Devem existir alguns cuidados tanto na confeção como no manuseamento. “Não queremos que as pessoas pensem que basta atar um pano à volta da cabeça. As máscaras devem ter uma bolsa onde seja possível colocar um filtro, por exemplo duas folhas de papel de cozinha ou um lenço, que pode ser substituído e o tecido lavado. Sabemos que estas máscaras não terão o mesmo nível de proteção das máscaras cirúrgicas mas o objetivo é que se aproximem o máximo possível”, diz o médico.